terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Moss, Schumi e o limite da agressividade



FÁBIO ANDRADE


No final da semana passada o ex-piloto Stirling Moss saudou as medidas da FIA para evitar lances perigosos durante os grandes prêmios de Fórmula-1. As regras a serem implantadas em 2011 tratam de regular a questão da agressividade durante as ultrapassagens. O regulamento passa a rezar que "manobras que afetem outros pilotos como uma segunda mudança de direção na defesa de posição, colocar o carro além do limite da pista ou alteração anormal de trajetória durante a ultrapassagem não serão permitidas". Ou seja, o último trecho desse recorte do regulamento acaba deixando o julgamento sobre a licitude das manobras dentro da esfera da subjetividade, mas isso não vem ao caso, pelo menos por agora.


Stirling Moss, o último dos heróis dos tempos românticos ainda vivo, comentou a medida da FIA disparando contra o heptacampeão Michael Schumacer. Moss afirmou que as medidas da FIA visando coibir a pilotagem desonesta vão "provavelmente afetar Schumacher". O ex-piloto lembrou-se do imbróglio do GP da Hungria, quando o alemão vendeu muito caro uma ultrapassagem a Rubens Barrichello, expondo ambos ao risco de um grave acidente em Budapeste: "o que Schumacher fez na Hungria foi vergonhoso" - criticou o britânico.




E Schumacher, de fato, carrega a fama de Dick Vigarista - famoso personagem dos desenhos animados que tenta todo tipo de trapaça para vencer as corridas de automóvel -  desde a conquista de seu primeiro título mundial de F-1 em 1994. O alemão tentou decidir outro mundial de forma semelhante, jogando o carro sobre o concorrente, em 1997, mas dessa vez acabou sendo desclassificado. Pesa ainda contra o alemão a presepada armada durante os treinos classificatórios para o GP de Mônaco de 2006, quando Schumi estacionou sua Ferrari na Rascasse para impedir que rival Fernando Alonso, que vinha em volta rápida, cravasse a pole. E esses são apenas alguns exemplos do nível de competitividade em que o alemão disputava cada metro das pistas com os adversários.


Um lance que passou batido entre todos esses, talvez por não decidir o campeonato ou coisa do gênero, aconteceu durante o GP do Canadá de 1998. Na ocasião, Schumi saía dos boxes e bloqueou o também alemão Heinz Harald Frentzen, da Williams:




As imagens deixam claro que Schumacher retirou de Frentzen qualquer possibilidade de fazer a curva na tangência correta. Na época a hoje famosa regrinha da linha branca não devia nem existir - se existia não era cumprida, mas eu não tenho o regulamento de 1998 em mãos para tirar a dúvida - e Schumi teve liberdade para impedir a ultrapassagem de Frentzen tão logo saiu do pit lane. Entretanto, se o então bicampeão foi, no mínimo, deselegante ao bloquear Frentzen de tal forma, não havia - e nem há - regra que o obrigasse a dar passagem amigavelmente ao desafeto da Williams (em tempo: Corinna, a esposa de Schumi, fora namorada de Frentzen antes de conhecer o alemão mais queixudo). E é aí que a subjetividade citada no primeiro parágrafo entra em cena.


Decidir enfim o que é ou não uma alteração não-convencional de trajetória será uma tarefa para os comissários decidirem de caso a caso. E quando o Race Control informa que alguma situação de corrida entrou em investigação perante os fiscais nem sempre a decisão emitida após esse pequeno conclave goza da concordância da maioria dos (tel) espectadores. Medidas para garantir a lisura esportiva e a segurança dos pilotos sempre são louváveis, claro, mas também quase sempre elas dependem da interpretação subjetiva dos comissários e essa interpretação, muitas vezes, soa incompreensível aos ouvidos dos adeptos. Sempre há o risco de os fiscais, no final das contas, declararem que manobras como as de Schumi versus Frentzen são lícitas ou aceitáveis.

2 comentários:

Ron Groo disse...

Moss tem uma certa idade já, logo poerdoa-se o que ele disser.
Só não dá pra entender ele saudar medidas de segurança, logo ele que dizia que não usava capacete por que não era uma coisa máscula.

Renan do Couto disse...

De fato, em algumas ocasiões, Schumacher é desonesto, mas prefiro vê-lo como um piloto que anda sempre no limite, não quer deixar os outros passarem, quer aproveitar cada centímetro de pista. Em 1997, jogou o carro para cima de Villeneuve. Em 1994, não acho que tenha jogado o carro para cima de Hill - tentava, depois de um erro, manter a posição.