Você aí pediu chuva? Então toma!
São Pedro caprichou no pedido que era para ninguém reclamar. Mas reclamamos mesmo assim. Reclamamos da direção de prova, que optou por uma largada lançada devido às péssimas condições da pista. Não havia a menor possibilidade de haver corrida e, ao invés de chamar o grid para os boxes, o sr. Charles Whiting preferiu deixar os pilotos dando voltas e mais voltas em fila indiana, e lá se foi mais de 25% da prova.
Nesse meio tempo, as Ferraris visitaram os pits duas vezes cada uma. A primeira foi para trocar os pneus, porque a equipe recebeu a ameaça de tomar bandeira preta caso não calçasse seus pilotos com compostos de chuva intensa; os intermediários definitivamente não davam conta do recado. A segunda foi apenas para reabastecer, mas já não tinham mais o que perder, já que estavam no fim do grid.
Como se não bastasse, Felipe Massa ainda ultrapassou com Safety Car na pista, e teria que cumprir a passagem obrigatória dentro dos boxes assim que fosse dada a largada, fato esse que ocorreu na 19ª volta.
Fernando Alonso bem que tentou, mas Lewis Hamilton manteve a liderança e foi abrindo vantagem.
Já na primeira curva tivemos duas batidas. Uma com Button forçando por dentro e tocando de leve na traseira de Nick Heidfeld, que quase rodou, mas conseguiu segurar e voltar algumas poucas posições atrás. A outra colisão foi semelhante à de Liuzzi em Nurburgring, porém, ao invés de atingir o trator, a vítima da vez foi o Massa. O protagonista da lambança se chama Alex Wurx. O austríaco escapou ainda na reta, saiu batendo no muro e deslizando na grama, até atingir a Ferrari do Felipe, que contornava a curva inocentemente. O carro do brasileiro não sofreu sérios danos, enquanto a Williams já se desmanchara antes mesmo da colisão com o F2007. Era o primeiro abandono.
Sebastian Vettel e Mark Webber completaram a volta em terceiro e quarto, respectivamente, de onde não sairiam tão cedo.
As Ferraris vieram lá de trás ganhando posição por posição, se misturando com tantas outras brigas que tivemos durante a prova. Numa delas, Felipe Massa desviou para não bater no Barrichello, pois assim que se aproximou do conterrâneo, Sakon Yamamoto antecipou sua freada, obrigando os brasileiros a se virarem para impedir o choque. O ferrerista teve de apelar para a área de escape, atrasando ainda mais sua corrida.
Alonso parou antes do Hamilton e escapou na volta de retorno à pista, perdendo bastante tempo em relação ao rival. O inglês, quando voltou dos boxes, recebeu um toque desnecessário do polonês Robert Kubica, que não soube evitar a batida. A direção de prova, temendo o comprometimento da disputa pelo título, não hesitou em punir o piloto da BMW com um drive-through.
Sebastian Vettel assumiu a liderança, surpreendendo a todos ao mostrar que conquistou uma ótima posição de largada com tanque cheio. Por ter parado antes do Webber, voltou atrás do australiano, que por sua vez também experimentou o gostinho de ser líder.
As McLarens, de tão pesadas, começaram a andar lento e tomar ultrapassagens. Destaque para o Alonso, que não aceitou fácil perder a posição para o Sebastian e o imprensou na curva, mas acabou levando a pior. O espanhol rodou, enquanto o alemão seguiu em frente. O bicampeão chegou a ficar atrás do Raikkonen, mas à medida em que o nível de combustível ia baixando, o desempenho melhorava, dando início ao processo de recuperação.
Após o 41º giro, veio o grande momento: Fernando Alonso aquaplanou e bateu forte no guard-rail, abandonando a prova. Os destroços no local obrigaram a entrada do safety car, com Hamilton novamente em primeiro, morrendo de rir.
Enquanto o carro de segurança dava seus passeios pela pista, a TV se atrapalhava na transmissão e acabou não mostrando o lamentável acidente envolvendo o piloto da Red Bull e o da Toro Rosso. Ao aquecer os pneus, Webber foi atingido por trás pelo novato. Mark estacionou por ali, arremeçou seu volante tão longe quanto pôde, explicitando sua indignação após uma corrida fantástica que tinha tudo para dar em pódio. O alemãozinho, por sua vez, ainda levou seu STR2 para os boxes e, após descer do carro, ainda escondido debaixo do capacete, não conseguiu segurar o choro. Era a corrida de sua vida indo por água abaixo, um terceiro lugar seria o momento de glória que lhe escapou por um erro puramente infantil.
Kovalainen herdou a segunda posição, e Felipe Massa ascendeu ao terceiro posto, porém devendo um pit stop.
Com a relargada, Kimi Raikkonen imprimiu um ritmo forte e partiu para cima de Fisichella e Coulthard, passando os dois. Nos intantes finais, travou um duro duelo com seu conterrâneo da Renault, mas os erros do homem de gelo não ajudaram na tentativa de ganhar a vice-liderança. Heikki resisitiu às investidas de Kimi, guiou com estilo, não falhou na defesa de posição e conseguiu se manter em segundo até o final, conquistando um resultado merecidíssimo.
Massa parou e voltou atrás do Kubica, cujo companheiro teve a infelicidade de abandonar a duas voltas do fim.
Na última volta, tivemos o duelo mais impressionante da prova, quiçá do campeonato, talvez até mesmo dos últimos anos, como bem disse o Reginaldo. Felipe Massa, deu o sangue pela sexta posição de Robert Kubica, mas o polonês não colaborou nem um pouquinho, muito pelo contrário, vendeu caro demais. Foi uma briga roda a roda, uma curva atrás da outra, teve roda na grama, teve Massa imprensando Kubica, teve xis, teve Kubica imprensando Massa, teve toque, teve de tudo. Por fim, o brasileiro levou a melhor, o polonês foi obrigado a se contentar com um sétimo lugar.
Lewis Hamilton venceu e colocou uma mão na taça. 12 pontos o separam de Alonso e o inglês promete ser campeão em seu ano de estréia. Kovalainen terminou em segundo, conquistando o primeiro pódio da Renault neste ano. Raikkonen fez uma grande corrida e, por fim, retornou à sua posição de largada, 3º. Coulthard foi constante e paciente durante a prova, herdou o quarto lugar fazendo valer sua regularidade e experiência. Fisichella, 4º colocado, idem. Massa enfrentou um princípio de corrida muito ruim, mas no finzinho trouxe a sexta posição no braço. Robert Kubica merece os méritos pela agressividade no confronto com o Felipe, protagonizando o momento altamente emocionante do domingo. Fechando o grupo dos oito melhores, Vitantonio Liuzzi marcou o primeiro pontinho de sua equipe na tabela.
O lugar dos bobos sobrou para Adrian Sutil, superando as Honda de Barrichello e Button. Rubinho ainda ameaçou pontuar, mas sua parada nas voltas finais arruinaram o fim de semana; é o que faz é a falta de estrategista competente no time. Yamamoto chegou ao fim da prova, seguido por Jarno Trulli, último colocado na pista pertencente à Toyota.
O campeonato chega à China com 107 pontos para Hamilton, 95 para Alonso, 90 para Raikkonen e 80 para Massa. O fenômeno britânico pode garantir o título já na próxima etapa, daqui a uma semana, mas a probabilidade maior é que tudo se decida no Brasil, dia 21 de outubro, a data que deve definir o resultado da temporada mais disputada dos últimos anos.
Edit: A classificação da corrida sofreu uma alteração. Quando a Toro Rosso comemorava seu primeiro pontinho em 2007, recebeu a notícia de que Vitatonio Liuzzi foi punido por ultrapassar Adrian Sutil em bandeira amarela. O italiano teve 25s acrescidos de seu tempo final, acabando justamente atrás do alemão da escuderia adversária, portanto foi a Spyker que marcou o seu primeiro ponto na tabela, não a STR. Merecido o prêmio do Sutil, diga-se. De fato, ele faz uma bela temporada.