Para quem ainda não é uma estrela do esporte como o bicampeão espanhol as coisas não são tão fáceis, e quem anda comprovando essa tese é Adrian Sutil. O piloto alemão começou a ser julgado essa semana na Côrte de Munique pela confusão ainda muito mal esclarecida em que se meteu numa boate em Xangai depois do GP da China, em abril de 2011. Na ocasião, Sutil feriu como um copo o luxemburguês Eric Lux, um dos sócios da empresa que detém a propriedade da Lotus Renault. Lux teve um profundo corte no rosto e no pescoço que precisou ser costurado com 24 pontos.
[caption id="" align="aligncenter" width="320" caption="A pose sorridente de Sutil deve ser substituída por um tom mais compenetrado até o fim do julgamento"][/caption]
Em meio a pedidos de desculpa da parte de Sutil e da ameaça de processo por Lux, o piloto prosseguiu ao longo de 2011 na Force India, equipe pela qual disputa o mundial desde 2008. Dispensado no final do ano passado, Sutil era um dos nomes cotados para assumir um cockpit na Williams ao lado do venezuelano Pastor Maldonado, mas “coincidentemente” nessa semana em que seu julgamento teve início, pipocaram as notícias de que as negociações entre o time de Grove e Sutil esfriaram.
Quem sai da Fórmula-1 com acusações desse porte nas costas, a menos que seja uma estrela como o já citado Alonso, não costuma voltar, pelo menos não tão cedo. Se volta, dificilmente repete o brilho de antes.
Piquet e Gachot
Nas últimas duas décadas, dois pilotos exemplificaram essa máxima. Em 2008, Nelsinho Piquet, pressionado na Renault pela falta de resultados, aceitou fazer parte de um escabroso jogo de manipulação de resultado no GP de Cingapura para ter seu contrato renovado. O piloto brasileiro bateu de propósito em um dos muros do circuito para favorecer seu companheiro de equipe, que era ninguém menos do que Fernando Alonso. Um ano depois o escândalo estourou durante a transmissão do GP da Bélgica, quando Reginaldo Leme escancarou o esquema ao vivo na Tv Globo. Briatore foi afastado da qualquer atividade na categoria e Nelsinho saiu com a reputação imensamente em baixa indo para os Estados Unidos correr na Nascar. Alonso, ileso, sequer costuma ser questionado sobre o caso, afirmando que tudo foi armado à sua revelia.
Outro caso célebre, e bem mais parecido com o de Sutil, foi o do belga Bertrand Gachot. Em dezembro de 1990 ele se envolveu em uma briga de trânsito depois de colidir com um táxi em Londres, sacando um tubo de gás lacrimogêneo e disparando contra o rosto do taxista depois de trocarem uns sopapos. Gachot não sabia que o porte de gás lacrimogêneo era proibido na Inglaterra. O taxista brigão, de nome Eric (!) Court, resolveu entrar com um processo conta o então piloto da Jordan.
Em 1991, Gachot fazia uma boa temporada com a Jordan, chegando a terminar três corridas em posições pontuáveis. Em agosto, na altura de sua corrida doméstica, o belga foi a Londres ouvir sua sentença. Para incredulidade geral, o piloto foi condenado a seis meses de prisão. Às vésperas da corrida em Spa e com um cockpit vago, Eddie Jordan não resistiu à oferta de 300 mil dólares oferecidos pela Mercedes Benz para que um tal Michael Schumacher, jovem piloto formado pela montadora alemã, disputasse o GP da Bélgica em um de seus carros.
[caption id="" align="aligncenter" width="600" caption="Revoltado com a prisão do piloto local, o público belga declarou sua insatisfação no asfalto de Spa: "Gachot, a Bélgica está com você. Você não é um hooligan"."][/caption]
A carreira de Gachot não acabou por causa de sua prisão na Inglaterra, mas jamais voltou a exibir o mesmo brilho de antes da prisão. Libertado do sistema penitenciário britânico, o belga conseguiu uma vaga na fraca equipe Venturi em 1992 e conquistou o único ponto da curta história do time no GP de Mônaco, quando terminou em sexto. No final do ano a Venturi desapareceu e Gachot novamente ficou sem emprego. Só voltou à Fórmula-1 em 1994, vagando sem muito objetivo nas pistas pela Pacific. Não conseguiu completar corridas nesse ano, seja por abandonos ou, na maioria dos casos, por nem conseguir se classificar. Encerrou sua carreira na Fórmula-1 em 1995, depois de completar duas corridas, nenhuma nos pontos.
Sutil na corda bamba
O fato de as negociações entre Sutil e a Williams terem esfriado justamente na semana em que começou o julgamento do piloto alemão já dá o tom de como pilotos envolvidos em escândalos não são bem recebidos pela Fórmula-1. Gachot jamais voltou a disputar corridas por uma equipe promissora depois de sua prisão. O futuro de Sutil ainda é incerto, até mesmo porque sua sentença ainda não saiu. Mas, mesmo se for condenado, ele pode voltar para a Fórmula-1 em função da condição particular que vive a categoria.
Experiência é um artigo que vale ouro nesses tempos de testes praticamente abolidos. Pilotos com qualquer período de prática em um F-1 estão com cotação em alta, perdendo apenas para pilotos pagantes no mercado de emprego das equipes, sobretudo no das pequenas. E Sutil, além de estar longe de ser um piloto ruim, disputou quatro temporadas na Force India, sendo três empurrado pelos motores Mercedes e uma com os propulsores da Ferrari, além de usufruir, nesse período, do corpo técnico de uma das equipes que mais progrediu no grid nos últimos anos. Com um currículo desses, não está descartada a possibilidade de ele voltar ao campeonato por uma equipe pequena em médio prazo.
Se Sutil será ou não o novo Gachot, ainda é cedo para dizer. A coincidência de nomes entre as vítimas das agressões em ambos os casos é marcante, mas as diferentes épocas em que os casos se deram podem dar ao alemão uma sobrevida mais feliz na Fórmula-1. Diferença maior do que essa é que a saída de Gachot abriu caminho para o surgimento de um piloto que remodelou a história da categoria. Já o afastamento de Sutil deve abrir espaço para um sobrinho de gênio com sobrenome famoso ou um veterano já velho de guerra das pistas.
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2 comentários:
Fábio,
obrigado pela visita e pelo comentário...
gostaria, se vc permitir é claro, de adicionar a logo do seu blog no meu blog, ok
abs...
A confiança de Gachot no julgamento favorável era tanta que ele tinha até um teste marcado para o mesmo dia da audiência em Imola. Ele não guarda mágoas de Schumacher, que até foi bem gentil com ele após seu retorno, mas não perdoou Eddie Jordan por não tê-lo chamado de volta.
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