FÁBIO ANDRADE
Justamente no GP do Brasil, quando sua vó ou sua irmã, que quase nunca assistem Fórmula-1, estão na sala, você tem que dar explicações sobre quem é esse ilustre desconhecido que tem o número um ao lado de seu nome no crédito da televisão. Isso quando já não basta ter que dizer quem é o tal Mark Webber e o outro tal Sebastian Vettel e ter que ouvir à odiosa pergunta sobre o por que de Schumacher não estar mais ganhando nada. É justamente quando a televisão dá mais notoriedade a um produto que normalmente passa batido na programação que a maior zebra do ano acontece. E aí o jornalismo da Globo, que normalmente já não consegue explicar bem o que é uma corrida de automóvel, tem um trabalhinho a mais para a próxima edição do Jornal Nacional.
[caption id="" align="aligncenter" width="490" caption="Nico Hulkenberg, o pole do GP do Brasil"][/caption]
Nico Hulkenberg teve grande senso de oportunidade na tarde desse sábado em Interlagos. Larga na primeira posição no GP do Brasil, desbancando os favoritos que brigam pelo título. Ao seu lado na primeira fila está o também jovem Sebastian Vettel. Uma primeira fila inteiramente alemã e que tem 46 anos de idade se somadas as idades dos integrantes que têm 23 anos cada um. O ídolo de ambos nesse esporte em que competem, Michael Schumacher, tem 41 anos de idade.
A pole conquistada por Nico Hulkenberg é a primeira da equipe Williams desde o GP da Europa de 2005, quando o também alemão Nick Heidfeld cravou o melhor tempo no treino classificatório em Nurburgring.
A pole da despedida
Um resultado como esse só poderia vir mesmo em Interlagos. É, afinal, uma pista que tem suas limitações, poucas curvas de alta velocidade, mas configura-se como um dos traçados com mais personalidade do calendário mesmo assim. Disputado no sentido anti-horário (só Turquia, Cingapura e Coreia do Sul também o são) e com uma grande variação de relevo, a pista possui curvas em subida, em descida, miolo travado e um longo período de aceleração com duas guinadas para a direita. Foge do mais do mesmo visto nos tilkódromos e conta com o bônus da instabilidade climática para tornar a coisa ainda mais fora do comum. Só mesmo num lugar assim, na América do Sul ignorada pela maioria dos grandes eventos, para que um cidadão também não muito conhecido e a beira do desemprego pudesse dar seu cartão de visitas com 18 corridas de atraso.
Nico Hulkenberg é um estreante em 2010, mais um dos muitos jovens pilotos que chegaram na F-1 como grandes promessas. Na visão desse blogueiro, não é um piloto ruim, ao contrário, conseguiu acompanhar o veterano e experiente companheiro Rubens Barrichello em algumas ocasiões na classificação, eventualmente conseguindo até posição melhor do que a do brasileiro, seu parâmetro imediato de comparação. Apesar dos bons resultados em seu ano de estreia (seu melhor resultado é o sexto lugar obtido na Hungria) está sem emprego para a próxima temporada. A equipe pela qual disputa o mundial, a Williams, perderá os dois principais patrocinadores e precisou vender a vaga da Hulkenberg para o venezuelano Pastor Maldonado, que levará consigo vultoso patrocínio petrolífero de seu país.
[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Depois de 5 anos a Williams volta à posição de honra"][/caption]
Justamente quando está perto da despedida, Hulk deu à Williams o retorno ao lugar de onde uma das equipes mais tradicionais do esporte a motor jamais deveria ter saído. Esporte quase nunca tem a ver com justiça, mas não custa perceber o quanto as coisas se sucedem de uma forma cruel de vez em quando.
Onde estão os favoritos?
Crueldade foi o que Hulkenberg fez com a concorrência. Mesmo com o piso molhado, todos apostavam que os seis pilotos das três equipes grandes estivessem nas primeiras posições. Afinal a chuva não era torrencial, pelo contrário, foi diminuindo até acabar totalmente e, já no fim do treino, possibilitou o uso de pneus slick, de pista seca. Apesar disso, o asfalto de Interlagos era um traiçoeiro tapete que só permitia a pilotagem no “trilho” seco, com o agravante de ainda estar muito molhado na curva da Junção.
Robert Kubica e Mark Webber logo experimentaram o quão complicada estava a freada da Junção, escapando e passeando na área de escape. No restante da pista, porém, a pilotagem com pneus slick já era razoavelmente segura, e os tempos começaram a baixar, apesar do piso úmido. Óbvio, a pole position de Hulkenberg foi, em parte, condicional. O alemãozinho (perdeu, Vettel) não teria carro para brigar pela ponta em pista totalmente seca. Mas, por outro lado, Hulk faturou a ponta com os grandes pilotos e as grandes equipes na pista. Felipe Massa, duas vezes vencedor e especialista em Interlagos estava lá. Rubens Barrichello, que goza de ótima reputação no molhado, também. Sebastian Vettel, outro pato, estava na disputa. Até mesmo dom Fernando Alonso, o fodão, brigava pela ponta. Todos ficaram atrás do desconhecido Hulkenberg.
E ficaram atrás por muito. Hulkenberg conquistou a pole com vantagem digna de piloto Red Bull. Um segundo sobre o rival mais próximo, Vettel. Tal como o próprio Vettel fez em 13 de setembro de 2008, quando marcou a pole position sob chuva em Monza no GP da Itália com um carro modesto, Hulkenberg fez o mundo parar e perceber nesse 6 de novembro que mesmo quando há um título em disputa, grandes campeões, grandes favoritos, há espaço para a surpresa, para o imponderável. Há espaço para que um moleque de 20 e poucos anos surpreenda e dê uma oxigenada no ambiente meio quadradão da F-1. Hulkenberg pode não ganhar nada amanhã, e provavelmente não ganhará a corrida, que deve ter pista seca e sol, mas trouxe de volta alguma poesia quando só se falava em jogo de equipe na Ferrari e briga dentro da Red Bull.
Red Bull favorita
Vettel largará em segundo e é o grande beneficiado com o resultado do treino. É uma espécie de primeiro colocado sub judice, se é que tal condição é possível. Terá a companhia de Webber que parte em terceiro e verá Lewis Hamilton pelo retrovisor no quarto lugar. Alonso, único com condições de sagrar-se campeão no Brasil amanhã, partirá em quinto, muito abaixo do que a torcida espanhola esperava. Jenson Button, já em situação delicada na tabela, deu o adeus definitivo à briga pelo título. A não ser que algo muito fora do comum aconteça em Interlagos. Com um treino classificatório tão fora do comum, no entanto, é bom não duvidar.
5 comentários:
Vai ganhar? Provavelmente não... Mas valeu a pena, foi redentor, ver o carro de Grove na posição de honra... E ver Ferrari, Blueboys, Kubica... comendo água foi o máximo.
GO Alonso... mostre pra RBR que vale mais um piloto competente para ser campeão do que ter um melhor carro. Button para mim você é um piloto meia boca e seu titulo ano passado foi o mais inexpressivo da F1, correr com um carro incrivelmente superior durante metade do campeonato é muito facil e ainda ter um amarelão feito o rubens de companheiro!!!!!!!
Sobre ele ganhar ser pouco provavel, bom, se alguem tivesse perguntado no inicio do Q3 qual a probabilidade do Hulk fazer a pole, todo mundo teria rido! E o Reginaldo Leme falou q ele teve sorte de pegar o uma volta no final com a pista seca, mas tem um detalhe: a penultima volta do Hulk jah foi melhor que a volta q Vettel e Webber fecharam logo na sequencia!
Quando sua vó ou sua irmã? Pq não seu vô ou seu irmão?! :PP
Perdão pelo machismo corrente nesse blog, Dea =)
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