FÁBIO ANDRADE
Quando Fernando Alonso anunciou sua ida para a Ferrari no ano passado houve quem apostasse numa pretensa comparação: apontar coincidências entre o espanhol bicampeão do mundo com um outro bicampeão que se mudou de mala e cuia para Maranello há 15 anos atrás. A tentativa era de tornar Alonso um semi-Deus, um mito pré-concebido para suportar a sempre desesperada necessidade de vitórias do cavalinho rampante. Coincidência ou não, Alonso já demonstrou que goza da mais marcante regalia que marcou a passagem de Schumacher na Ferrari e que também possui um senso competitivo tão ou mais aguçado do que o heptacampeão, não hesitando em ganhar ao custo que for necessário. Agora que venceu em Monza, num domingo apoteótico como só podem ser os domingos italianos em dia de vitória da Ferrari, já nem precisa ganhar o mundial. Segundo a egotrip ítalo-espanhola, provavelmente Alonso já repousa no Olimpo.
[caption id="" align="aligncenter" width="490" caption="Alonso comemora a vitória diante da torcida italiana"][/caption]
Apesar de os três primeiros chegarem na mesmíssima posição em que saíram, não se pode acusar o GP da Itália de ter sido ruim. Fórmula-1 é mesmo um xadrez em que as ultrapassagens são estudadas antes de serem levadas a cabo. E se Button complicou a vida de Alonso com sua carga aerodinâmica mais alta, os boxes ainda são uma alternativa com cara de 2009 para quem quer tentar a vitória.
Até Cingapura, Hamilton
Largadas em Monza costumam ser complicadas. A freada é distante do ponto de partida, os carros chegam ao Rettifilio em alta velocidade, e o espaço na chicane é estreito para que caibam todos. Mas muito antes da primeira variante, Alonso já havia perdido a liderança para Button. Depois da problemática primeira curva, o espanhol ainda ficou exposto ao ataque de Felipe Massa, que, ao contrário do se poderia imaginar, não aliviou para o 1A da equipe saf... não, não, da Ferrari. As rossas diviram a pista lado a lado desde o Rettifilio até a della Roggia, e na segunda chicane de Monza, Massa fez, involuntariamente, o trabalho de segundo piloto: tirou Hamilton da prova e deu uma mão a Alonso no campeonato.
No meio do bolo, os Red Bull lutavam para marcar a maior quantidade de pontos possíveis. Vettel não largou bem e caiu para sétimo. Webber largou pior ainda e desceu do quarto para o oitavo posto. Novidade boa para Button e Alonso, que lideravam seguidos de perto por Felipe Massa.
O trio se manteve compacto nas voltas iniciais, trocando décimos de segundo entre si, ainda que um ataque da parte de Massa fosse muito improvável. Alonso se aproximava muito nos trechos de retas longas, chegando a mudar o traçado nas freadas para tentar induzir Button a um erro. O piloto da McLaren, no entanto, aproveitava-se da estabilidade conferida pela maior carga aerodinâmica de seu carro e não permitia a ultrapassagem de Alonso. A dinâmica foi essa durante toda a primeira metade da prova. Logo ficou claro que seria dificílimo para Alonso concluir uma ultrapassagem na pista. Os boxes eram a última possibilidade do espanhol.
[caption id="" align="aligncenter" width="485" caption="Button lidera seguido por Alonso e Massa"][/caption]
Schumacher, Monza 2006
Se você não consegue ultrapassar na pista, ultrapasse nos boxes. Foi a regra máxima ensinada por Michael Schumacher enquanto era o maior piloto em atividade no início da década e foi assim que uma Ferrari venceu pela última vez em Monza, em 2006. Kimi Raikkonen liderava a corrida, mas Schumi tratou de utilizar sua infalível tática de ficar mais voltas com o tanque vazio na pista andando rápido e finalmente fazer o pit stop e voltar na frente. Hoje em dia já não se reabastece, mas vencer ao modo Schumacher ainda é possível.
A Ferrari, finalmente, fez um trabalho de box eficiente. Alonso foi devolvido à pista lado a lado com Button, mas com a preferência da primeira perna do Rettifilio. Um lance daqueles em que um piscar de olhos fora de hora nos boxes podia fazer a vitória pender para um dos lados, e pendeu para o do bicampeão. Na pista em que vitórias da Ferrari são comemoradas como um título pela torcida, Alonso, competente ao andar na cola de Button durante as 37 voltas que antecederam o pit stop de Button, deve muito de sua vitória ao time que os torcedores tanto amam. E não se trata de futebol.
Vettel, até o limite
[caption id="" align="aligncenter" width="390" caption="Vettel resistiu com os pneus duros durante 52 voltas"][/caption]
Enquanto todos os ponteiros faziam suas paradas para troca de pneus, Sebastian Vettel resistia com os mesmos compostos duros com os quais treinou ontem e largou hoje. Era sua tática para tentar salvar alguns pontos numa corrida em que os dois concorrentes diretos de Vettel pelo terceiro lugar no mundial ocupavam as duas primeiras posições da corrida. O alemão apareceu em quarto depois que todos os outros pilotos pararam para trocar os pneus. A estratégia aparentemente maluca de deixar para fazer a troca na última penúltima volta deu certo: Vettel manteve-se em quarto e minimizou o prejuízo na tabela. Webber terminou em sexto.
O pódio-pop
[caption id="" align="aligncenter" width="485" caption="A tradicional invasão dos torcedores na pista de Monza"][/caption]
Terminada a corrida, o protocolo de Monza transforma os vencedores em super stars. Super stars, na verdade, é o que são esses sujeitos que ganham salários milionários e passam boa parte de suas vidas aparecendo na tv. Mas a festa despretensiosa, apesar de grandiosa, feita pela torcida italiana em Monza foi transformada num evento quase mais destacável do que a corrida. O pódio virou palco, a torcida virou público, a tv transmite para o mundo todo e o ídolo pop aparece sorridente. A música que toca faz a massa delirar. Essa turnê mundial continua daqui a 15 dias em Cingapura.
6 comentários:
aquele pilotoon do Bruno Mantovani http://mantovani.zip.net/ com o go schumi
tava lá mesmo ou vcs que colocaram na foto?
Tava lá mesmo, João, a foto é do GP Update. Se não me engano, não é a primeira vez que os desenhos do Mantovani aparecem na F-1.
Alguem ouviu quando o Galvão Bueno falou Luca Disgrassi??
Uauhauhahhahahhh
O desempenho do Di grassi tá tão ruim que fez o Galvão soltar essa perola.
Involuntariamente uma ova. Ele fez bem consciente, já que passar o Alonso ele não poderia mesmo. Sob pena de ter de devolver a posição de forma humilhante pela segunda vez no ano.
Engraçado como são as coisas. A vitória de Alonso na Alemanha derrubou a sua reputação como se fosse um lote de ações do Lehmann Brothers. E a vitória dele na Itália restaura seu prestígio como... como... enfim, como a ajuda que Obama deu para a General Motors não falir.
Tem coisas que só acontecem na F1.................................. ou não.
A metáfora é pertinente, Médici, ainda mais porque a sensação de perplexidade persiste em ambos os casos. Na economia americana porque o governo de lá usou recursos próprios (ou seja, dos cidadãos daquele país) para socorrer instituições privadas sem nenhum constrangimento. Na F-1 porque, exceto no caso de espanhóis e italianos, todos acompanham um pouco incrédulos ao espetáculo de cara de pau ferrarista nos últimos meses. E em ambos os casos, ainda paira um gosto amargo na boca de todo mundo.
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