domingo, 6 de setembro de 2009

Causo de transmissão

Quem já teve a oportunidade de assistir a um GP inteiro com a narração britânica logo nota que é uma das melhores do mundo, se não a melhor. Tem um corpo rico de profissionais cuidando das informações, e tenta se aproximar da inalcançável imparcialidade sugerida pela cartilha jornalística.
Aqui no Brasil, o canal responsável não dá o mesmo valor à categoria. O destaque é o piloto local. Na verdade, a culpa não chega a ser da emissora, ela apenas atende o que o grande público quer, e este público normalmente tem conhecimento suficiente para reconhecer que os carros vermelhinhos são chamados de Ferrari.
A transmissão tem início dez minutos antes da largada. Na Europa, há países que começam os trabalhos com meia hora de antecedência, há quem chegue a uma hora. Aqui, o mesmo só acontece quando o GP é do Brasil.
Estes nossos míseros minutos são o bastante para o locutor dizer boa tarde aos comentaristas e pedir o áudio da entrevista de Becker/Gil com os brasileiros. Uma coisa muito mais interessante faz o canal inglês: põe um de seus repórteres, Martin Brundle, perambulando pelo grid de largada em busca de curtas entrevistas com pilotos e personalidades. Mas isso todo mundo sabe.
O problema é que o ex-piloto não chega a ser propriamente um exemplo de delicadeza no exercício de sua atividade. Basta reparar no vídeo acima, da etapa de Valência. Na cara dura, o cidadão fura a fila ao vivo em rede nacional, para a surpresa da repórter da vez, admirada com seu ato de nobreza e cavalheirismo.
Apesar de algumas cenas estranhas, o famoso "gridwalk" de Martin se tornou sua grande marca e definitivamente consiste num trabalho difícil, talvez até mesmo cansativo. Se não soubesse usar o peso do nome de sua emissora, acabaria sendo visto como o "mala" do circo. Mas o ex-piloto sabe fazer. Às vezes se excede, mas sabe fazer.

10 comentários:

Willian disse...

"Na verdade, a culpa não chega a ser da emissora, ela apenas atende o que o grande público quer, e este público normalmente tem conhecimento suficiente para reconhecer que os carros vermelhinhos são chamados de Ferrari."

Concordo! O Brasil não possui - ainda - um público esportivo crítico como acontece na Europa, por exemplo.

Aqui os torcedores querem ver como vai a Ferrari ou se o carro do Rubinho vai quebrar.

Mas isso, eu acredito, passa também pela maneira como a Fórmula 1 foi transmitida ao longo dos tempos.

Se fosse transmitida à maneira inglesa, por exemplo, os elespectadores seriam "reeducados" quanto aos aspectos técnico-críticos da categoria.

Mas esse é um processo longo a ser feito. Precisaria uma mudança drástica na maneira de transmitir da Rede Globo. E, considerando o pouco tempo que eles dispõem na grade, é uma cobertura quase impossível de ser feita. Infelizmente...

Abraços, Felipe. Belo artigo!

Anônimo disse...

Bruno Flávio disse:

A forma como a Globo transmite a F1 sempre me irritou. Mas o Felipe foi perfeito nas considerações. Assistir F1 é muito diferente de assistir uma partida de futebol. No futebol, você assiste esperando uma jogada bonita e um gol. Só. A única informação técnica importante é a escalação do time. Para uma minoria, o esquema tático.

F1 é diferete... você precisa acompanhar, ler as notícias durante a semana, saber o que está rolando no circo. Já se assiste uma corrida, pensando na próxima... é preciso conhecer 10 times, 20 pilotos, reservas, motores, pneus, combustível, enfim... meter o bedelho em partes técnicas.

Na corrida, é preciso prestar muita atenção, acompanhar os tempos, estudar possibilidades, avaliar as estratégias, ou seja, assitir F1 vai muito além de simplesmente olhar para a tela e escutar os narradores da TV do Jardim Botânico.

Uma única coisa realmente me entristece com as narrações de Galvão e cia.: eles não estudam!!! Puxa... se vangloriam de estar nisso há mais de 3 décadas, mas cometem erros imbecis, infantis, típicos de quem chegou ontem no negócio.

Penso que a Globo mantém a F1 apenas para não deixar ela ir para outra emissora. Mas o time que faz a transmissão, com ou sem apoio, deveria buscar se informar mais, ler durante a semana, pesquisar, enfim, para de cometer erros bobos.

Mas dou o braço a torcer que os erros que me refiro não são perebidos por 95% do público que assiste a F1 - aquele público que, como o Felipe Maciel disse, apenas sabe que o carro vermelhinho é da Ferrari...

Ah... como é difícil ser minoria...

Fábio Andrade disse...

*aralho, esse um ponto que definitivamente carecia de uma abordagem.

Sou da turma do colega aí de cima. Eu normalmente sou um cara controlado com quase tudo, mas o "modo Globo" de transmissão da F-1 e a abordagem da categoria que é feita em seus telejornais (especializados em esportes ou não) me irrita muito. A transmissão de F-1 da Globo é, visivelmente para o grande público. É apressada, atabalhoada e superficial, isso sem falar no evidente olho gordo que o locutor faz pra cima dos adversários dos brasileiros.

Acho que é na transmissão da Globo que reside um dos grandes problemas do modo de ver F-1 dos brasileiros. A Globo transmite F-1 como se fosse futebol, e isso explica porque grande parte dos espectadores entendem F-1 com o olhar reducionista de um Fla-Flu.

Mas isso não é exclusividade da F-1 não. Ontem observei que a mania de começar as transmissões esportivas no limite do horário levou a Globo a perder a execução dos hinos de Argentina e Brasil no protocolo do jogo.

Anônimo disse...

o Fábio falou tudo agora em seu texto, muito bom (como sempre). Mas agora... esse vídeo do Kimi.... tow dando mta risada aki kkkkk Flw

Anônimo disse...

Saudações Felipe,

Excelente Post,

Realmente a transmissão da corrida só começa em cima da hora e por aí vai.

Sobre o Martin Brundle, lembrei do Gp do Brasil de 2006, onde era a despedida do Schumacher. Ele foi perguntar ao Kimi o quê ele estava fazendo na hora que os outros pilotos faziam uma homenagem ao alemão antes da corrida.
O Raikkonen foi tão franco que deixou o repórter desconcertado, rsrsr! O Kimi estava no banheiro!

Você lembra dessa?

Aliás, fiz até uma post sobre o Kimi essa semana. Quando puder conferir.
http://historiasevelocidade.blogspot.com/2009/09/uma-opiniao-kimi-raikkonen-o-iceman.html

Abs.

Unknown disse...

excelente comparação Felipe, imparcial e fundamentada, gostei muito.

o público brasileiro da F1 tem regredido muito, especialmente depois da morte do idolo, mais ainda tem gente que acorda cedo pra asistir

e mesmo as vezes que a narração é simples, o objetivo é esse mesmo, cativar novos torcedores. uma pena que a cobertura pré-corrida seja tão curta.

acho que resumos no fantástico e no jornal estão ajudando a melhorar a audiencia. mais ainda é pouco

e brundle, que coisa feia: especialmente vindo de um jornalista reconhecido que com certeza não terá a mesma dificultade da moça para achar um espaço de entrevista com Vettel

Felipe Maciel disse...

Puxa, concordo com absolutamente tudo o que vocês acrescentaram aqui nos comentários.

E, Bruno Flávio, às vezes tenho a mesmo impressão que você: a Globo faz esse feijão com arroz só para continuar com a F-1 e não deixar que outro canal assuma as transmissões. A Record já ameaçou abocanhar a categoria, mas não foi feliz na tentativa.

Parece que a Globo leva a Fórmula 1 na base do "ruim com ela, pior sem ela".

Já nós podemos usar o mesmo raciocínio dirigindo-o à própria emissora: ruim com a Globo, mas com a Record tinha tudo para ser ainda pior.

Realmente, ser minoria não é mole.

Leandrus disse...

Realmente, a cobertura da tv inglesa é simplesmente completa. Pré-corrida de quase 45 minutos, pós-corrida com 30 minutos com direitos a highlights da prova, entrevistas com pilotos ou chefes de equipes no estúdio da BBC...enfim, dá de 1000 a zero na Globo.

Até o GP da Turquia desse ano, me contentava em gravar a corrida da Globo em dvd. Agora faço questão de baixar o pré e pós corrida da BBC para depois juntar com o review oficial da FOM e a corrida da Globo, que talvez tenha como trunfo não passar comerciais durante a prova (lembro que em 2006 a ITV passava comerciais sim durante a corrida; como não sei como ficou o esquema após a volta da F-1 à BBC, não sei se as provas ainda são interrompidas para a entrada de rápidos comerciais).

E o Brundle realmente foi nada gentleman ali. Parece que até o Vettel ficou surpreso com a atitude dele. Mas ainda assim a cobertura que ele faz no grid é fantástica - pena que tem que apelar para isso...

Anônimo disse...

O Brundle não foi nada cavalheiro, mas vcs já devem ter visto a entrevista do dele com o Raikkonen no GP do Brasil em 2006, hilário! Procurem no youtube, tem até legendado! O cara podia ir dormir sem essa!

Felipão disse...

tem uma porção de jornalista que, mundo afora, reclama do Brundle. Até cotovelada ele já deu pra conseguir uma entrevista...

uma vez, ele fez o tal do gridwalk pelas entranhas da emissora...

o resultado ficou muito legal...

http://www.youtube.com/watch?v=LiwXaP9-BZs