Dois rivais apertam as mãos e selam a paz reservadamente após um acordo produtivo para ambos os lados. Logo depois, uma das partes comenta o fato em tom de vitória, comemorando o resultado como se tivesse aplicado um golpe de ippon em seu oponente.
Os pulos de alegria da Fota pegaram mal. Falaram mais do que a realidade permitia, foram inconvenientes e infantis, provocando um pequeno surto de raiva de Max Mosley, que atacou de volta, inclusive ameaçando, nas estrelinhas, se manter na presidência por mais um tempo:
"Se você deseja que o acordo que fizemos tenha alguma chance de sobrevivência, você e a Fota precisam retificar suas ações imediatamente. Vocês precisam corrigir essas falsas informações que foram dadas e, depois, não dar declaração nenhuma. Você, em pessoa, precisa emitir uma correção e pedir desculpas na sua entrevista coletiva nesta tarde", escreveu a Montezemolo.
"Fiquei chocado ao ver que a Fota veiculou a informação de que o senhor Boeri (presidente do Automóvel Clube de Mônaco e do Senado da FIA) havia tomado conta da F-1, algo que você sabe que é completamente irreal, e que eu fora forçado a deixar meu cargo, outra falsidade. E, aparentemente, eu não teria nenhum papel na FIA até outubro, algo sem nenhum sentido até pelos estatutos da FIA".
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Mosley não aceita sair como perdedor, e nem merece, afinal sua não reeleição é antes de mais nada uma decisão própria de quem já planejava deixar o cargo livre após mais de uma década na cadeira principal.
Max escreveu também à FIA alertando a entidade sobre o homem a ser escolhido para sucedê-lo: "Essa questão é uma matéria exclusiva de vocês, membros da FIA, e definitivamente não dos construtores de carros. Ter um presidente sob influência da Fota colocaria em risco todo o excelente trabalho de nossa organização e na promoção de melhores resultados ambientalistas e relativos à segurança da frota de veículos".
"Isso pode resultar em problemas a curto prazo na Fórmula 1. É possível que a Fota crie um campeonato independente. É direito deles, contanto que esteja sob o Código Esportivo Internacional. Mas o Mundial de F-1 continuará sendo organizado pela FIA como foi nos últimos 60 anos. O campeonato já teve momentos difíceis no passado e certamente terá no futuro, mas não há motivo para dar o controle a ninguém de fora da entidade".
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A chance de racha que ele mensiona não é tão alta; se não aconteceu antes, não acontecerá mais. Tudo o que se faz necessário é a ascenção de um nome independente dos interesses da Fota na presidência da federação. A Fórmula 1 não precisa e nem deve ser dirigida pelas equipes. A FIA é a verdadeira gestora das regras da categoria.
Da mesma forma que as expectativas não eram boas com relação a um campeonato de monopostos organizado por escuderias, seria ruim ver a F-1 cair nos braços dos times que a disputam. A mudança esperada virá com a entrada de uma nova mentalidade, uma criatura que assuma o cargo de Mosley e ponha fim à pirotecnia de regrinhas bobas que surgem e desaparecem segundo a boa vontade do dirigente trapalhão.
Para realizar bons mandatos, o presidente subsequente terá de mostrar pulso firme para bater de frente com as exigências da Fota em algumas oportunidades, visto que ela é uma organização de forte peso político, criada a menos de um ano, mas que já fez e aconteceu nesse meio tempo de existência. O desafio do sucessor inclui a aceleração do corte de gastos para assegurar a viabilidade do esporte, evitando retiradas surpresa ao estilo da Honda. Além, claro, de buscar melhores mecanismos técnico-esportivos, após as aparentemente fracassadas modificações nos bólidos desse ano, que não renderam o incremento sensível de ultrapassagem que gostaríamos de presenciar.
O bate-boca Max-Luca ainda persiste, mas o acordo traçado tem tudo para ser seguido. O presidente X vem aí. No momento, o difícil é prever quem.
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