Se alguém estava com sono nos instantes precedentes à largada, logo tratou de acordar. Mesmo em pista seca, a corrida foi excelente.
Na largada, Kimi Raikkonen pulou para a ponta e barrou Lewis Hamilton, que se desesperou ao ver Felipe livre pela esquerda e partiu para um ataque desnecessário, tentando reeditar a bela manobra de Monza-07. Tudo o que conseguiu, porém, foi espalhar e complicar a vida de outros pilotos, inclusive a do finlandês, que foi obrigado a contornar por fora e perder posições.
Kovalainen atuou muito bem em prol do companheiro na largada, entretanto teria de se retirar mais tarde com problemas mecânicos. Coulthard foi tocado por Nakajima e abandonou após a curva 1. Terminada a primeira volta, Massa era quinto e Hamilton sexto. Eis que o britânico parte para cima do brasileiro.
Na chicane, o ferrarista joga por dentro e dá uma espalhada, enquanto Lewis consegue superá-lo. Na segunda perna da curva, Felipe se lança contra a zebra e não acha espaço suficiente na saída, provocando a rodada do rival.
Assim como no caso anterior, pareceu um ato de desespero, sendo que desta vez o desesperado foi o Massa. Não só por ter visto seu principal adversário ganhando a posição mas também por ter sido atrapalhado por um Toyota que contornava a variante à sua frente. Felipe teve de retardar a virada de volante, já que vinha por dentro e Trulli usa o traçado normal. Para um piloto que briga pelo título, ser deixado para trás pelo rival graças à influência de um terceiro costuma ser desesperador. Naturalmente, arriscou tudo para se recuperar na segunda perna e deu no que deu.
De qualquer forma, foi bom para Hamilton despertar. Depois de bater em Webber e jogar Glock para a grama, exemplos de incidentes que geram críticas de alguns pilotos até hoje, fica o recado para o inglês: o Massa também sabe ser duro nas disputas de posição.
Rubens Barrichello demonstrou na prática a disposição de que falava, defendendo a posição com unhas e dentes contra as investidas de Nico Rosberg.
Kubica liderava quando a Renault resolveu mostrar astúcia nas estratégias. Colocou Alonso em primeiro através de um pit stop rápido, e confiou no espanhol para abrir tempo até a segunda parada. Para o Nelsinho, programaram uma primeiro stint longo e um segundo mais curto. Com o bom rendimento do carro, conseguiria mais tarde um ótimo quarto lugar, que poderia se converter em pódio caso não tivesse rendido tão mal na classificação.
Raikkonen atacou Robert Kubica na parte final da prova. Brigando contra os problemas no bólido e contra o ferrarista, o polonês se sustentou e garantiu a segunda colocação. No quintal da escuderia japonesa, Jarno Trulli fez um grande trabalho cruzando a linha em quinto.
A dupla da Toro Rosso estava prestes a faturar pontos importantes na tabela, até que Sebastien Bourdais saiu dos boxes e se chocou com Felipe Massa, que ficou atravessado na pista.
O brasileiro vinha fazendo volta mais rápida atrás de voltas mais rápida na tentativa de buscar um mísero pontinho que no final pode fazer toda a diferença, por isso não estava disposto a negociar tempo com ninguém, muito menos com uma pobre STR powered by Ferrari. O francês não teve a intenção de provocar a batida, mas falhou na hora de evitar. A equipe mala de comissários emitiu o comunicado dizendo que o incidente seria investigado após a prova. A expectativa era de que ninguém fosse punido, até porque, se pintasse punição, seria para quem?
Os membros decidiram punir Bourdais com 25s.
Os pilotos deveriam saber, já não é de hoje que a FIA age assim. Na fase final do campeonato, sobretudo nas últimas três corridas, os candidatos ao título vão se tornando cada vez mais intocáveis. Lembro-me de um penalty injusto em Fuji, no passado, para uma BMW que atrapalhou Lewis na corrida. Desta vez, foi Sebastien quem pagou o pato, embora fosse um acidente normal.
Claro que também não foi por acaso que os membros da Federação arrumaram um jeito de aplicar o mesmo penalty para Massa e Hamilton no mesmo GP. É a imparcialidade parcial.
Por fim, não poderia deixar de destacar aqui que é bom demais ver os dois grandes rivais se tocando na pista. Cenas clássicas que não têm preço. A diferença para as do passado é a certeza de ocorrência de penalidade. Neste ano os comissários andam mais exigentes do que nunca.
O campeonato ficou assim: Hamilton-84, Massa-79, Kubica-72. Kimi está fora matematicamente. O Mundial pode ser definido na próxima semana, em Xangai, se Lewis vencer e Felipe chegar atrás do quarto.
É uma pista onde a Ferrari deve vir mais forte. Por outro lado, se chover, a situação se torna arriscada. Massa precisa trazer o título para o GP do Brasil. O resultado que lhe é favorável são duas vitórias contra um segundo e um terceiro de Hamilton.
Em suma, tudo segue indefinido e há boas chances de a decisão ficar para Interlagos novamente.