terça-feira, 14 de junho de 2011

Quem é você, Button?

Cada um dos seis pilotos das três equipes de ponta da atualidade na Fórmula-1 convive com algum estigma, um gracejo, uma marca jocosa que acabou sendo incorporada à sua imagem com o passar do tempo. Mark Webber é o leão de treino, o cara que “está voltando ao normal” depois de correr como campeão em algumas prova de 2010 e disputar o título até a última corrida contra o queridinho da equipe. Felipe Massa é o “quase campeão”, mas o quase soa aqui quase (!) como uma ofensa, um quase agressivo, que faz questão de lembrar que o vice é o primeiro dos últimos. Os quatro pilotos restantes, mesmo sendo campeões, não escapam: Sebastian Vettel é o “menino”, o campeão verde, o garoto com pinta de gênio que foi campeão mesmo cometendo erros no atacado, e que por isso precisa amadurecer. Lewis Hamilton idem, com o agravante de ter uma personalidade meio pitoresca graças a seus ataques de estrelismo. Fernando Alonso pouco pode ser criticado pelo que faz na pista, é considerado o piloto mais completo de todos, mas a lendária antipatia à sua figura é célebre, sobretudo no Brasil, imagino. Resta Jenson Button. Quem é Button nesse baile de máscaras em que todo mundo veste uma fantasia que não lhe agrada?

[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="No meio do bloco durante boa parte da corrida, Button era um improvável candidato à vitória no Canadá"][/caption]

O Groo diria que ninguém liga pro Button. É, a brincadeira fez sentido até 2008, mas é impossível ignorar alguém que tem no bolso um título mundial. É justamente aí que está a pedra no sapato de Button. Enquanto os outros cinco vizinhos de posições no grid são criticados pela falta de combatividade ou pelos muitos erros que ainda cometem, Button é o zoado da turma por ter sido campeão com um carro de outro mundo em 2009 (enquanto a Brawn era esse carro de outro mundo). Isso faz sentido?

Não gosto de questionar campeões. Acredito que, com raras e pontuais exceções, todos que chegaram a conquistar um mundial, com qualquer um dos regulamentos que já existiu, o fizeram por merecer. De mais a mais, crivar de críticas um piloto por ganhar com melhor carro é atentar contra ícones da própria história da Fórmula-1. Não foi com o melhor carro que Senna ganhou seu primeiro título? Não foi assim que Mansell e Prost jantaram a concorrência em 1992/1993? E Schumacher em 2002 e 2004? E Vettel, que ganhará dessa forma o mundial desse ano? O melhor carro não pode ser demérito, não pode ser usado como arma contra o próprio piloto. Ter o melhor carro nas mãos faz parte do jogo.

[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Button abrindo caminho com a Brawn no GP da Austrália de 2009"][/caption]

Button é um campeão circunstancial?. Esse é um argumento que costuma pesar contra pilotos que conquistaram apenas um título. Mas se é assim, por que Hamilton, campeão com uma extensa lista de erros 2008, também não é questionado da mesma forma? E Raikkonen, que passou a primeira metade de 2007 tirando um longo cochilo? Há uma certa insistência em salientar que Button venceu seis das sete primeiras em 2009 enquanto seu carro era imbatível e depois não se destacou. Ok, mas não seria essa uma mera questão de distribuição de vitórias ao longo do campeonato?

Sobre as vitórias na chuva, parecia que até ontem Button não tinha uma grande exibição no molhado. Mas ele tinha a sua primeira vitória, com a Honda na Hungria em 2006, quando a corrida começou com chuva e foi secando, com todos os grandes pilotos da época na pista.

[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="Vitória úmida: Hungria 2006"][/caption]

O que é definitivo nessa história toda é que depois desse GP do Canadá a imagem que muitos faziam de Button mudou. Não é mais só o companheiro do Hamilton. Button é o sujeito que venceu uma corrida depois de duas batidas, uma punição, um pneu furado, e um total de seis pit stops, numa pista que variou de encharcada a úmida. Combativo, mas sem ser atabalhoado como Hamilton, Button teve de recomeçar sua corrida a cada punição/batida/furo de pneu. Deu sorte pelas várias entradas do Safety Car, que garantiram que o pelotão ficasse compacto, mas quem disse que sorte não faz parte do jogo? Button, no finzinho, contrariou sua fama de “piloto que não ultrapassa” e ultrapassou como se não houvesse amanhã: Schumacher, Webber e, finalmente, Vettel. Este só capitulou de forma tão primária na última volta graças à pressão de Button, que induziu o atual campeão e líder do campeonato ao erro.

E agora, quem é Button? É o gente boa, o lord, o piloto educado que desfila com sua bela Michibata por aí. No passado, quando muitos davam sua carreira como encerrada, já fora o playboy, o festeiro, o deslumbrado com esse mundo de aparências da F-1. Para quem já operou tamanha metamorfose, não é de estranhar que o GP do Canadá tenha sido o casulo desse Button agressivo e determinado que abriu as asas domingo em Montreal.

9 comentários:

marcos disse...

Button é um pilotaço. fato. mas é oque dizem que o piloto conquista o respeito de todos quando é bicampeão ou quando faz uma corrida memorável. Button atualmente é o que guia melhor no grid da F1.

Maurilyn disse...

Parabéns pelo post!! Não acho que Button seja campeão ao acaso, sempre teve talento, apenas demorou para ter uma oportunidade de mostrá-lo!

Ron Groo disse...

Não querendo ser chato... mas ninguém liga pro Button mesmo... Fez a melhor corrida da sua vida, ganhou com méritos sensacionais mas o que a imprensa faz? Divulga que o GP foi interrompido, que Hamilton fez merda e que Vettel Errou...

É ou não demais?

LucianoMT disse...

Pilotaço, maduro, experiente, e agressivo na hora certa...Uma espécie de Alain Prost comteporâneo. É o piloto com maiores condições de bater Vettel. Button já faz tempo que mostra suas qualidades, mas, como Prost, é meio apagado. Vai ser campeão mais vezes, e vai continuar "morno" pra imprensa.

Marcelonso disse...

Fábio,

Button é um baita piloto, não é campeão por acaso. Pena que nem sempre pilote desse modo.


abs

Fábio Andrade disse...

A história é a seguinte, pessoal: não acho Button o cara mais rápido do grid, acho que ele tem problemas a resolver com a classificação, por exemplo. Normalmente ele não consegue um bom ritmo aos sábados e isso complica a vida dele nos domingos. Acho também que ele precisa de uma vitória "normal" na McLaren, já que as três vitórias dele na equipe foram conquistadas explorando condições adversas de pista. Mas uma das coisas que me incomodava (vamos ver se continua incomodando) é o fato de Button sempre ter sido subestimado na McLaren. O que aconteceu em Montreal é meio que uma síntese do momento da dupla da equipe: Button conquistando uma vitória em que poucos apostavam, surgindo meio que "do nada" com seu estilo come quieto e Hamilton desorientado, tocando com todo mundo na pista.

Enfim, acho que Button é mais do que isso. Talvez o post não tenha deixado muito claro, mas penso que é preciso olhar para esse piloto com mais cuidado. Ele pode não ganhar corrida com a garra e a gana do Hamilton, mas é preciso perceber o valor de sua condução.

Reinaldo disse...

Post sensacional amigo, você está de parabéns. Argumentos muito bons, você escreve muito bem!

felipe carneiro disse...

Corrida canadá 2011. A segunda parte que não passou na globo.Audio em ingles e qualidade regular
http://uploading.com/files/demcemem/F1%2B-%2BCandian%2BGrand%2BPrix%2B-%2B12-06-11_xvid.mp4/

Matheus Darswik Rodrigues Barbosa I disse...

Este menino (Jenson Button) demonstrou ser possuidor de um talento profundo e espetacular e sua educação e sua inteligência distingue-o em relação aos demais.
Este êxito (Canadá 2011) comprovou sua capacidade e considero-o indiscutivelmente o melhor automobilista deste planeta,por sua profunda distinção técnica,sua educação lordesca,seu caráter e sua honestidade.
És um jovem brilhante menino Jenson Alexander Lyons Button.