FÁBIO ANDRADE
Pensamentos sobre a fraternidade entre Massa e Schumacher competindo sem a hierarquia de equipe
O vencedor da corrida caminhava atordoado naquela tarde, provavelmente ainda aturdido por dar a seu público a primeira vitória em casa em 15 anos. De macacão personalizado, eufórico e fazendo gestos bruscos, Felipe Massa saía do habitáculo da F-248 ao final do GP do Brasil em 2006 e ziguzagueava pelo pit lane do autórdomo de Interlagos até se deter diante de Michael Schumacher que se aposentava depois de 15 anos de uma carreira lotada de recordes. Abraçaram-se, e o abraço foi narrado como o de um “irmão mais velho” pela transmissão em terras brasileiras. E a relação de Massa e Schumacher jamais se deteriorou.
Do respeito mútuo que se espera (teoricamente) entre colegas de profissão e de empresa, a amizade entre Massa e Schumacher evoluiu para a rasgação de seda pública e o último exemplo foi o Desafio de Kart promovido pelo piloto brasileiro em Florianópolis. A transmissão fez questão de sublinhar a afirmação do alemão que disse já se sentir um pouco brasileiro por ter um irmão mais novo nascido no Brasil. É sim bonito ver dois profissionais de uma categoria de alto nível e com forte confronto de egos se tratando de maneira cordial, mas a fraternidade entre Massa e Schumacher, é bom que se diga, nunca teve motivos para azedar.
O terreno onde brotou o relacionamento entre o brasileiro e o alemão era o de uma Ferrari completamente pró-Schumacher, mas com uma particularidade importante: o alemão sairia de cena no final do ano, deixando, finalmente, uma alternativa de decisões mais esportivas e menos corporativas na equipe. Nesse cenário, Felipe aceitou a condição de escudeiro, sabendo que seria ela uma situação temporária, diferente do que aconteceu, por exemplo, com Rubens Barrichello, companheiro de Schumacher por longos 6 anos em que o alemão jamais cogitou a possibilidade de aposentadoria.
Além de escudeiro, Massa exerceu também o papel de aprendiz de Schumacher no único ano em que correram pela Ferrari. Nessa auto-escola de luxo o brasileiro teve a oportunidade de conviver com um campeão perfeccionista como Schumacher a cada grande prêmio e é óbvio que o convívio sob essas condições gera admiração em qualquer ambiente. Massa não era uma ameaça para Schumacher; antes era uma espécie de pupilo que o alemão educava, um pupilo que prometeu se conter sabendo que o mestre estava batendo em retirada.
Entretanto, não é essa a realidade que Massa e Schumacher enfrentarão em 2010. Os dois irão competir de verdade, sem pensar em hierarquia de equipe e em guiar pelos pontos. Por enquanto não se sabe se uma “relação de irmãos”, como gosta de repetir a transmissão brasileira de F-1, pode passar intacta por uma fechada, mas é irresistível não pensar no abalo que uma disputa mais renhida poderia gerar entre os companheiros de Ferrari de 2006.
Uma olhada na história de Michael com seu real irmão Ralf aponta para o extremo profissionalismo a que estão submetidos os pilotos. Enquanto correram, os irmãos Schumacher jamais trocaram palavras de muito afeto em público. O máximo que se viu foram elogios comedidos de um para o outro em ocasiões esporádicas. Em algumas das corridas que ambos disputaram, a competitividade não foi amaciada pela ligação fraternal. Michael e Ralf Schumacher dividiram freadas com o ímpeto que empregariam contra qualquer outro oponente, até mesmo em ocasiões conturbadas como no fim de semana da morte da mãe de ambos, em 2003.
Mas relação entre os irmãos, se nunca foi marcada por gestos de muita proximidade em público, nunca azedou em razão das pelejas nas pistas, num sintoma da F-1 pós-moderna, da tendência de separar o profissional do pessoal. Também é verdade que Michael e Ralf jamais chegaram a gerar imagens de uma fechada desleal ou um lance de honestidade duvidosa entre si. E até mesmo quem já foi suspeito de fazê-lo, como Massa e Alonso, protagonistas de um bate-boca acalorado após a corrida em Nurburgring em 2007, quando Alonso acusou Massa de exgerar na tentativa de se defender, hoje são companheiros de equipe que, aparentemente, convivem em harmonia enquanto a temporada não começa.
Michael Schumacher, entretanto, é um sujeito de competitividade aflorada. É tanto assim que dois mundiais em que o alemão era um dos personagens principais foram decididos por lances eternamente marcados pela discussão sobre esportividade e trapaça. Felipe Massa, de seu lado, também justifica o estereótipo de latino esquentado, e o tal episódio em que se envolveu com Alonso no GP da Europa de 2007 é uma amostra de que a agressividade que lhe valeu críticas no início da carreira pode emergir numa situação de pressão extrema. O que poderia acontecer num choque entre essas duas personalidades na pista, numa atividade altamente competitiva ainda como a F-1, é uma incógnita. A admiração mútua entre Massa e Schumacher está aberta às possibilidades, enfim. Mas o espaço de 19 corridas valendo um título mundial pode alterar sensivelmente a estima que um piloto sente por outro. É o que conta o livro de histórias da Fórmula-1.
8 comentários:
Primeiramente, obrigado Felipe por disponibilizar nos links ao lado meu blog Diário Premier. Sobre o vídeo gostaria de dizer que é sensacional. Me lembro perfeitamente dessa "briga" de irmãos. Uma disputa que revela o total respeito de ambos um pelo outro.
Fabio,
Sinceramente não creio que a amizade fique abalada pela disputa na pista,gosto muito de correr de kart,e quando estamos na pista a amizade fica "suspensa",todos querem vencer e as vezes forçam um pouco além da conta,mas depois de serenados os animos voltamos a amizade numa boa.Uma amizade forte não se abala com esse tipo de situação,as vezes ficamos loucos da vida,mais depois passa!
abraço
Penso que nenhum dos dois ira fazer uma sujeira com o outro.
Shumi, vem com tudo esse ano, mais essa volta será para curti ao máximo, vitórias e o título fazem parte do seu perfil, não mais a qualquer custo.
Massa, parece que o acidente aumentou ainda mais sua gana por vitórias e o título, não sei se a experiência se completou e Felipe amadureceu, em um campeonato longo e equilibrado a constância é a melhor ferramenta.
A amizade vai ficar fora da pista,um vai partir pra cima do outro pra chegar na frente. Não vai ser que nem o Ralf que teve uma corrid aque não me lembro qual é que ele simplesmente não atacou o schumacher, tendo um melhor carro! Isso deve ter sido em 2002 ou 2003...
Acredito que a amizade dos dois não será prejudicada. Na pista é uma coisa, mas fora a amizade prevalece.
Abraço!
Eu quero ver se numa disputa acirrada entre Massa e Schumacher, um possa prejudicar o outro na briga pelo mundial.
Será mesmo que as coisas vão continuar numa boa? Será que a amizade não sofrerá um abalo?
Lembro deste embate em familia foi um pega emocionante mas se não me falha a memória que se deu bem foi Barrichello que passou os dois.
Mauro, a corrida em que o Barrichello ultrapassa os dois de uma vez é o GP da Espanha de 2000.
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