segunda-feira, 26 de julho de 2010

Escândalo da Ferrari na Alemanha mudará a F-1?



FELIPE MACIEL


Quando perguntam a um ator qual o personagem mais marcante da carreira ele diz que é sempre o atual. Quando se pergunta a um técnico de futebol qual o time adversário mais perigoso, responde que é sempre o do próximo jogo. A Fórmula 1 está ficando parecida como este tipo de lugar comum. Responda rápido: Qual a pior polêmica da história? Fica a impressão de que é sempre a mais recente.

Mas não, a marmelada ocorrida no GP da Alemanha não é a pior coisa que já se viu. Eu diria se tratar de uma das polêmicas menos assustadoras da década. Áustria-2002 foi muito pior, ocorrendo logo no início de um campeonato onde o carro da Ferrari era disparado o melhor do ano, o que tornava injustificável o sacrifício de Barrichello para Schumacher vencer.

Em 2007 tivemos um escândalo de roubo industrial que gerou discussões durante um ano inteiro, culminando na eliminação da McLaren do Mundial de Construtores. O Nelsinho batendo de propósito em 2008 forma com o caso da espionagem as mais lamentáveis polêmicas extravagantes da categoria. Não só da década; da história.

A crise da mentira em 2009, sim, me parece uma passagem menos feia que a triste colaboração do Massa com Alonso em Hockenheim. Me reservo o direito de manter o sadomasoquismo particular de Max Mosley fora desta lista.



Desculpa se ficou parecendo um ranking de infelicidades, a intenção não é essa. Como pode se ver, a Fórmula 1 encontrou uma fase em que apresenta ao menos uma vergonha por ano, mas ela continua lá, firme e forte, cheia de espectadores e saldos lucrativos para as corporações atuantes. É um esporte que nem precisa se dar ao trabalho de tentar agradar seus stakeholders para fazer sucesso.

Mas será que nada muda? 2011 virá aí e a F-1 estampará uma nova encrenca nas páginas dos jornais de automobilismo? Alguém sabe como fazer isso parar? Aliás, será que Bernie Ecclestone e cia. desejam que isso pare ou eles gostam de ver o circo pegar fogo?

Pronto, fiz uma série de perguntas que não sei responder e você provavelmente também não. É duro explicar inclusive o fato de vivermos num período tão intensamente conturbado, com um show de crises em toda santa temporada. Possivelmente há alguma relação com o crescente nível de exposição, que desmascara as sandices que sempre existiram no meio.

Já temos a informação de que a audiência no Conselho Mundial está marcada para 10 de setembro. Serão 4 semanas de intervalo após a Hungria, no entanto o julgamento acontecerá somente na véspera do segundo GP de retorno das férias - Itália, diga-se. Em outras palavras, daqui a um mês e meio. Haja paciência... Eles terão tempo suficiente para ver o clima esfriar e minimizar a pressão do público que exige a desclassificação da Ferrari na corrida de Hockenheim.

Fecho o post respondendo a pergunta do título: independente da decisão do Conselho, nada muda na F-1. A Ferrari já escolheu seu piloto privilegiado neste ano, logo ela não irá voltar atrás. Se perder os pontos da Alemanha pode ser pior, o desespero para ajudar o Alonso aumenta. E em breve teremos novas polêmicas por razões semelhantes ou não, e mais Conselho, e mais Corte. A Fórmula 1 não aprende fácil. A quem não ameaça assistir campeonato de bocha, melhor se manter preparado para a próxima.

14 comentários:

Magno Santos disse...

Fico imaginando qual seria o incalto brasileiro que não tivesse isso como uma verdade subliminar.
Massa fora contratado para dar sustentabilidade ao projeto da equipe Ferrari de ser campeã do Mundial de Construtores 2010.
Alonso foi contratado para vencer o Mundial de Pilotos.
Isso é tão difícil de entender?
Sou um Mclarista, conquanto, ainda tenho a clareza de ver "os fatos como eles são".

Daniel Médici disse...

Um post bastante estruturalista. E isso não é uma crítica. De fato, não há perspectiva de mudança. Os escândalos continuam aparecendo, assim, como os dólares para a Fórmula 1 - talvez eles até aumentem com estes episódios, da mesma forma como aumentam os acessos aos blogs como o meu e o seu. Como blogueiros e espectadores, somos vítimas e cúmplices de todos os atentados contra o esporte, e nada vai mudar este fato.

André disse...

Há centenas de anos passados, a igreja católica se achava a ponte entre o céu e a terra, hoje corre atrás do preju, ainda hoje o presidente Lula declarou que "somos o país do Voley", pra quem não sacou, o futebol perde adéptos ano pós anos e pra corroar minha explanação, a rede Globo esta perdendo ibope a cada dia que passa, pra quem não concorda com a última afirmação procure se informar. Com relação a F1, a história não me deixa margem de erro, está caminhando para o abismo, esta parecendo política brasileira pois há tanta maracutáia, tanta indignação que só sobrevive devido à obrigação de voto, quem defende tais atos na F1 como normais, quem diz que não vai haver mudanças é melhor se posicionar melhor, pois tem muita gente caindo fora, aliás pra quem gosta de velocidade, a fórmula Indy está
sensacional. Grande abraço





obrigatória

Magno Santos disse...

Obrigado Felipe Massa.
Sua atitude neste domingo permitiu colocar à luz da razão, que um homem pode a seu juízo ter "coragem" mesmo se tiver de ser um "covarde".
Felipe Massa teve apenas a covardia de manter-se empregado pelos meios, cujos fins, escapam à compreensão de muitos de nós incaltos torcedores, que devotam disputas e arranjos na pista, como se fossem instrumentos do Estado-Nação.
Felipe foi um covarde, sim, conquanto, precisou de uma baita coragem pra sê-lo.
Quando um homem precisa "sobreviver", a moral, por vezes, é a primeira "a morrer", e isto ficou patente mais uma vez. Às vezes a verdade morre antes.
Ora, fazemos sacrifícios e imolamos a propria carne e isso nada tem a ver com "moral".
A motivação ainda permanece, de foro pessoal de quem o faz.
Felipe Massa nunca reclamou para si, carregar o país sobre rodas.
E isso é uma verdade inconteste.
Ele apenas corre, por seus próprios interesses.
Como eu trabalho, pelos meus.
Como quem está sofrendo agora, pelos seus.

Bruno Flávio disse...

Nada vai mudar na F-1.

Pelo menos no que diz respeito ao jogo de equipe, tenho certeza absoluta. E, se eu fosse gestor de uma equipe, definiria o primeiro piloto na pré-temporada. Colocaria no contrato e faria até pior: se meu primeiro piloto estivesse em 6o lugar e o segundo piloto em 4o lugar, por exemplo, ordenaria a diminuição de ritmo do segundo piloto para o primeiro piloto ganhar uma posição. Ainda que custasse duas posições ao segundo piloto. E o segundo piloto não teria nada que reclamar - como dizem na minha terra, o que é combinado não é caro. Após a corrida, qualquer desculpinha básica de economia de combustível, ou motor falhando, faltar de marcha, sei lá, qualquer coisa justificaria.

Apenas para ilustrar o que disse. Até hoje choro a perda do título de 2008, por um mísero ponto! Pois bem. No GP da Espanha, que foi a quarta corrida da temporada, a Ferrari fez dobradinha com o Kimi em primeiro e o Massa em segundo. Uma inversão de posições ali, na quarta corrida, teria dado o título ao Massa. Mas ele não era o primeiro piloto e a briga estava, em tese, aberta.

Mas a três corridas do final da temporada - no Japão - o Kimi terminou em terceiro e o Massa em sétimo. Se, ao invés de sétimo, o Massa tivesse terminado em sexto, o título também teria sido dele. De que valeu o pódio do Kimi naquela corrida?

As equipes de F-1 são empresas. Têm que assegurar o retorno ao investimento. Têm que faturar! Têm que ganhar! Acredito que as empresas têm que fazer o que for necessário para atingir seus objetivos (ok, vender a mãe também não). Ainda que isso custe magoar torcedores do país de um piloto. Como ficavam os austríacos no final dos anos 80, início dos 90, vendo a McLaren se dedicar integralmente ao Senna? Bem, os austríacos eu não sei, mas nós não achávamos ruim não...

Enfim... o fato é que são muito tênues as linhas que separam algo muito ético, apenas ético, antiético e muito antiético.

A Fórmula 1 não vai mudar. E todos nós que dedicamos parte do nosso tempo a ler os post do Felipe Maciel também não vamos mudar - vamos continuar assistindo do mesmo jeito. O tempo cura qualquer raiva. E quem usa parte do tempo para ler e comentar blogs, gosta muito. E não vai deixar de gostar.

Mas tem uma coisa que não pode mudar também não: o Felipe Maciel não pode deixar de escrever o blog não!!

Mais um excelente post!

irineu gonçalves filho disse...

acho que os brasileiros terão de boicotar a f-1, pois se são os dirigentes que pilotam, o que vamos fazer lá, vamos deixa-los sozinhos passearem com seus carrinhos controlados por um bando de hipocritas que não respeitam os sentimentos dos torcedores. Vamos iniciar um boicote " não a Ferrari".

Javi disse...

Felipe,parabens pe los post do asunto do GP da Alemanha achei muito objetivos.Eu fiquei surpresso de tudo essa revolta dos "fas" da formula 1,e fiquei ainda mais surpresso em leer jornalistas de muita "tradiçao" falar palavras como "roubo" "imoral" "nojento" e por ahi vai...ahi resolvi dar uma olhada pe la internet e ver o que o povo falava la por 2007 e 2008 quando massa deijou kimi ganhar e quando kimi deijou massa ganhar ...lembran? as palavras eram "e logico" "um bom jogo de equipe" "e pe lo campeonato" entao eu me pergunto: o imoral passa a ser moral quando o lucro e grande? a mamrmelada nao e a mesma? se kimi ou massa na epoca queriam ser campea nao eberiam pasar ao companheiro no braço para a coisa ficar moral e etica? O hamilton debe estar puto da vida pensando por que esse povo tudo nao reclamou tanto em 2007..ah sim esqueci era "pe lo campeonato" entao ahi sim e legal fazer mermelada...vamos falar serio o que aconteceu domingo tambem foi "pe lo campeonato" a Ferrari evoluiu o carro e tem uma ultima chance de lutar pe lo titulo pequena mas tem chance..e so tem um piloto que ta indo rapido que e Alonso entao... a coisa fica bem clara.O povo queria o que? que a Ferrari falasse: nos gastamos um monte de milhoes no carro,estamos gastando outro monte de milhoes em evoluir ele mais voces fiquem a vontade briguem na pista..joguem os carros fora ou batam o que importa aqui e o espiritu livre.Sinceramente quem espere isso da formula 1 pode desistir e pasar assitir formula indy que muitos ja ficam ameaçando que vao fazer...eu vou continuar assitindo formula 1 por que gosto ..Abraços

matheus disse...

Perdi uma paixao (ferrari)
Estou a busca de 1 novo time para me apaixonar
minha melhor resposta para isso, encontrem no link abaixo...
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-150314298-jaqueta-puma-ferrari-track-original-oficial-aceito-trocas-_JM

Aderson Pereira disse...

Aquele escandalo na Austria 2002 e o de Cingapura 2008 foram muito maiores que esse acontecimento do GP da Alemanha. A F1 mudou alguma coisa???

Pra mim nada a mais que uma estrategia pela luta do campeonato.
O problema, como já disse o Felipe Maciel, é que foi mal feita. Mais uma vez!!
Deviam ter decidido isso mais cedo e nas "escuras". Haveria menos polemica.

Tenho certeza que se fosse o inverso, Alonso facilitando pro Massa, as reclamações seriam bem menores.

Kimi_Cris disse...

A FIA devia era excluir a Ferrari do resto do Mundial como aconteceu á Mclaren em 2007.

Grande Abraço!

Kimi_Cris

Humberto M. Oliveira disse...

Pra mim o problema que mais me decepcionou não foi a F-1. Isso eu já ví várias vezes. O pior foi o Felipe. Eu sinceramente acreditava que ele seria campeão, agora vejo que nunca será. Duvido que qualquer campeão (de espírito), deixasse algum piloto passar só por ordem de equipe. Pense aí se Hamilton, Piquet, Vettel, Senna, ou outros tantos deixariam...

Ron Groo disse...

Se não houver uma punição de força, como excluir todos os pontos até aqui do time e dos pilotos, não mudará nada.

Sandro disse...

Ao meu ver, parece que para retomar o verdadeiro espírito esportivo da F-1 seria necessário retroceder o sistema de comunicação, ou seja, da forma como era praticada décadas atrás quando não existia comunicação via rádio, apenas através das sinalizações... primitivas mas funcionais.
Quanto a toda poderosa Ferrari, vale lembrar que ela nem sempre foi assim. A Ferrari era uma grande perdedora que de longe apenas via Willians, MacLaren e Benetton brigando pelo mundial.
Foi preciso 1 piloto alemão levar quase que toda a equipe do team Benetton para a Ferrari poder se tornar uma vencedora. Mas, agora sem o alemão e seu principal projetista as pessoas ainda teimam em afirmar que a Ferrari é uma grande equipe e que dará a volta por cima? Mera ilusão, pois a Ferrari que vemos hoje após a saída de Schumi e Brawn não passa de uma escuderia tentando se manter na pista como na época de Piquet,Mansell, Prost e Senna, ou seja, a Ferrari de hoje voltou a ser a verdadeira Ferrari de sempre. A única diferença é que os dirigentes e os torcedores esquecem do passado pífio da escuderia.
Que vergonha Alonso? Sua atitude infantil e de criança chorona não faz jus ao seu nome! Se é realmente um dos melhores pilotos da atualidade, que demonstre no braço o quanto é bom, pois na disputa entre Senna X Prost X Piquet X Mansell eles demonstravam na pista quem era o melhor piloto, sem reclamar e provavam no braço isso.

José Henrique disse...

Sobre a tramóia da ferrari no último GP, foi o bastante para eu me despedir dessa paixão que eu tinha de acomapanhar, sempre emocionado, os GP's. Sinceramente não esperava esse comportamento do Felipe, acho que acima de tudo estão os expectadores da F1 em todo o mundo e isso deveria ser levado em consideração. Sem a mídia/expectadores não existe a F1, pois não existiria o interesse dos patrocinadores. Por essas e outras, deixo de acompanhar esse esporte, até que venha outro Senna.
Acho até que vou migrar para a Fórmula Indy, competição e emoção não falta naquela categoria.
Abraço.