domingo, 17 de abril de 2011

A vitória quase como punição



FÁBIO ANDRADE


Na China, o vencedor não foi exatamente aquele que errou menos, afinal, Lewis Hamilton não fez uma corrida absolutamente impecável. Tanto é assim que o britânico perdeu posições para Sebastian Vettel e Felipe Massa depois da primeira rodada de pit stops. Vettel quase foi o mesmo deus virtuoso que fora em Melbourne e Sepang, exceto pela largada ruim e pelo KERS ainda vacilante da Red Bull. Aliás, no caso do alemãozinho, dá para dizer que ele foi tão perfeito em Xangai como nas duas outras corridas. O diferente no GP da China foram as estratégias. Nem todo mundo partiu com a mesma tática para as 56 voltas da corrida, e com ritmos de corrida muito próximos, a imprevisibilidade foi a marca da terceira etapa do mundial de 2011.



Com ritmos de parecidos, rivais ficaram mais próximos de Vettel na China

A maioria dos carros de ponta partiu para três paradas. Vettel, Massa e Alonso - este último apagadíssimo durante toda a corrida - optaram por visitar os boxes duas vezes. A estratégia de Vettel e Massa deu certo, eles eram os líderes ao final de todas as janelas de pit stops. O que tornou o fim da prova imprevisível foi o comportamento dos pneus. E foi para isso que eles se tornaram mais voláteis em 2011.


O comportamento da borracha, que, na visão desse escriba, gerou corridas “artificiais” na Austrália e na Malásia, dessa vez fez do GP da China a prova mais interessante sob piso seco em muito tempo. Talvez porque muitas posições foram decididas em brigas diretas na pista e não nos boxes. Mesmo com ultrapassagens “concretizadas” no pit lane, ficou claro o que acontecia, e isso facilitou muito o entendimento da corrida, como eu defendi em diálogo com o @marciokohara no Twitter. Não foi como na Austrália, em que pilotos sumiam e surgiam em posições diferentes repentinamente, complicando o entendimento da corrida.




[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Em Xangai várias brigas na pista facilitaram a compreensão da corrida"][/caption]
Jogo de erros

A corrida não necessariamente precisa ser contada tendo em vista os erros e acertos de pilotos e equipes, porque o GP da China foi mais do que isso. Mas chama a atenção, por exemplo, o caso da Red Bull e de Sebastian Vettel. O líder do campeonato teria vida mais fácil se largasse bem, mantivesse a ponta, abrisse distância e pudesse administrar o consumo dos pneus no fim da prova. Se as coisas acontecessem dessa forma, Vettel teria vencido fácil o GP da China, mas o KERS começou a fazer falta no RB7 e é incrível que uma equipe com a grife Adrian Newey de qualidade ainda sofra tanto com um dispositivo já dominado por todas as concorrentes. E mesmo que tivesse largado com o dispositivo e mantido a ponta, Vettel não teria a vida mansa das duas primeiras provas, pois o RB7 não apresentou um ritmo forte o suficiente para abrir grande vantagem sobre as McLaren.


A McLaren também vacilou, sobretudo na primeira ronda de pit stops. Button se atrapalhou e quase estacionou o MP4/26 na vaga errada, a da Red Bull. Perdeu a posição para Vettel, que ganhou, graças ao melhor trabalho de pits, o lugar de Hamilton. Não fosse o novo comportamento dos pneus, que deixaram Vettel com menos rendimento no final, a McLaren pagaria caro pelos erros. Se ainda estivéssemos na Era Bridgestone, Vettel teria relativa tranquilidade para administrar a vantagem de cinco segundos no fim da corrida.




[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="As duas McLaren largaram bem, mas o GP da China ainda teria muitos líderes"][/caption]

Para dar a dimensão da imprevisibilidade da corrida, pelo menos meia dúzia de pilotos liderou ao menos uma volta da prova: Vettel, Button, Hamilton, Rosberg, Massa e Alonso, só entre os que eu consegui lembrar. Para dois desses que lideraram em Xangai e para Mark Webber, o GP da China teve um significado pessoal e extremamente particular.


Para Webber foi a redenção depois da péssima classificação de ontem. E o australiano, que foi cornetado por mim e chamado pejorativamente de “barrichello”, redimiu-se em grande estilo: largando do 18º oitavo lugar - como Barrichello em sua primeira vitória em 2000 - apresentou um ritmo de corrida fortíssimo, para chegar ao pódio.


Felipe Massa fez em Xangai sua melhor apresentação desde 25 de julho de 2010. Dentro das limitações do carro da Ferrari, o brasileiro fazia uma ótima corrida, com um bom segundo lugar até pouco depois da volta 40. Uma pena que seus pneus não tenham resistido e ele tenha cruzado a meta apenas uma posição a frente de Alonso. Sem querer bancar o Galvão Bueno, mas na China, Massa esteve muito melhor do que o fodão das Astúrias.


E Hamilton, enfim, tirou de Vettel a exclusividade nas vitórias em 2011, justamente depois de o britânico ter polemizado sobre o jejum de vitórias na McLaren. O triunfo, nesse caso, veio como um cala-boca, quase uma punição divina da equipe-mãe, que criou o garoto para o sucesso. Foi como se mamãe chegasse pacientemente para o filhinho afoito e ansioso e dissesse aquele “ta vendo?” que só as mães sabem dizer.




[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Festa da equipe McLaren pela vitória de Hamilton. Time não vencia desde o GP da Bélgica em agosto do ano passado"][/caption]

E o menino Hamilton, de olhos marejados, do alto do pódio, olhou pra baixo e viu sua equipe, sem ressentimentos, sorridente, refeita das palavras duras ditas ainda anteontem, lhe saudando. Deve ter agradecido. Mães menos pacientes lhe dariam umas palmadas.



Grande Prêmio da China, resultado após 56 voltas:



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8 comentários:

Williams disse...

Ufa, que corridassa! Essa valeu a pena acordar de madrugada.
Acredito que essa boa corrida foi causada em grande parte pela ainda falta de compreensão dos pneus polvilho. Estratégias diferentes; paradas nos boxes com 5, 10, 15 voltas de diferença entre eles... proporcionou belos momentos e ultrapassagens. A asa móvel teve uma grande interferência, mas dessa vez sua artificalidade foi ofuscada pelas disputas e ultrapassagens ao longo de toda a corrida, provando, definitivamente pra mim, que essa asa móvel foi e ainda é um erro da FIA. Desnecessária.
Acho que quando as equipes compreenderem melhor o desempenho dos pneus, as estratégias vão ser muito parecidas e voltaremos a corridas menos movimentadas. E a Ferrari, putz... não entendi porque que eles não tentaram 3 paradas com Alonso! Já que eles são carta fora do baralho, que pelo menos tentem algo novo... estudem algo diferente pros pilotos até pra ter mais dados pras próximas provas! Acho que o Briatori pode voltar logo logo, e de Ferrari, ja que a personalidade dele combina muito com a dessa escuderia.

marcos disse...

boa corrida e acho que o maior diferencial da corrida foi a diferença de estratégias. a red Bull falhou com Vettel, mas se tivesse feito as mesmas 3 paradas com Webber, seria um grand epasseio. Os Fãs da corrida de F1 agradecem o erro.

Areal disse...

A Formula 1 está mesmo de pernas para o ar, atenção aos fatos dessa corrida:

-Hamilton sendo estratégico e poupando pneus nos treinos para ser combativos nas ultimas voltas do GP.

-Button, o piloto celebral, errando pit stop.

-Webber dando um show com a faca/bengala entre os dentes.

Enfim, corrida incomum mesmo...

Gabriel Marcondes disse...

Outro ponto incomum: o único abandono na corrida foi do carro que ficou sem roda no meio da pista. Nem os carros da equipe que mal tinha carro mês passado quebraram.

Marcelo chobas disse...

Ja estava achando que o Vetel ganharia todas as provas, mas com o decorrer das CORRiDAS as equipes vao se aproximando da RBR que esta se tornando imbativel nas tomadas de tempo , mas sem apriorar o KERS as Maclarem mesmo com erros bobos e com ajuda dos pneus de polvilho deixaram o grande Vetel para traz , senao dosse a burrice de Bunton ele chagaria e segundo e poderiamos ver a briga de Vetel e Weber que fez uma corridaça isso sim seria o maximo , Otima prova de Massa que se nao fosse os pneus chegaria em segundo , o massa ta melhor do que ano passado que sempre chagava atraz do alonso que fez uma corrida media , tomara que daqui a tres semanas a Ferrari acerte o carro e Felipe continua a andar na frente do Alonso no mais ,,,,valeu a pena acordar 5 da madruga.

Ron Groo disse...

A corrida, tanto quanto seu texto (o título é sensacional) foram ótimos, mas meu coração purista insiste em ficar triste.

Kers, asa, pneu de farinha.... Isto não é F1.

Marcelonso disse...

Se o preço a ser pago para termos corridas descentes nos Tilkodromos são pneus que viram farofa, flap e KERS. Que seja, ao menos é divertido.

A Red Bull atirou no próprio pé com a estratégia de Vettel, não há dúvida. Pelo menos não vão ganhar todas,ora bolas!

Com relação a Hamilton, o moleque pilotou muito hoje. Pode não ter sido irretocável, mas foi de encher os olhos, com toda sua vontade e arrojo!

abs

Fábio Andrade disse...

Williams,

Concordo com quase tudo. Só acho que a Ferrari não tentou 3 paradas pq nem mesmo a cúpula de estratégia do time acreditou que o carro podia ter um ritmo forte o suficiente pra tentar 3 paradas.

Marcos,

Né? O erro é muito bem-vindo pro campeonato.

Areal,

É, deu pra confundir e achar que Button e Hamilton trocaram de capacete. A transmissão reprisou várias travadas do Button, que não costuma fazer isso. E mesmo assim ele não teve a velocidade necessária para subir no pódio.

E aquele erro no pit stop foi um mico e tanto.

Gabriel Marcondes,

Incrível mesmo. Mas é bom lembrar que a temperatura não estava muito alta na China, isso sempre reduz o número de quebras.

Marcelo Chobas,

5? Foi às 4, haha.

Massa fez uma corrida boa, deve estar voltando à sua melhor forma emocional. Porque pra mim ficou bem claro que o que fez de 2010 um ano tão ruim pra ele não foi despreparo físico, foi psicológico mesmo.

Groo,

Olha que isso é F1 sim, hein. Tá cedo para conclusões definitivas, mas pode ser que tudo isso faça sentido se for usado a contento.

Marcelonso,

Se todos esses dispositivos trouxerem mais disputas pra pista e menos pros boxes, já estarei feliz.

E creio que a Red Bull ficará mais esperta com a estratégia daqui para frente. A tendência é não vermos mais descuidos como esse.