domingo, 25 de julho de 2010

Meus amigos me salvaram do GP da Alemanha



FÁBIO ANDRADE



Domingo a essa hora, nesse blog, costuma entrar no ar o Dupla de Equipe. Se você é leitor habitué, já sabe do que se trata. Se não é, explico: trata-se de uma seção com considerações dos dois blogueiros dessa página sobre o que aconteceu na corrida do respectivo dia. E o que aconteceu hoje em Hockenheim torna impossível a existência da coluna, porque o GP da Alemanha foi uma farsa travestida de corrida daquelas que faz o sujeito se sentir um idiota em frente ao televisor. Há apenas um assunto, urgente, grave, que exige uma palavra. Felipe Maciel falou aí embaixo. Peço licença a ele para falar agora, porque me abstive de “falar” sobre Fórmula-1 durante a maior parte do meu domingo.



Desde o meio da semana eu já sabia que não ia blogar hoje. Pela primeira vez em 2010 não seria eu o responsável pelo tradicional post pós-corrida que tanto gosto de fazer. Havia uma pretensa reunião com amigos que me impediria de ficar em casa após as 11 da manhã. Talvez eu nunca tenha sido tão grato aos amigos como fui hoje. Um muito obrigado a eles.

Todos eles sabem do meu gosto pela Fórmula-1. Pelo prazer que tenho em assistir a uma corrida. Paixão não se explica. A maioria deles compreende os telefonemas não atendidos aos domingos de manhã e os pedidos para que os encontros sejam mudados de data quando o dia coincide com o das corridas. Sim, já prescindi de me reunir com eles e com familiares para ver corridas, sou um tanto quanto repetitivo quanto a isso, e o pessoal mais velho de guerra na blogosfera com certeza já sabe. Muitos, tenho certeza, também já fizeram e fazem isso. Não quero parecer um tolo, mas sei que vou fazê-lo: esse esporte que me toma energia, ao qual reservo parte importante dos meus fins de semana, que ponho, muitas vezes, na frente de obrigações que fazem realmente a diferença, merece toda essa solenidade?

Eu repito: talvez nunca tenha sido tão grato aos meus amigos. Reunir-me com eles durante a tarde e o início da noite desse domingo me tirou de um estado de nervos que não se espera de um domingo pela manhã. Confesso que não teria prazer em escrever imediatamente após o GP da Alemanha. Broxei, admito. Desiludi-me, com a equipe pela qual torço, com o piloto que respeitei profundamente pela sua capacidade de evolução, por nunca se dar por vencido. Não me decepcionei com Alonso. Apesar de admirar seu grande talento, seu currículo de Schumacher já me fazia esperar por algo do gênero.

Em 12 de maio de 2002 eu tinha 13 anos. Chorei naquela manhã, no auge da minha pré-adolescência. De raiva. Dois anos antes, no dia 30 de julho de 2000, após uma corrida naquele “mesmo” Hockenheim, chorei também. Mas de alegria. Hoje não chorei, lógico. Mas talvez a lucidez de hoje, do “alto” dos meus 21 anos tenha feito com que o golpe fosse mais duro.



Não esperava que a Ferrari fosse capaz de repetir a maior burrada da história. Pelo menos não tão rapidamente. Áustria-2002 parecia ter sido uma lição suficientemente dura, mas, como descobrimos nesse domingo, não foi. Não serei hipócrita de dizer que reprovo o jogo de equipe. Acho justificável quando acontece na penúltima, última corrida, num campeonato disputado ponto a ponto. Massa já viveu isso, já entregou uma vitória em casa para Raikkonen em 2007 e já recebeu, deliberadamente, a segunda posição do finlandês, em Xangai-2008. Valia um campeonato. E ambos campeonatos decididos por um ponto.

Mas o que temos hoje? A 11ª etapa do mundial, restando oito para o fim. Alonso não é líder, nem segundo, nem terceiro, mas apenas o quinto colocado na classificação. O mundial não será decidido na próxima corrida. O que teria motivado, então, a repetição de uma história como a de oito anos atrás, quando, na sexta etapa de um mundial que contava com 17 corridas, Schumacher, com 44 pontos, um carro invencível e toda uma equipe a seu favor, venceu o GP da Áustria depois de receber a liderança de Rubens Barrichello, seis pontos, a 50 metros da linha de chegada?

Eu não sei. Não há uma resposta plausível. O presidente de uma grande patrocinadora da Ferrari estava nos boxes vermelhos assistindo a corrida. Apertou a mão de alguém do elenco do time italiano ao final da corrida, satisfeito. Eu não estava feliz. Estava decepcionado, e a metáfora do marido que se descobre traído feita pelo Hugo Becker é perfeita. Descobri que minha maior paixão me trai. Mas ao invés de ficar em casa chorando saí para me divertir com meus amigos. Eles me salvaram de passar o domingo mau humorado e decepcionado. Talvez já seja a hora de reservar mais tempo a eles. E menos à Fórmula-1.

9 comentários:

marcos disse...

realmente é broxante. Todos sabemos que a F1 cada vez ficar menos esporte e mais negócios, mas a Ferrari extrapola a antidesportividade. Em 2002, eu deixei de ver várias corridas, foi o campeonato que menos acompanhe porque me desiludi muito mesmo. Não estou tão desiludido como da outra vez, mas essa resignação é ruim, afinal o esporte que tanoto admiramos talvez não exista mais, teve alguns susprios nesses últimos anos, mas ele apenas agonizou e agora entra em um coma profundo. Afundando-se na prórpia ganância, a categoria tende a acabar e virar esporte de sheik milionário. Se eu não tiver nada pra fazer, eu posto, vejo a corrida coisa e tal, mas não sei se terei o memso prazer de antes em ver F1...

Agradeça muito ao seus amigos mesmo, porque eles te quebraram um galhão!

Felipe disse...

Então, vocês que estão sempre de olho na F1, quando o circuito vier para o Brasil organizem uma MANIFESTAÇÃO contra este tipo de ocorrido.

O pessoal que está mais ligado e vai no GP Brasil poderia organizar esta manifestação contra a Ferrari e a FIA!

Com vaias e placas, muita vaia mesmo!

Eu não vou no GP do Brasil, mas quem vai poderia organizar isso!

É uma falta de desportividade tremenda, muita mediocridade!

MANOEL S.SANTOS NETO disse...

FOI NOCALTE, O QUE JA ESTAVA SEM GRAÇA AGORA ENTÃO..., TENHO COISA MELHOR PRA FAZER AOS DOMINGOS DE MANHÃ.BRASUCAS FROUXOS E ENDINHEIRADOS, SÃO APENAS MOTORISTAS E NÃO ESPORTISTAS.

Daniel Gomes disse...

Excelente post, Andrade. Mas, infelizmente, por um péssimo motivo...

Anderson Nascimento disse...

Só tenho uma coisa a dizer: "Para um sujeito racional, uma trapaça acaba com uma paixão."

Ron Groo disse...

Santo churrasco heim, Fabião? hehehe

Pedrero disse...

Fábio, ontem eu senti EXATAMENTE a mesma coisa...
Porque eu ainda vejo a F-1? A resposta é não sei...
Porque eu acordo cedo e deixo de fazer outras coisas? Porque no fim de temporada e na pré-temporada, eu fico com aquele vazio torcendo pra começar essa merd* logo? Porque eu entro em trocentos blogs (inclusive esse, apesar de comnetar pouco) todos os dias? Não sei...
A F-1 está fazendo uma força tremenda para perder seus fãs...circuitos históricos ficam de fora para dar brecha para os fantásticos circuitos do Tilke... um regulamento que muda todo ano em busca da "volta das ultrapassagens", mas que parecem surtir efeito contrário ano após ano...e mais essa sujeirada, uma atrás da outra, que nem preciso citar aqui...
O que está ali não é realidade, é manipulado, é como se estivessem me chamando de idiota na tv, e eu achando lindo...
O pior de tudo é que domingo que vem, sabe onde eu vou estar? Vendo a procissão Hungara....
Eu sou um bocó mesmo...
Abraço

Fábio Andrade disse...

É, Anderson. O problema é descobrir que a gente nunca é tão racional como pensa ser.

Fábio Andrade disse...

Apesar da minha raivinha no fim do post acima, muito provavelmente irei te acompanhar no domingo, Pedrero. Cúmplices seremos frente ao televisor.

A gente ama esse negócio. Mas somos típicas mulheres de malandro. Gostamos de apanhar.