domingo, 21 de março de 2010

Senna, 50 anos



FELIPE MACIEL



Ayrton é diferenciado nos mais variados aspectos que podemos considerar. A equipe Williams é a única na história que se prontificou a realizar homenagem eterna ao tricampeão que morreu em seu cockpit. Não importa quantos anos se passarem, fãs e não fãs da Fórmula 1 irão lembrar de sua figura, e os novos inevitavelmente tomarão conhecimento de seus feitos neste esporte.

No aniversário de exatas 5 décadas de nascimento, o Instituto Ayrton Senna promove a iniciativa de construir o maior cartão de aniversário do mundo, no endereço senna50.com.br. A contagem já chegou à casa de dezenas de milhares de mensagens.



A estrela do Ayrton era forte, tudo conspirava a seu favor na construção da imagem íntegra e inabalável que de fato se criou. Vindo de um país cuja economia cruzava a chamada "década perdida", onde o instável sistema político clamava por radical mudança após anos de tortura sob poderio militar, uma nação que enfrentava longo jejum de títulos em Copas do Mundo... O único Brasil que dava certo era aquele que tremulava nas mãos de Senna, sob o som do Tema da Vitória, celebrando seus triunfos.

Mas não foi só entre os brasileiros que Ayrton se destacou. O mundo reconheceu seu extremo talento, sua dedicação e disciplina física, seu carisma, sua inteligência... e até mesmo o mão forte que ousava limitar suas conquistas para promover vitórias francesas.



O episódio de Suzuka-89 foi um passo importante na criação daquela figura heróica. Consistiu na denúncia de uma politicagem barata que ofendia o esporte descaradamente, que ainda culminou na humilhação pública do piloto injustiçado, se vendo obrigado a pedir desculpas a quem lhe prejudicou para seguir correndo na F-1.

No ano seguinte, a empatia de todos concordou que Senna tinha o direito de revidar na mesma moeda para vencer de forma suja, como se tal ação limpasse a sujeira da batalha perdida na temporada anterior.



Ayrton sempre caminhou em passos rápidos, precisos, corretos e seguros. Ele não dava uma escorregada, não falava o que não precisava ser dito, não dava patada em jornalista por mais estúpida que fosse a pergunta, não se envolvia em polêmicas extra-pista, transmitia a imagem de um sujeito-exemplo, o modelo a ser seguido, o homem gentil e vencedor.

Ninguém via o Senna esquentado e violento, - que até o Schumacher já teve que encarar. A visão das pessoas era muito bem trabalhada na TV. Perguntas perigosas levavam Ayrton a parar por 30s diante do microfone e pensar em cada letra da resposta antes de dizê-la. O piloto tem uma coletânea de frases sobre garra, fé, acreditar em si, acreditar em Deus, realizar sonhos. Ele era autoridade para falar sobre assunto, afinal ele realizou os seus.

O talento é inegável. A sexta marcha em Interlagos, a volta de todas as voltas em Donington, o desempenho na chuva, o rei de Mônaco, o piloto nos braços do povo, e tantas outras passagens fizeram a sua pilotagem chegar ao auge das discussões infindáveis sobre o maior e o melhor de todos os tempos.



No que depender do julgamento passional, Ayrton o é. Em Ímola, sua morte o imortalizou como um herói romântico do esporte a motor. Aos olhos arregalados, o mundo se despediu de uma figura sem igual, com todos os predicados que este país exige impiedosamente de todo brasileiro que se aventura na F-1.

Chegamos aos 50 anos de Senna, pois. Difícil dizer algo de novo, algo que não tenha sido dito. Mas não cansamos de repetir a cada marca medida em anos de aniversário de vida e morte de Ayrton Senna.

Porque, como dizia o poeta alemão: "triste do país que precisa de heróis". O Brasil precisa e teve o seu.

10 comentários:

Anderson Nascimento disse...

Um texto genial, Felipe! Ayrton mudou muito nos que tiveram o prazer de viver a sua época. Eu vive muito pouco, mas sei o quanto esse exemplo de pessoa significa para nós brasileiros. Não se trata de patriotismo, trata-se sim de humanismo. Uma palavra que Senna sabia levar consigo sem que ninguém notasse, mas que sempre quando preciso era extremamante sábio em usá-lo. Valeu, Ayrton!

Ron Groo disse...

Numa visão mas marxista/socialista da coisa Brecht está certo.
Afinal é melhor que todo o povo sinta-se herói e então ninguém precisará realmente de um.
Mas diabos, isto é esporte e aqueles cidadãos que arriscam o pescoço - por que querem, diga-se, sem haver uma necessidade real disto - a 300 e tantos quilômetros por hora são sim heróis. São super homens nascidos neste sistema solar e que não temem kriptonita.
Ayrton foi um dos maiores, o melhor em sua geração e um dos grandes de todos os tempos, toda e qualquer homenagem a ele rendida é justa.
Grande Ayrton!

marcos disse...

clap clap clap!

Mais uma belo texto sobre o grande Ayrton!

Gil disse...

É isso aí, Felipe! Eu sou suspeita a falar, porque sou fã incondicional e de longa data do cara. Por causa dele, eu deixei de ver somente largadas, chegadas e alguns momentos para ver tudo. Doeu aquele 1o de maio, mas eu prefiro lembrar das coisas boas, como essas que você e tantos outros lembraram hoje. E como me sinto privilegiada por pertencer a uma geração que o viu pilotar babando pela vitória!

Felipe F. disse...

- Gênio.

Pinheirinho - Brasília/DF., Brasil. disse...

Reverências ao mito. No dia em que completaria 50 anos, o tricampeão mundial Ayrton Senna ainda vive no coração de todos os brasileiros apaixonados pela velocidade.
Se estivesse vivo, Ayrton, nunca esquecido, completaria 50 anos ontem.
Capacete de hoje poderia salvar Ayrton Senna. Morte do brasileiro fez F-1 melhorar tecnologia da peça.
Pinheirinho é divulgador cultural é maranhense, a partir de Brasília. - E-mail: pinheirinhoma@hotmail.com

Felipe disse...

Ele sabia extamente o que representava para o povo... Talvez essa tenha sido a diferença para uma legiao de herois circunstanciais...

Ron Groo disse...

Este Pinheirinho é um porre...

Thiago Wilvert disse...

Excelente post, Felipe!

Senna, que saudade!

Abraço a todos.

marcelonso disse...

Felipe,


Ainda tenho na memória a primeira vez que assisti Senna na pista,foi em Jacarepaguá em 1989.
Ele se enroscou na largada com Berger e sua prova foi comprometida,ainda assim trocou o bico e deu show para todos aqueles que estavam lá para assisti-lo,depois abandonou.
Foi a prova do profissionalismo e do respeito ao seu povo.

Senna será reverenciado por muitas gerações.


abraço