Pra quem se auto intitula comentarista e assume a posição de falar sobre cada gp de Fórmula-1, a principal dúvida depois de uma corrida como a de Mônaco é: por onde começar? Boa memória numa hora dessas, acredite, até atrapalha. E logo eu, que tenho memória ruim para quase tudo, tenho o estranho costume de guardar a corrida inteira no HD biológico, com cada bloco de voltas ordenadamente organizado, um após o outro. E as horas posteriores a corridas como essa são de regozijo e daquela vontade de voltar as horas para trás, para retornar à sensação de prazer de assistir a uma boa corrida. Isso dificulta o distanciamento necessário para fazer uma “análise” fria da corrida. Sintomas de dependência psicológica, mas eu nunca neguei o vício, oras.
[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Largada limpa: Alonso pula para o 3º lugar"][/caption]
Que tal começar dizendo que foi uma corrida atípica? Lugar-comum, mas quem pode negar? A começar por Michael Schumacher inventando de ultrapassar Lewis Hamilton na Loews para ser ultrapassado pelo britânico voltas depois na Saint Devote. Schumacher ultrapassando alguém em 2011 é inusitado, mas Schumacher sendo ultrapassado até que não foge à regra.
Depois de tanto ser elogiada pelo trabalho de boxes, a Red Bull falhou nas paradas de Sebastian Vettel e de Mark Webber. Para o australiano o resultado foi inicialmente desastroso, mas o quarto lugar conquistado no finzinho saiu muito bem depois de perder mais de meio minuto nos boxes. Para Vettel o erro do time momentaneamente arruinava suas chances de vitória, porque Jenson Button pulou na frente e saía-se muito bem na estratégia de fazer três paradas.
[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Ao contrário de Hamilton, Button sobreviveu e conseguiu um pódio sem se envolver em polêmicas"][/caption]
Mas partir para três paradas é arriscar demais num lugar como Mônaco. O Safety Car é uma possibilidade sempre presente e ele entrou na pista, depois do enrosco entre Hamilton e Felipe Massa, que terminou com a batida do brasileiro no túnel. Button, que fizera sua segunda parada pouco antes do incidente, voltou em segundo, na frente de Fernando Alonso, que parou assim que o carro-madrinha entrou no circuito.
A então provável vitória de Button, que ainda tinha uma parada por fazer, tornou-se mais difícil. O favorito passou a ser Alonso, que já havia feito duas paradas e usado dois tipos de pneus. Com todos esses incidentes acontecendo na volta 35, imaginava-se que a Red Bull chamaria Vettel para uma última parada nas mais de 40 voltas restantes.
[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Primeiro o Safety Car, depois a bandeira vermelha: intervenções mudaram a história da corrida"][/caption]
Mas logo ficou claro que a equipe austríaca apostou na dificuldade de se ultrapassar em Mônaco. Depois que Button fez seu último pit stop passou a ser uma questão de tempo a aproximação dos três primeiros e a briga tensa que marcaria a parte final da corrida.
Da volta 58 até a 70 os três líderes cabiam num espaço de menos de um segundo. A briga foi composta mais de tensão do que de ataque efetivo, mas é Mônaco, afinal. Foram cerca de 12 adoráveis voltas de espectadores petrificados nas arquibancadas do principado e diante das TVs, até que o clima foi quebrado por uma carambola no S da Piscina: Jaime Alguersuari quase recriou o big bang ao atropelar a McLaren de Hamiton. Na confusão que se formou, Paul Di Resta e Vitaly Petrov se envolveram na batida, enquanto os líderes passavam milagrosamente incólumes pelos destroços.
O Safety Car retornou para uma intervenção que provavelmente se arrastaria até a bandeirada. Petrov informou via rádio que sentia dores nas pernas depois da batida, e a ambulância também foi acionada para socorrer o russo. Para evitar dar a bandeirada sob bandeira amarela, a direção de prova acionou a bandeira vermelha e interrompeu a corrida na 72ª volta.
A salvação de Vettel
Com os mesmos pneus desde o 16º giro, seria muito difícil para Vettel segurar Alonso, com pneus 20 voltas mais jovens, e Button, que trocara de calçados na volta 49. Era possível sim que alemãozinho mantivesse a ponta, porque Mônaco é Mônaco e ultrapassar no principado é complicado. Mas o que se esperava era um fim de corrida como o de 1992, quando Ayrton Senna venceu depois de uma feroz defesa de posição com Nigel Mansell na voltas finais. Mas a bandeira vermelha interrompeu a briga pela vitória.
Surpreendentemente, o regulamento atual permite que os carros sejam modificados enquanto a corrida está paralisada. Todos voltaram a trocar os pneus e, dessa forma, acabou a diferença de rendimento entre Vettel, Alonso e Button. O RB7, que já é o melhor carro, voltou a andar forte e o líder do campeonato conseguiu escapar da pressão de Alonso nas cinco voltas finais. Depois da sensacional corrida, as últimas voltas cortaram a extrema tensão que permeou os 70 primeiros giros.
[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Vettel, com o principado nas mãos, lidera o mundial com folga cada vez mais maior"][/caption]
2 comentários:
Houve várias injustiças neste GP. Essa regra de poder modificar os carros sob bandeleira vermelha é um absurdo.... Ora, era melhor terminar ali a corrida, pois se não há mais possibilidade de disputa (novos pneus) não fez sentido reiniciar a corrida. Agora o conserto que fizeram na asa traseira do Hamilton tambem provou o quanto houve injustiça. Na minha opinião ele deveria ser desclassificado. Se a zona que se formou na batida não tivesse trazido as dermais consequencias, como ele iria guiar com um carro naquele estado. é como saber o resultada da loteria e não tero o dinheiro da aposta
Vettel com jeito de Senna. Alemão se assemelha ao brasileiro por incrível sequência de vitórias e pela falta de um adversário que lhe cause insegurança.
Pinheirinho é divulgador cultural é maranhense, a partir de Brasília. - E-mail: pinheirinhoma@hotmail.com
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