O coração do carro ou o coração da equipe?

De toda a história da Honda na Fórmula 1, qual imagem ela gostaria que ficasse? Bem, parece uma pergunta fácil, afinal os anos de glória ao lado da McLaren são inesquecíveis. Até o seu recente papel na época da BAR era mais promissor do que como equipe Honda propriamente dita. Maldita hora em que os japoneses inventaram de comprar a equipe inglesa...

Às vezes perece que o modus operandi oriental destoa do estilo exigido pela dinâmica da F-1. Mas só de imaginar o quanto a Super Aguri progrediria se a montadora não a visse apenas como plano B...

A Toyota dispensa comentário, já que conseguiu se tornar o trágico símbolo de custo sem benefício do automobilismo. Mas o caso da BMW deveria provocar algum temor sobre sua rival Mercedes, que acaba de mergulhar de cabeça na Brawn GP.

Antigos parceiros da Williams, cansaram de tentar se entender com o Sir Frank e tomaram a iniciativa de adquirir escuderia própria para competir. A cada temporada, o sonho do título mundial se aproximava, até que em 2009 recebeu o primeiro golpe nesta sua trajetória: um carro mal nascido. Enquanto aprendiam com o jogo, gostaram de brincar. No único momento em que a brincadeira perdeu a graça, não quiseram mais jogar.

Sim, é evidente que existem outros fatores envolvidos. Podem colocar a culpa no KERS, no Mosley, na crise, no ar, na terra, na água, no fogo... Mas um carro vencedor passaria por cima de tudo, porque os resultados estariam ali.

Falando em vencedor, o time da Brawn nasceu apenas para vencer. Feito isto, virou outra coisa: agora responde pelo nome de Mercedes.

Esta vivia numa situação parecida com a da BMW na Williams, mas numa parceira um pouco mais bem sucedida. Porém, com a relação cada vez mais arranhada, lá vai ela em busca de sua própria escuderia. O primeiro momento é maravilhoso, a expectativa é das melhores, eles dizem que Ross Brawn pode ficar à vontade para escalar a dupla de pilotos, é a união do talento de um com o know how do outro, o know how de um com o dinheiro do outro, e assim vai.

É time para ser campeão, sem dúvida. A mais promissora parceria iniciada nos últimos anos, de fato. Mas não deixa de ser um risco como qualquer outro. BMW, Toyota e Honda não sobreviveram a esse risco. A Mercedes tem mais potencial para superá-lo... ao menos é o que imaginamos agora.

A movimentação das montadoras alemãs na F-1 está em evidência. A Volkswagen estuda ingressar na categoria a partir de 2012, como conta seu representante, o ex-piloto Hans Stuck, com clara visão sobre os últimos acontecimentos, demonstrando a lição aprendida.

"Há dois anos, houve algumas conversas de que a Volkswagen compraria a Red Bull, o que não precisamos fazer. Por que nos dedicaríamos a um se podemos fornecer motores a vários times? Se você compra a Red Bull e o Adrian Newey vai voar ou pescar, a equipe não tem mais sucesso. Veja a BMW. Eles compraram o caríssimo túnel de vento e um super computador e, agora, fecham as portas. Montar um propulsor e fornecer a uma equipe é a melhor coisa".

A Volks almeja entrar no circo fornecendo motores. Por um lado, não irão maximizar sua propaganda nomeando uma equipe de Volkswagen Racing Team, ou algo que o valha. Mas por outro, não será submetida a uma tão destacada vergonha de deixar a categoria pelos fundos caso algo saia errado.

Se vier, irá se concentrar na fabricação de propulsores, que é onde se sente mais segura para executar um bom trabalho.

Aliado a este pensamento exposto, podemos entender que a Fórmula 1 definitivamente deixou a Era das Montadoras, e os garagistas tendem a predominar em número no grid por um bom tempo. Foi-se o tempo em que uma Toyota da vida pensou que poderia gastar dinheiro com fábrica, time, carro e toda a competição na F-1 esperando retorno lógico do investimento. Foi um raciocínio ilógico. As montadoras que ingressarem agora precisarão ter mais pé atrás e ainda mais astúcia que outrora.

Caso a Honda fornecesse até hoje ao time de David Richards, ela teria desistido da F-1? Se a BMW sossegasse na Williams, teria saído com o rabo entre as pernas?

Só sei que, mais uma vez, a história cuidou de mostrar que a Fórmula 1 é um negócio insubestimável, um esporte que não poupa nem as maiores marcas do mundo.