quinta-feira, 4 de novembro de 2010

GP do Brasil: o que você não vê na tv



FÁBIO ANDRADE




O vídeo acima é o resumo de uma corrida bem documentada, sobretudo para nós brasileiros, que temos rico material sobre as grandes vitórias de Ayrton Senna. Para os desavisados, trata-se do lendário GP do Brasil de 1991, quando Senna viveu o drama de passar as últimas voltas com apenas a 6ª marcha da McLaren funcionando, rezando para que a Williams de Riccardo Patrese não conseguisse se aproximar até a bandeirada.


Apesar de essa ser uma memória já bastante conhecida, o vídeo vale a pena sobretudo pela diferença entre a transmissão de Fórmula-1 que se fazia há 20 e a que se faz hoje. No vídeo postado acima, em algumas tomadas, fica evidente, por exemplo, que o Laranjinha é uma curva feita em um senhor aclive. Essa sensação é bastante suavizada ou praticamente deixa de existir na transmissão televisiva atual. Isso dá uma ideia de como a tv altera a forma de percepção de uma corrida.


Para os que, como eu, ainda não puderam assistir a um gp de F-1 in loco, essa observação deve soar como mais um estímulo. A tv fornece os tempos de volta, as posições de cada um na pista e o rádio da comunicação entre equipes e pilotos, mas não permite um olhar subjetivo sobre o que se desenrola na pista. Dizem até que corridas de automóvel têm cheiro.


Ainda sobre o vídeo, no mesmo Laranjinha a câmera onboard revela a direção nervosa do McLaren de Senna, mas essa já não é uma esfera sob interferência da direção de imagens e sim dos próprios carros da época. Senna corrige a trajetória na saída da curva. Eram carros sem a aderência aerodinâmica extrema de hoje em dia, e era uma pilotagem inegavelmente mais bonita de assistir.

2 comentários:

Daniel Médici disse...

Tem cheiro, sim, de óleo e fumaça, mas diferente do de um carro comum. Bem diferente, aliás. Assistir in loco não é necessariamente melhor que na tv, mas é certamente uma experiência mais sensorial.

Quanto à transmissão, estranho que nunca percebi essa questão do aclive Laranjinha. Mas, num dos primeiros posts do meu blog, comentei algo que eu penso ser cada vez mais verdadeiro: há 20, 25 anos, o objetivo de uma transmissão era documentar a corrida. Hoje, é transformá-la em um espetáculo, em entretenimento. Nas transmissões mais antigas há mais silêncios, espaços vazios. Não é um Godard, mas os planos (tempo que separa dois cortes) são bem mais longos. Bem ou mal (às vezes, aliás, bem mal), a tv de antigamente não tinha como objetivo primário entupir nossos sentidos com estímulos diversos, como hoje, mas nos deixar informados.

Fábio Andrade disse...

Você fez com que eu me lembrasse de uma palestra do Tiago Leifert. Assisti há duas ou três semanas, foi aqui mesmo em Vitória.

Ele admitiu encarar esporte mais como entretenimento do que como informação. Disse que quando o sujeito liga a tv pra ver um jogo de futebol ou uma corrida, ele quer se divertir, não se informar. Não sei se discordo totalmente disso, mas acho um temor encarar o esporte exclusivamente como um mero entretenimento. Penso que nivela a coisa por baixo.

Enfim, lembrei disso assim que vi seu comentário, Médici.