FÁBIO ANDRADE
A chuva rondou o autódromo de Sepang, ameaçadora, mas apesar da tempestade que as nuvens negras do horizonte sugeriam, o máximo que se viu durante o GP da Malásia foram uns pingos esparsos, insuficientes para mudar a história da corrida. Melhor para Sebastian Vettel, que depois de duas corridas, duas poles e duas vitórias já possui uma vantagem de 24 pontos sobre Jenson Button, o concorrente mais próximo na contagem dos pontos.
Sem a chuva e com o fortíssimo calor equatorial da Malásia os pneus Pirelli finalmente cumpriram a promessa de se consumirem rapidamente. Dos 16 pilotos que completaram a prova, 13 fizeram três paradas ou mais. A grande degradação e os diferentes estágios de conservação dos pneus entre carros próximos propiciaram as brigas por posição, mas o primeiro lugar esteve impavidamente sob controle de Vettel e da Red Bull durante toda a corrida.
Chove não molha
Houve uma época em que os Renaults apavoravam as outras equipes nas largadas. No biênio 2005/2006 esse era um dos grandes trunfos da equipe para terror das adversárias - primeiro a McLaren e no ano seguinte a Ferrari. Os carros do time gaulês tinham o mais eficiente sistema de largada do grid e revertiam posições inconvenientes no grid com as largadas perfeitas, em que papavam várias posições.
Nick Heidfeld e Vitaly Petrov trouxeram de volta essa lembrança na largada de Sepang. Heidfeld ganhou quatro posições na partida, saltando de sexto para segundo. Petrov pulou da oitava para a quinta posição, enquanto as McLaren perderam terreno. Ninguém, no entanto, sofreu tantas perdas de posições como Mark Webber, que despencou do terceiro para o décimo lugar.
Durante o primeiro terço da corrida, com as posições relativamente assentadas, pilotos, equipe e câmeras olhavam para o céu. Como é típico da Malásia, a chuva sempre surge como possibilidade e de fato alguns pingos foram denunciados pelas câmeras onboard dos carros e por conversas de rádio entre pilotos e equipes. Mas o grande temporal de fim de tarde não veio, passou ao largo da pista, e a corrida seguiu rumo ao primeiro round de pit stops.
Com pouco mais de 10 voltas completadas começaram as paradas nos boxes. Como aconteceu na Austrália, praticamente todos os pilotos optam pelos pneus macios na primeira metade da corrida, já que os duros não rendem tão bem e não duram tanto a ponto de serem uma alternativa vantajosa.
As posições se mantiveram praticamente inalteradas, à exceção da demora da Ferrari no pit stop de Felipe Massa. Prejudicado, o brasileiro ainda foi pescar um quinto lugar no final da prova.
Senna e Prost?
Galvão Bueno lembrou da curiosa declaração de Lewis Hamilton semanas atrás, quando o britânico se referiu à sua rivalidade com Fernando Alonso citando a briga entre Ayrton Senna e Alain Prost. De fato, Hamilton e Alonso viveram uma relação acalorada quando dividiram ao meio a equipe McLaren, tal como os dois campeões do passado. Os titãs de hoje se encontraram, mas Alonso não fez jus ao cerebral professor Prost. Na disputa com Hamilton o espanhol calculou mal o espaço e avariou a asa dianteira de sua Ferrari ao tocar com o McLaren do inglês, que teve muita sorte de não ter o pneu furado.
Petrov também fez das suas. Com os pneus desgastados, escapou da pista, passeou na grama e foi catapultado por um salto no terreno. Voltou pra pista pousando desengonçado como um pelicano. O impacto do retorno ao solo fez quebrar a barra de direção do Renault, que felizmente já estava em baixa velocidade próximo da lateral da pista.
Se Petrov não completou a prova, Heidfeld honrou a Renault com o terceiro lugar, o segundo pódio consecutivo do time que parece finalmente ter voltado a acertar o projeto de um carro. Segue a pergunta: o que Kubica estaria fazendo guiando o R31?
Vettel 100%
As duas vitórias em duas corridas e a inconstância dos adversários já fazem de Vettel o homem a ser caçado em 2011. Seus 50 pontos contra os 26 de Button quase configuram a vantagem simbólica de uma vitória. Ainda é cedo para falar em favoritismos plenos, mas o RB7, ainda que sem a margem absurda de superioridade demonstrada em Melbourne, é o grande carro do momento, mesmo continuando a não usar o KERS. A falta do sistema de recuperação de energia cinética pode complicar a vida dos pilotos da Red Bull na hora das ultrapassagens - como ficou claro em vários momentos do GP da Malásia com Mark Webber, que precisou recuperar terreno depois da má largada - mas não parece ser um grande problema quando se larga da frente. É isso que ensinam as duas vitórias de Vettel.
3 comentários:
Soberano. Esta é a palavra correta.
Ninguém fez nem cócegas no líder.
- Que corrida mais artificial heim?
- Quando começou a pingar, achei que fosse coisa da FIA.
- Os caras trocaram a impossibilidade de ultrapassar com a impossibilidade de se defender, que na minha opinião foi uma péssima escolha. Prefiro a primeira opção. Quer passar? se vira malandro!
- Esses pneus-polvilho-pirelli é um lixo! O mais inacreditável é saber que foi a FIA que pediu por eles!
- Resumo: corrida caótica, movimentada, cheia de troca de posições... mas as poucas ultrapassagens foram bem artificiais.
- Pontos positivos: Koba mito! Esse sim é ousado. Hamilton x Alonso. A única DISPUTA por posições - unicamente pela quebra da asa do espanhol. E acabou em uma ridícula punição para ambos. Parece que a FIA quer dizer: agente criou a porcaria da asa móvel senhores... então qualquer tentativa de ultrapassagem sem usar esse dispositivo vai acarretar em punição! Bem ridículo isso!
- Dêem logo um cacho de banana pra cada piloto jogar na pista, porque apesar de 'legal' a corrida, me pareceu que estava assistindo um jogo de video-game!
Groo,
Poucas coisas foram tão definitivas em 2011 como a soberania de Vettel. Parece que sem aquela pressão, aquela ânsia de ser campeão, o menino funciona ainda melhor.
Williams,
Poucas vezes concordei tanto com um comentário daqui do blog. Fiquei sabendo que depois da China a FIA vai avaliar isso tudo. Torço para que a questão da degradação dos pneus seja revista. Quanto ao KERS e asa móvel eu acho menos provável que existam mudanças na filosofia porque as equipes e os projetistas quebraram a cabeça duramente e muito dinheiro foi investido, sobretudo no KERS.
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