terça-feira, 30 de março de 2010

Um espectro ao redor de Schumacher



FÁBIO ANDRADE





Dois mil e nove, final de agosto, início de setembro. Eu, completamente offline por causa de uma pane em meu computador pessoal, fico sabendo do retorno de Michael Schumacher pelo sotaque inegavelmente nordestino de Ticiane Villas Boas, no Jornal da Band. Exulto, é claro, porque a volta de piloto sobre o qual recaem ódios e paixões prometia sacudir um pouco o marasmo da temporada em que Jenson Button podia se dar ao luxo de controlar a tabela de classificação de longe.

A imprensa do mundo acompanha o movimento e também explode em manchetes celebrando o retorno do alemão depois de apenas 3 anos de aposentadoria. Schumi substituiria Felipe Massa na Ferrari, nocauteado pelo acidente durante a classificação para o GP da Hungria. Só que a pretensa volta do maior quebrador de recordes da F-1 se desfaz melancolicamente diante das limitações físicas contraídas após uma queda numa corrida de motocicletas na Alemanha. Luca Badoer e Giancarlo Fisichella acabam ocupando o cockpit vago na equipe italiana e são violentamente fritados por um carro difícil de guiar.

Dezembro de 2009. A Mercedes anuncia a contratação de Schumacher como piloto titular. Dessa vez sem adiamentos, o anúncio é formal e oficial e o alemão aparenta estar recuperado das dores no pescoço que o impediram de correr três meses antes pela Ferrari. Repete-se o mesmo rosário de festejos pelo retorno do mito.

E agora, em março de 2010, depois de duas corridas em que o desempenho de Schumacher ficou bem abaixo da crítica, o movimento é o contrário. Chovem críticas sobre a cabeça do alemão e diante dos resultados fracos, ninguém oferece ao heptacampeão um guarda-chuva. É o preço do risco que Schumacher correu ao voltar.

Quando desligou o motor de sua Ferrari no GP do Brasil de 2006, Schumacher era uma lenda viva. Saía de cena como mito, mesmo perdendo os dois últimos mundiais para o jovem Fernando Alonso. Mas vitórias e derrotas são parte do esporte, mesmo que durante parte da carreira do alemão, a derrota tenha praticamente sido riscada de seu vocabulário. Os dois campeonatos perdidos para o jovem e talentoso espanhol não arranharam os 7 títulos de Schumi. Numericamente incontestável, ainda que sua carreira abra espaço para toda a sorte de questionamentos.

Essa era a herança imutável que Schumacher oferecia para a F-1 até então. Ele seria para sempre um mito porque mesmo não sendo campeão em seu ano de despedida, parou no auge, disputando o título até o fim, com uma impressionante velocidade, mesmo aos 37 anos. Retornar três anos depois da aposentadoria era arriscar essa imagem de mito, numa aventura que tem dois destinos viáveis: em caso de vitória e disputa de título, eleva-se ainda mais como lenda, não só da velocidade como também da longevidade. Mas se passar 2010 em branco e com maus resultados, arranha a própria aura de maior de todos os tempos. Até agora a segunda alternativa é a mais próxima da realidade de Schumi.

Depois de duas corridas realizadas talvez seja cedo para julgar e talvez a imprensa internacional, sobretudo a italiana, esteja se precipitando, mas é fato que o desempenho do alemão em nada faz lembrar o dos ricos anos da Ferrari. Sexto lugar no Bahrein, décimo na Austrália, atrás do jovem companheiro de equipe Nico Rosberg nas duas ocasiões. Na Austrália ainda com o agravante de passar dezenas de voltas negociando uma ultrapassagem com o inofensivo Jaime Alguersuari, da pequena Toro Rosso.

O que acontece é que 2010 não é 2002, a Mercedes não é a Ferrari daqueles tempos, seu companheiro de equipe consegue ser rápido com frequencia e a geração que aí está seguramente é mais capaz do que a de oito anos atrás. Ao assinar com a Mercedes, Schumacher, na verdade, estava hipotecando seu próprio legado. Cabe somente a ele lidar com as críticas, porque esse foi um risco evidente assumido pelo alemão ao anunciar seu retorno.  Terminar de pagar a dívida contraída e recuperar a posse de seu próprio sucesso como superstar da F-1 será o objetivo maior do heptacampeão em 2010.

13 comentários:

marcelonso disse...

Era certo que Schumacher teria dificuldades no retorno,três anos fora,mudanças radicais nos carros e formatos das corridas,além de encontrar uma geração com muita gente talentosa.

Ainda assim acredito que é cedo demais para execrá-lo como os italianos tem feito,é preciso um pouco mais de tempo para o alemão.


abraço

Luiz Sergio disse...

Nessa última corrida, parece que eu vi algo que ninguém viu, Shumi, foi sistematicamente mais rápido que o seu companheiro, só na g3 é que o Shumi reclama que foi fechado pelo Fernando Alonso na sua volta rápida, tenho certeza que ele não iria inventar isso. Portanto a velocidade voltou.
Na largada, Shumi sai espetácularmente e é tocado pelo Alonso na primeira curva e é obrigado a trocar a frente do carro pelo dano causado no acidente. Shumi mostrou nessa largada que já está em plena forma.
Dizem que a suspensão fronteira foi afetada, não vou nem entrar nesse mérito da questão, só o que deu para perceber, que ele tinha muitas dificuldades para tentar as ultrapassagens. Nessa parte não vou discutir se o alemão desaprendeu a fazer essa manobra, penso que ainda tem muitas corridas para julgar essa parte.
Por último, na sua última ultrapassagem, eles mostrou que ainda tem muita garra para fazer a ultrapassagem batendo roda com roda.
Nunca fui e nunca serei torcedor do Shumi, mais não vou deixar de elogiar esse grande piloto.
Hoje na F1 tem uma grande quantidade de ótimos pilotos, posso dizer que talvez seja a maior geração de grandes pilotos no mesmo campeonato, só por isso a volta do Shumi é muito mais difícil, colocando as proibições de treinos para uma adaptação melhor e o F1 com os pneus mais estreitos na frente, faz o carro sair de frente, característica que o Shumi nunca gostou em seus carros, mostra a grande luta que ele tem que enfrentar.
Com todas essas barreira o grande campeão está de volta, não para simplesmente participar, voltou para aumentar os seus records.
Como dizem, quem viver verá!

Ron Groo disse...

Ok, 2010 não é 2002 e a Mercedes (ainda) não é uma Ferrari, mas o lance do companheiro de equipe não conta.
O viad... O Nico Rosberg só é rápido em treinos. Nas corridas ele é completamente apático e ridiculo.
Dar tempo ao Tempo... e o alemão volta logo.

iGOR BdA disse...

Algo que sempre me irritou; e nisso também não posso perdoar o Felipe, já que ele conhece de F1; é falar que Schumacher perdeu DOIS campeonatos para Alonso.

PÉRA LÁ!

Perdeu sim, UM, em 2006.

Em 2005 ele sequer pôde disputar o Campeonato já que o carro da Ferrari não era “nada”.

Alonso disputou 2005 com Raikkonen e sua McLata que vivia desmanchando nas últimas voltas!!!

Pois bem... desabafo à parte, sejamos honestos com nós mesmos; mesmo que Schumacher não faça absolutamente mais nada na F1, isso não altera em absolutamente NADA o passado absolutamente espetacular que teve.

Coloquem Pelé em campo numa Copa do Mundo aos 40 anos para ver... Deixará de ser o Rei do Futebol se não jogar nada????

Mais............

Muhammad Ali sofreu derrotas vexatórias, quando já quarentão e em fim de carreira, para Leon Spinks, Larry Holmes e Trevor Berbick (!!!) e isso em nada alterou o fato de ter sido o MAIOR BOXER DE TODOS OS TEMPOS!

Com Schumacher é a mesma coisa! A única diferença é que a hipocrisia na F1 acaba sendo pouco mais abundante por mil e uma razões que todos nós já estamos carecas de saber.

Abraços!

;)

Bruno Prado disse...

Adorava esse blog, uso a palavra no passado pois ERA isto que sentia... Ainda continua sendo um bom site de informações, mas as opiniões estão ficando cada vez menos factuais para serem emocionais, quase que inspiradas em Galvão Bueno... Contra fatos não há argumentos... Minha opinião em partes:

Nico Rosberg é um excelente piloto, totalmente adaptado as regras atuais, diferente de MSC que ainda esta em adaptação... (Ele não pilotava um carro de F1 sem Traction Control há quase 9 anos!)

Um dos poucoshttp://blogf-1.com/2010/03/um-espectro-ao-redor-de-schumacher/#comments prejudicados na largada desta corrida foi MSC, que sofreu um toque do ALO devido à uma fechada de BUT, com isso MSC teve que ir pro pit...

Na Austrália, traçado que MSC conhece, diferente do Bahrein, MSC fez o quarto melhor tempo da corrida... (WEB, ROS, HAM, MSC e BAR)

Apesar de seu tempo médio ter sido 0.909 maior que o de ROS, ele perdeu muito tempo atras de ALG (que apesar deu não achar um bom piloto, vem andando MUITO bem) e tambem nos out laps, pois ele fez 3 pits, contra 2 da grande maioria.

ALG andou MUITO bem na Austrália, chegando a cravar a volta mais rapida da corrida logo quando MSC estava atras dele... E ele não alivou nenhuma vez quando MSC colocou de lado... Muitos outros pilotos tambem não aliviaram... Talvez por ressentimento, ou por emoção... Vai saber...

No Bahrein, MSC andou de igual pra igual com ROS, sendo que a volta mais rapida entre os 2 foi de MSC.

Enfim, tem muito campeonato pra poucos fatos ainda...

Thiago Wilvert disse...

acho muito cedo pra julgar qualquer coisa...

abraço a todos!

Felipe Maciel disse...

Oi, Igor. Se me permite, usarei sua deixa pra falar ao nosso público do blog como um todo.

Eu já recebi muitos elogios no lugar do Fábio Andrade aqui, sempre tendo que repassar a ele o gentil reconhecimento dos leitores. Esta é a primeira vez que sou criticado no lugar dele.

Mas o quero é pedir a todos que se lembrem que este blog possui 2 editores. Não custa nada verificar quem é o autor de cada texto. O nome do editor está escrito tanto no início quanto no final do post justamente para que não restem dúvidas...

Vamos ter mais atenção, pessoal! O Blog F-1 é formado por uma dupla, e cada elogio/crítica/comentário precisa ser direcionado ao verdadeiro autor do post correspondente.

Abs

Felipe Maciel disse...

Bruno,

particularmente não reconheço essa suposta tendência do blog a se inclinar para o lado emocional, de qualquer forma agradeço por mencionar sua visão crítica. Só não precisava comparar com o Galvão, né? Aí desanima, pô.

Abs

iGOR BdA disse...

:D

Grande Felipe!

Agora sim tudo faz sentido! rsrsrs Realmente não me atentei para a assinatura do post, já que são alguns anos sempre lendo os seus, acabei indo no embalo.

De qualquer forma, a intenção da "crítica" foi mesmo só para corrigir uma informação colocada, à meu ver, de forma injusta. Nada para agredir ou tentar "tirar casquinha".

Mas mesmo assim, se possível, repasse o peteleco na orelha do Fábio Andrade! ;)

Abração!

iGOR BdA disse...

É, realmente Bruno... COMPARAR COM GALVÃO BUENO É SACANAGEM! :D :D :D

Fábio Andrade disse...

Igor, acho que entendi o que você quis propor.

Concordo com você, o Schumacher não deixará de ser ícone, seu passado não pode ser apagado. Mas o que eu quis dizer passa por uma questão menor, e se não me fiz entender foi incompetência minha mesmo.

O ponto é: o Schumacher é um piloto muito contestado dentro da comunidade automobilística. Muita gente relativiza os feitos do alemão e essa é uma disucssão que ainda existe e que foi requentada com a volta dele. Eu acho que não pertenço a esse grupo, pra mim o homem é gênio. Mas o que me ocorre é que esse retorno expôs o Schumi a novas pedradas, mesmo que eu também ache cedo para conclusões defintitvas.

E é apenas isso.

Pinheirinho - Brasília/DF., Brasil. disse...

Às vésperas do GP da Malásia, Michael Schumacher admite limitações da Mercedes, mas garante que ainda pode lutar pelo título. Heptacampeão prevê evolução do carro para o início de maio, na Espanha.
Pinheirinho é divulgador cultural é maranhense, a partir de Brasília. - E-mail: pinheirinhoma@hotmail.com

Bruno Prado disse...

Ok, ok, ok... Desculpa pela ofensa! :)

É que o Galvão exagerou no final de semana passado... Já tinha visto ele falando besteira, mas que nem a corrida passada, foi impressionante!

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