FÁBIO ANDRADE
Duas horas, 48 minutos e 20 segundos. Talvez, para muitos dos brasileiros que acompanharam a corrida, as horas de sono nessa madrugada tenham durado menos do que a corrida. Uma verdadeira maratona botou à prova a paciência de muitos e provavelmente custou a saúde fisiológica de outros tantos. Em função da chuva, a corrida ficou mais de uma hora entre as bandeiras amarelas e vermelhas. Não foi só a paciência do espectador que foi testada. A própria Fórmula-1 esteve perto de protagonizar um vexame histórico.
Mesmo que a estrutura comercial da categoria tenha obrigado todos a passar muito tempo vendo carros parados ou atrás do Safety Car, houve uma corrida disputada em Yeongam. Nela, a Red Bull tinha tudo para fazer mais uma dobradinha e vir para o Brasil talvez em condições de discutir o título somente entre seus pilotos em Interlagos. O que aconteceu, no entanto, foi o exato oposto. Nem Sebastian Vettel nem Mark Webber completaram a corrida, que foi vencida por Fernando Alonso. O espanhol saiu da Coreia na ponta da tabela e, dependendo de uma combinação de resultados, pode ser campeão em São Paulo no próximo dia 7 de novembro.
[caption id="" align="aligncenter" width="498" caption="Alonso cruza em primeiro e equipe Ferrari festeja"]
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Yeongam, Suzuka de novo
O GP do Japão, há 15 dias, deixou a sensação de que chuva e Fórmula-1 estão se tornando cada vez mais inimigas. Talvez sim, mas depende muito do circuito. Suzuka, por natureza, já é uma pista que lida com algumas ressalvas no que diz respeito à segurança dos pilotos em alguns pontos do traçado. Isso somado ao dilúvio que se abateu sobre a pista japonesa no último dia 10 tornava impossível a pilotagem em linha reta. A decisão de adiar os treinos até pode ser considerada acertada, ainda que sobrem críticas quanto ao teatro encenado para o mundo sobre a retomada da classificação da corrida nipônica.
Em Yeongam a chuva veio no domingo. E forte. Adiar a largada por 10 minutos e partir atrás do Safety Car é chato, mas seria romantismo esperar por algo diferente da parte da direção de prova. Até aí tudo bem. O GP da Coreia começou a virar um grande mico quando a bandeira vermelha foi anunciada, depois de três voltas com os carros limitados pelo Safety Car.
[caption id="" align="aligncenter" width="498" caption="Longa espera: corrida ficou paralisada durante quase uma hora"]
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A novela de Sepang no ano passado foi ressucitada. Depois de quase uma hora de pilotos entediados e espectadores cochilando, o Race Control anunciou a relargada para às 16:05 locais, mas a chuva continuava. Relargada, claro, atrás do carro-madrinha.
Seguiram-se cerca de 30 minutos de voltas atrás do Safety Car. E aí a coisa começou a ficar ridícula. A chuva diminuiu muito, ao ponto de Lewis Hamilton falar em pneus intermediários. Ou seja, já não havia necessidade de impedir a corrida de começar pra valer por tanto tempo. Acontece que o temor era o baixíssimo nível de aderência de um asfalto assentado há cerca de duas semanas. A excessiva precaução da direção de prova foi uma consequência do improviso que cercou a realização do primeiro gp coreano.
[caption id="" align="aligncenter" width="498" caption="O Safety Car liderou o pelotão por quase 20 voltas"]
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Felizmente parou de chover e a corrida pôde acontecer. Mas e se não parasse? A prova, uma das que decidem o mundial, seria cancelada? E a F-1, que vai cada vez mais ao oriente com o pretenso objetivo de conquistar público, o que iria dizer aos coreanos? Pior, que público ficaria estimulado a voltar no ano que vem se a primeira prova fosse um fiasco? Perguntas que deviam ser dirigidas a Bernie Ecclestone.
Quando a chuva passar
Uma hora de 40 minutos depois da hora prevista, finalmente o GP da Coreia começou pra valer, sem o Safety Car impedindo os pilotos de acelerar. Vettel e Webber seguiam na ponta, o primeiro abrindo vantagem com desconcertante facilidade. Nico Rosberg pulou para o quarto lugar depois de ultrapassar Hamilton, aquele que estava doidinho para que a corrida recomeçasse logo.
Só que a chuva abre mais espaço para o erro. E justamente o piloto mais elogiado em 2010 pelos poucos erros que cometeu errou na hora mais imprópria. Mark Webber pisou mais do que devia na zebra. Apesar de ser num trecho de baixa velocidade, o australiano rodou e bateu no muro. Ainda teve impulso para novamente cruzar a pista, desgovernado, e ser acertado por Nico Rosberg. Fim de corrida para ambos. Webber, naquele momento, entregava a liderança do mundial para Vettel.
[caption id="" align="aligncenter" width="498" caption="F-1 ou Rally? Carro de Webber depois do abandono do australiano"]
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O Safety Car voltou, nessa em algumas outras oportunidades, como quando Sebastien Buemi perdeu o controle na freada da grande reta e bateu em Timo Glock. Mas aí, a chuva já havia diminuído muito, e muitos pilotos começavam a apostar nos pneus intermediários. Jenson Button foi o primeiro deles. A aposta poderia ter dado certo, como deu em Melbourne e Xangai, mas dessa vez o campeão voltou atrás de vários carros mais lentos. Sem conseguir negociar as ultrapassagens com rapidez, Button teve a corrida arruinada. Ficou fora dos pontos e deu o adeus definitivo à disputa pelo bi.
Em seguida, os líderes foram aos boxes calçar os pneus intermediários. A pista secava e os pneus de chuva extrema já estavam inadequados. Vettel manteve a posição depois da parada, Mas Alonso, que vinha em segundo, perdeu o lugar para Hamilton devido a um problema na fixação da roda dianteira direita. Dos males o menor: o espanhol recuperou o segundo lugar na volta seguinte, quando Hamilton escapou na freada da Curva 1.
Seguiram-se voltas de pouco movimento. Com o resultado de momento, Vettel ia a 231 pontos, tornando-se líder do campeonato, a duas corridas do fim. Alonso mantinha-se em segundo lugar na classificação geral, mas muito mais próximo, com 224 pontos, deixando Webber em terceiro com 220. Se terminasse assim Vettel poderia, talvez, finalmente contar com a preferência do time para as duas últimas etapas do mundial.
Pouco depois da volta 40 esse sonho do menino Vettel derreteu na chuva da Coreia. Primeiro o alemãozinho falou com a equipe sobre um problema de freio, tal como aconteceu em Melbourne e Barcelona. Alonso se aproximou rapidamente e concluiu a ultrapassagem sobre o piloto da Red Bull. Na reta seguinte o motor Renault de Vettel enfumaçou, deixando mais uma vez na mão o garoto que tenta, mas não consegue emendar uma boa sequência de vitórias.
[caption id="" align="aligncenter" width="498" caption="Fumaceira: motor Renault provoca abandono de Vettel"]
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A quebra do RB6 em Yeongam expõe o carro às velhas críticas sobre confiabilidade. O circuito coreano não é um dos que mais exigem do motor. Apesar de possuir a segunda maior reta do calendário, a pista apresenta pouco mais de 50% de volta em aceleração plena. Além disso estava chovendo, e nessas condições o motor é ainda menos exigido.
Quando a noite chegar
O horário original do GP da Coreia era às 15hs locais. Com a chuva e todo o imbróglio que se seguiu, já eram quase 6 da tarde na Coreia quando a corrida começou a chegar perto do final e a luz do Sol ameaçava se despedir. Na ponta, Fernando Alonso desfilava mais uma vez sua sorte. O espanhol, afinal, não fez uma corrida brilhante, não fez ultrapassagens cinematográficas, mas quem o fez em Yeongam? As vezes permanecer na pista é o bastante.
[caption id="" align="aligncenter" width="498" caption="Alonso comemora vitória no pódio noturno da Coreia"]
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Com a vitória, Alonso lidera o mundial com 231 pontos. Webber cai para o segundo lugar na classificação geral, estacionado nos 220. Hamilton, que chegou em segundo na Coreia, avançou para o terceiro lugar na classificação geral com 210. Vettel manteve os 206 mas caiu para o quarto lugar e Button, já muito distante do líder, manteve-se em quinto com 189 pontos.
Grande Prêmio da Coreia do Sul, resultado após 55 voltas: