quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A derrota na pista como vitória da empresa



FÁBIO ANDRADE


Ainda ontem Dietrich Mateschitz, dono da Red Bull, causou furor ao declarar que prefere ser vice a ganhar o mundial com troca de posições. É bonito ver alguém do comando de uma empresa falando assim. Chega a soar como algo estranho numa categoria já habituada ao jogo de equipe, mas não deixa de ser admirável. Se o discurso do proprietário da Red Bull se confirmar e se a equipe deixar Vettel e Webber livres para voar em Abu Dhabi no próximo domingo, algo inédito estará acontecendo na Fórmula-1. Se Vettel vencer a corrida com Webber em segundo e Alonso em terceiro, o título caminhará para os braços do espanhol. Se mesmo num cenário desses a equipe não interferir, um dos cânones máximos da história da F-1, o jogo de equipe, finalmente cairá.




Uma hipótese como a do parágrafo acima colocaria instantaneamente a Red Bull num enorme paradoxo. A derrota de Webber seria classificada como honesta, como limpa, talvez como justa, certamente como uma derrota com muito mais valor do que o hipotético tricampeonato de Alonso, por razões que o GP da Alemanha explica bem. Por outro lado seria, ao mesmo tempo, uma derrota tola, fruto da censura, para alguns inexplicável, em usar uma tática consagrada, ainda que controversa, para ganhar títulos na categoria máxima do automobilismo.


É possível que uma derrota seja mais digna que uma vitória? Pessoalmente acredito que sim, mas isso nada tem a ver com a situação dos pilotos da Red Bull no campeonato e sim com convicções que eu cultivo enquanto ser humano. Uma hipotética derrota da Red Bull no mundial de pilotos em função do não-uso do jogo de equipe pode ser simplesmente uma vitória simbólica de Vettel, que esfregará na cara de Webber a sempre suspeita preferência do time pelo jovem alemão. Mas é por demais fora da realidade imaginar que uma equipe de Fórmula-1 deixe escapar um título simplesmente por um vínculo emocional mais forte com este ou com aquele piloto.



Se a Red Bull deixar o título escapar por relutar em usar o jogo de equipe, esta será uma vitória do esporte, certamente, mais também uma vitória do departamento de marketing da fábrica de bebidas Red Bull. Não consigo imaginar alguém que deixará de comprar uma Ferrari porque Felipe Massa deu passagem a Fernando Alonso no GP da Alemanha de 2010. Uma Ferrari é um bem de consumo durável, um símbolo de status, normalmente um produto palpável apenas para meia-dúzia de endinheirados que estão muitíssimo dispostos a ostentar seus dólares.


Também não consigo pensar em alguém que deixaria de beber Red Bull se Vettel desse passagem a Webber em Abu Dhabi, mas, teoricamente, uma fábrica de bebidas energéticas depende muito mais de seu marketing para sobreviver do que uma empresa-símbolo do capitalismo como a Ferrari. Sobretudo uma marca como a Red Bull, uma marca que deseja se comunicar com o enorme público jovem através de eventos pop e esportes radicais. Seria um prejuízo enorme para a imagem da empresa se seu nome fosse vinculado a um título decidido por uma decisão unilateral e autoritária como o clássico jogo de equipe. Sob essa ótica, a possível derrota da Red Bull no campeonato de pilotos e a disputa esportivamente admirável entre Vettel e Webber mesmo num momento de decisão transformam-se menos numa vitória do esporte e mais no triunfo da fábrica de bebidas Red Bull sobre a equipe de corridas Red Bull.

11 comentários:

Julio Cezar Kronbauer disse...

Não acredito no Diretrich, por causa do espólio da asa dianteira, há alguns meses.

O fato é que tudo estava pronto para uma conquista de Sebastian Vettel, mas não contavam com a ascensão de Mark Webber, que disputa o caneco, e tem melhores chances que o alemão.

Afinal de contas, quem está estampado nos rótulos dos packs de 4 latas de Red Bull é Sebastian Vettel, e não Mark Webber.

Daniel Médici disse...

Faz sentido. Afinal, os caras estão na F1 para vender latinhas, e a vitória, dependendo do modo como ela vier, não vai contribuir necessariamente para este objetivo.

Ron Groo disse...

É interessante ver a coisa sob este prisma, ultimamente não temos tantas demonstrações de ética assim e talvez por isto estejamos desacostumados.
Vamos ver no que dá.

Daniel Santos Machado disse...

Se realmente acontecer, pode-se dizer nesse caso que eles serião os "bons perdedores". Porém, na Fórmula 1 todos sabem que em certas horas, o jogo de equipe precisa acontecer, pois perder um campeonato ganho desses por querer dar de equipe mais honesta não dá. E no mais, se fosse Vettel que tivesse a frente, ai esse discurso seria outro, e percebe-se isso desde o GP da Turquia.

marcos disse...

que se forem éticos do jeito mesmo o que falam, será realmente uma vitória do esporte e também do maucaratismo Ferrarista. Mas tenho a teoria de que a Red Bull conseguiu o título mais almejado: O de construtores.

Javi disse...

Espera ahi...serio alguem esta acreditando que si a Red Bull precisa trocar posiciones para ganhar o titulo nao vai fazer? Ok pode ser que a ordem nao seja tao explicita quanto a Ferrari mas que tem troca de posicioes tem..Papa Noel e um cara muito bom e bacana o problema e que so existe em cabeça de criança.

Fábio Andrade disse...

É, Javi, isso lhe parecer meio impossível recomendo a leitura do seguinte post da Julianne no Faster F1: http://fasterf1.wordpress.com/2010/11/10/red-bull-e-o-jogo-de-equipe-politicamente-correto/

Aderson Pereira disse...

É facil decidir uma coisa dessas quando se é o proprio patrocinador principal da equipe.
Tipo: "O dinheiro é meu e eu faço com ele o que quiser".

Mas e quando o montante investido na equipe para ser campeã tem outro dono? Será tão fácil decidir uma coisa dessas?
"Ae fulano: Vc investiu muito dinheiro na minha equipe mas ela não vai ganhar o titulo porque eu não quero dar ordens pros meus pilotos."

Renan do Couto disse...

Bela postagem, Fábio.

O que me faz duvidar da desportividade da Red Bull é aquela confusão do GP da Inglaterra, quando tiraram o bico do carro de Webber e passaram para o carro de Vettel.
O que tenho pensado e vai virar post em meu blog nos próximos dias, é sobre uma preferência da Red Bull pelo título de construtores, que garante à equipe a fatia do bolo a ser dividida, garante a maior parte da grana, e deixa, no campeonato de pilotos, seus dois pilotos brigarem. Se tiver um piloto campeão vai ser lembrada por muito mais tempo, mas se não interferir no resultado, pelo menos nos próximos 20, 30 anos vai ser lembrada como a equipe que prezou pela desportividade. Mesmo que haja dúvidas sobre ela.

Aline disse...

A RedBull ajudou muito o vettel, mas a essa altura do campeonato está na seguinte situação, e tem mais é que capitalizar em cima dela mesmo: a RedBull não perde, mesmo que a outa vença!

Beatle Ed disse...

Balela da RedBull, papo furado, conversa pra boi dormir.

Podem apostar, na hora H, se a situação exigir, Vettel abre pra Weber.

Jogo de equipe sempre existiu, existe e sempre existirá.

O que vai determinar o rumo dos acontecimentos é a posição de Alonso no fim da prova.

O resto é adivinhação.