quarta-feira, 20 de julho de 2011

Webber, Mestre de Marketing

O assunto pode até já ter sido discutido exaustivamente ao longo da semana passada, afinal, o gatilho que originou esse post foi apertado na quinta-feira, último dia 14. Mas esse blogueiro passou três semanas quase completamente offline, e só agora, está - muito aos poucos - se reinserindo novamente na linha narrativa da temporada.

Ontem a noite, passei o olho pela coluna de Mark Webber no site da BBC (em inglês). Resumo básico: em sua segunda coluna no site da BBC, Webber explica o que o levou a não cumprir a ordem da Red Bull de manter distância de Vettel no fim do GP da Grã-Bretanha. Os trechos a seguir são pequenas partes da coluna do piloto australiano (tradução livre):
“(...) se eu tivesse mantido a diferença em três segundos, como me pediram, teria sido muito mais difícil deitar a cabeça no travesseiro depois da corrida.

(...)

Se o time estava preocupado em perder pontos, uma opção seria a troca de posições, já que eu era mais rápido nessa fase da corrida e estava pressionando Vettel.

Mas eu não sou o maior fã desse método, e sei que a Red Bull também não é. Penso que devemos correr livremente, mas sempre tendo os interesses da equipe como plano de fundo (...)”

Mark Webber


Como se viu, Webber atacou Vettel no fim, indo contra a recomendação da equipe. O caso repercutiu mais pela surpresa em ver a Red Bull - que se recusou a fazer o jogo de equipe em 2010 - tentando controlar com mãos de ferro as posições de seus pilotos do que por qualquer outra coisa, já que Webber não conseguiu concretizar a ultrapassagem sobre Vettel.



Depois de ler a coluna do piloto australiano, confesso, imediatamente me vi irresistivelmente dividido entre o rejúbilo e a desconfiança.

Porque, sejamos honestos, é muito legal ver que dentro do capacete ainda existem cabeças que pensam por conta própria e não apenas se preocupam em mudar o balanço de freios ou em cumprir ordens de parar nos boxes na volta X. Ótimo.

Mas, convenhamos, o discurso de vítima do destino, da equipe, da imprensa e da vida vem sendo adotado ostensivamente por Webber desde a temporada passada. Dentro da história vivida pelo australiano em 2010, quando ele tinha a vantagem na tabela na parte final da temporada e mesmo assim não contou com a preferência escancarada da equipe, a postura de franco-atirador lhe caiu muito bem. Mas agir sempre dessa forma acaba gerando um inevitável desgaste, tanto de imagem, como na relação com a equipe. E é muito conveniente para o australiano, agora, forjar uma imagem de cara “sensato” num cenário em que ele claramente nunca foi o sujeito preferido pela equipe.



É igualmente interessante para Webber encaixar em sua fala algo como “se eu tivesse mantido a diferença em três segundos, como me pediram, teria sido muito mais difícil deitar a cabeça no travesseiro depois da corrida”. É algo que vai contar com a simpatia imediata de qualquer fã do automobilismo, porque contraria a lógica dominante de pilotos que são papagaios dos assessores de imprensa. É um tiro certeiro no ganho de popularidade.

Com sua fala mansa, com sua exposição de argumentos concisa e direta, mas respeitosa para com a equipe e com Vettel, e com frases de efeito como a do parágrafo acima, percebi uma esperteza sutil e uma enorme presença de espírito da parte de Webber. Vettel já tem uma “imagem”, um círculo de subjetividades que o cerca. É jovem e se comunica com esse público, é bom no que faz e promete reescrever os almanaques de recordes da Fórmula-1, transmite o ideal de garoto descolado que tanto se liga com a marca Red Bull e por aí vai. É alguém popular e que goza da preferência da maioria. Webber sempre esteve à sombra, eclipsado pela figura de Vettel. Com o discurso adotado em sua coluna e com as palavras escolhidas para redigi-lo, Webber começou, mesmo que involuntariamente, a criar também uma imagem, e essa, se for alimentada, vai além da de franco-atirador que goza da simpatia de todos: Webber pode começar a ser o contraponto, o ser pensante, o que cara que destoa dos releases previsíveis para a imprensa. A Red Bull é mestre em ações de marketing e pode ser que Webber tenha aprendido na melhor escola.

Ir contra uma ordem de equipe no domingo e expor seus motivos calmamente numa coluna na internet durante a semana com tamanha destreza foi um admirável golpe de marketing.

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1 comentários:

Ron Groo disse...

Este cara é um desagregador, um oportunista do mal...

Está fazendo um campeonato bem mequetrefe, abaixo do que fez ano passado, e quando a equipe precisou dele, já que estava sendo ameaçada - nem tanto pelos rivais, mas pela própria FIA que queria mudar as regras e podar sua vantagem - o cara resolveu brincar de rebelde.

Depois diz que nasceu sem sorte.