FÁBIO ANDRADE
A cada coelho tirado da cartola, Sebastian Vettel se parece mais com Michael Schumacher. Como assim qual Michael Schumacher? Isso não é pergunta que se faça, caro leitor. É lógico que falo aqui do Mega-Schumi, uma espécie de super-herói, um Super Homem vestido de vermelho cuja kryptonita foi uma aposentadoria de três anos. Vettel se parece com esse Schumi. Ok, a analogia já foi feita diversas vezes, mas não falo da semelhança entre os alemães no âmbito da obstinação, do “ser multivitorioso” que Schumacher foi e que Vettel caminha para ser. Falo de uma característica quase esquecida do heptacampeão, um detalhe, é verdade, algo sobre o qual quase ninguém se debruçou: as voltas voadoras no último minuto de classificação, a velocidade precisa e a precisão cirúrgica, a pole roubada quando o adversário já sentia o gostinho doce na boca. “Com o melhor carro é fácil”, dirá o mais incauto. Concordo, mas o RB7 não deu em Sepang o show que havia dado em Melbourne.
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A Hispania vai, a Williams fica
Não é nada para ser comemorar, afinal, a Hispania deve terminar a corrida algumas voltas atrás do líder, mas ao menos o time vai ter o direito de largar para as 56 voltas do GP da Malásia. Dessa vez o time coube na cota de 7% com cerca de um segundo de folga. O tempo limite para largar é de 1min43s516. Narain Karthikeyan, o último, cravou o tempo de 1min42s574.
O que definitivamente ninguém irá comemorar é a (falta de) performance da Williams. O time de Grove fez uma pré-temporada classificada como promissora, mas aí vem a temporada real e lembra a todos que os testes de inverno nunca permitem a real avaliação do potencial dos carros. Com algum otimismo, esperava-se que a Williams brigasse com Mercedes e Renault pelo posto de “melhor depois das três”. Mas a realidade da equipe britânica é bem mais dura: Pastor Maldonado ficou com o 18º posto, fora da classificação ao final do Q1. Rubens Barrichello avançou para o Q2 com alguma dificuldade e não passou do 15º lugar.
Vettel hoje o Schumacher de ontem
Michael Schumacher abandonando o treino ao fim do Q2 enquanto Nico Rosberg consegue pular para o Q3. Já virou rotina e a história repetiu-se em Sepang, com direito à feição preocupada de Ross Brawn ao fim da transmissão, com a face voltada para o nada e balançando a cabeça em sinal negativo. O mundo dá voltas.
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Quem também deu muitas voltas em Sepang foi Lewis Hamilton. O campeão de 2008 foi quem mais andou na classificação desse sábado. Foram 19 voltas, a melhor delas em 1min34s974. Isso depois de, no Q2, Jenson Button ter cravado 1min35s569, dando à McLaren não o status de favorita - pois o RB7 ainda é o grande carro do ano - mas de equipe desafiante na briga pela pole em Sepang.
Com sua volta abaixo de 1min35s, Hamilton tinha então grandes chances de ser o pole, já que o inglês foi o primeiro a virar na casa de 1min34s. Hamilton poderia sim ser o pole, não fosse o fato de Sebastian Vettel ainda estar em volta rápida. E o mundo todo já aprendeu que a combinação Adrian Newey + Vettel + sessão classificatória é quase um sinônimo de pole para o guri alemão.
E assim se fez, Vettel cravou mais um pole, a 17ª em 63 corridas disputadas, um aproveitamento de cerca de 27% em classificações. É importante sublinhar: para cada 4 sessões classificatórias Vettel foi pole em pelo menos uma. É uma frequência notável se comparada, por exemplo, com o número de poles de Fernando Alonso, bicampeão e reconhecidamente uma referência entre os melhores pilotos dos últimos anos. O espanhol tem 20 poles em 158 disputados, uma média de 12% de aproveitamento. É óbvio que são carreiras com desenhos e trajetórias diferentes, pois enquanto Vettel queimou etapas e muito velozmente chegou a uma equipe top, Alonso passou por um período de maturação mais extenso desde sua estreia na F-1, em 2001, até disputar de fato um título, em 2005. Mesmo assim, é de impressionar a precisão do alemãozinho na voltas voadoras, quando todas as grandes qualidades de um piloto são evocadas em seu nível máximo.
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Michael Schumacher não era um prodígio apenas no sábado, era dominador também nos domingos, e assim construiu seu império de títulos. Para chegar às sete taças contou com a incrível eficiência da Ferrari em seus melhores anos, algo que a Red Bull deu a impressão de que ia aprender a fazer, sobretudo depois do desempenho acachapante da equipe austríaca no GP da Austrália há 15 dias. Em Sepang, entretanto e pelo menos até agora, não se viu aquele domínio absurdo que Vettel exerceu sobre a concorrência no Albert Park. A pole foi conquistada com uma dose maior de suor na Malásia, o que pode sugerir que a McLaren vem mais forte sob forte calor e em pistas com curvas de alta em sequência, características mais presentes em Sepang do que no Albert Park.
A largada para o GP da Malásia será às 5 da manhã de domingo, com transmissão ao vivo pela TV Globo. Segundo o Weather Channel, há 60% de chances de chover durante toda a extensão da corrida, e a chuva pode vir forte e acompanhada de trovoadas. Caso a possibilidade se confirme, será a primeira experiência com os pneus de chuva da Pirelli - que não agradaram os pilotos devido à baixa aderência - em corrida.
Grid de largada para o Grande Prêmio da Malásia:
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2 comentários:
Espero que chova! Acho que essa corrida de Sepang vai ser melhor do que o esperado!
Boa corrida a todos!
Uma piada do minuto: Mark Webber entra na sala da diretoria de sua equipe e desabafa:
- olha, assim não posso continuar correndo!
- Mas, Webber, já esqueceu “Red Bull te dá asas”!?
- É, mas eu também preciso de kers!
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