Quem já teve a oportunidade de assistir a um GP inteiro com a narração britânica logo nota que é uma das melhores do mundo, se não a melhor. Tem um corpo rico de profissionais cuidando das informações, e tenta se aproximar da inalcançável imparcialidade sugerida pela cartilha jornalística.
Aqui no Brasil, o canal responsável não dá o mesmo valor à categoria. O destaque é o piloto local. Na verdade, a culpa não chega a ser da emissora, ela apenas atende o que o grande público quer, e este público normalmente tem conhecimento suficiente para reconhecer que os carros vermelhinhos são chamados de Ferrari.
A transmissão tem início dez minutos antes da largada. Na Europa, há países que começam os trabalhos com meia hora de antecedência, há quem chegue a uma hora. Aqui, o mesmo só acontece quando o GP é do Brasil.
Estes nossos míseros minutos são o bastante para o locutor dizer boa tarde aos comentaristas e pedir o áudio da entrevista de Becker/Gil com os brasileiros. Uma coisa muito mais interessante faz o canal inglês: põe um de seus repórteres, Martin Brundle, perambulando pelo grid de largada em busca de curtas entrevistas com pilotos e personalidades. Mas isso todo mundo sabe.
O problema é que o ex-piloto não chega a ser propriamente um exemplo de delicadeza no exercício de sua atividade. Basta reparar no vídeo acima, da etapa de Valência. Na cara dura, o cidadão fura a fila ao vivo em rede nacional, para a surpresa da repórter da vez, admirada com seu ato de nobreza e cavalheirismo.
Apesar de algumas cenas estranhas, o famoso "gridwalk" de Martin se tornou sua grande marca e definitivamente consiste num trabalho difícil, talvez até mesmo cansativo. Se não soubesse usar o peso do nome de sua emissora, acabaria sendo visto como o "mala" do circo. Mas o ex-piloto sabe fazer. Às vezes se excede, mas sabe fazer.
10 comentários:
"Na verdade, a culpa não chega a ser da emissora, ela apenas atende o que o grande público quer, e este público normalmente tem conhecimento suficiente para reconhecer que os carros vermelhinhos são chamados de Ferrari."
Concordo! O Brasil não possui - ainda - um público esportivo crítico como acontece na Europa, por exemplo.
Aqui os torcedores querem ver como vai a Ferrari ou se o carro do Rubinho vai quebrar.
Mas isso, eu acredito, passa também pela maneira como a Fórmula 1 foi transmitida ao longo dos tempos.
Se fosse transmitida à maneira inglesa, por exemplo, os elespectadores seriam "reeducados" quanto aos aspectos técnico-críticos da categoria.
Mas esse é um processo longo a ser feito. Precisaria uma mudança drástica na maneira de transmitir da Rede Globo. E, considerando o pouco tempo que eles dispõem na grade, é uma cobertura quase impossível de ser feita. Infelizmente...
Abraços, Felipe. Belo artigo!
Bruno Flávio disse:
A forma como a Globo transmite a F1 sempre me irritou. Mas o Felipe foi perfeito nas considerações. Assistir F1 é muito diferente de assistir uma partida de futebol. No futebol, você assiste esperando uma jogada bonita e um gol. Só. A única informação técnica importante é a escalação do time. Para uma minoria, o esquema tático.
F1 é diferete... você precisa acompanhar, ler as notícias durante a semana, saber o que está rolando no circo. Já se assiste uma corrida, pensando na próxima... é preciso conhecer 10 times, 20 pilotos, reservas, motores, pneus, combustível, enfim... meter o bedelho em partes técnicas.
Na corrida, é preciso prestar muita atenção, acompanhar os tempos, estudar possibilidades, avaliar as estratégias, ou seja, assitir F1 vai muito além de simplesmente olhar para a tela e escutar os narradores da TV do Jardim Botânico.
Uma única coisa realmente me entristece com as narrações de Galvão e cia.: eles não estudam!!! Puxa... se vangloriam de estar nisso há mais de 3 décadas, mas cometem erros imbecis, infantis, típicos de quem chegou ontem no negócio.
Penso que a Globo mantém a F1 apenas para não deixar ela ir para outra emissora. Mas o time que faz a transmissão, com ou sem apoio, deveria buscar se informar mais, ler durante a semana, pesquisar, enfim, para de cometer erros bobos.
Mas dou o braço a torcer que os erros que me refiro não são perebidos por 95% do público que assiste a F1 - aquele público que, como o Felipe Maciel disse, apenas sabe que o carro vermelhinho é da Ferrari...
Ah... como é difícil ser minoria...
*aralho, esse um ponto que definitivamente carecia de uma abordagem.
Sou da turma do colega aí de cima. Eu normalmente sou um cara controlado com quase tudo, mas o "modo Globo" de transmissão da F-1 e a abordagem da categoria que é feita em seus telejornais (especializados em esportes ou não) me irrita muito. A transmissão de F-1 da Globo é, visivelmente para o grande público. É apressada, atabalhoada e superficial, isso sem falar no evidente olho gordo que o locutor faz pra cima dos adversários dos brasileiros.
Acho que é na transmissão da Globo que reside um dos grandes problemas do modo de ver F-1 dos brasileiros. A Globo transmite F-1 como se fosse futebol, e isso explica porque grande parte dos espectadores entendem F-1 com o olhar reducionista de um Fla-Flu.
Mas isso não é exclusividade da F-1 não. Ontem observei que a mania de começar as transmissões esportivas no limite do horário levou a Globo a perder a execução dos hinos de Argentina e Brasil no protocolo do jogo.
o Fábio falou tudo agora em seu texto, muito bom (como sempre). Mas agora... esse vídeo do Kimi.... tow dando mta risada aki kkkkk Flw
Saudações Felipe,
Excelente Post,
Realmente a transmissão da corrida só começa em cima da hora e por aí vai.
Sobre o Martin Brundle, lembrei do Gp do Brasil de 2006, onde era a despedida do Schumacher. Ele foi perguntar ao Kimi o quê ele estava fazendo na hora que os outros pilotos faziam uma homenagem ao alemão antes da corrida.
O Raikkonen foi tão franco que deixou o repórter desconcertado, rsrsr! O Kimi estava no banheiro!
Você lembra dessa?
Aliás, fiz até uma post sobre o Kimi essa semana. Quando puder conferir.
http://historiasevelocidade.blogspot.com/2009/09/uma-opiniao-kimi-raikkonen-o-iceman.html
Abs.
excelente comparação Felipe, imparcial e fundamentada, gostei muito.
o público brasileiro da F1 tem regredido muito, especialmente depois da morte do idolo, mais ainda tem gente que acorda cedo pra asistir
e mesmo as vezes que a narração é simples, o objetivo é esse mesmo, cativar novos torcedores. uma pena que a cobertura pré-corrida seja tão curta.
acho que resumos no fantástico e no jornal estão ajudando a melhorar a audiencia. mais ainda é pouco
e brundle, que coisa feia: especialmente vindo de um jornalista reconhecido que com certeza não terá a mesma dificultade da moça para achar um espaço de entrevista com Vettel
Puxa, concordo com absolutamente tudo o que vocês acrescentaram aqui nos comentários.
E, Bruno Flávio, às vezes tenho a mesmo impressão que você: a Globo faz esse feijão com arroz só para continuar com a F-1 e não deixar que outro canal assuma as transmissões. A Record já ameaçou abocanhar a categoria, mas não foi feliz na tentativa.
Parece que a Globo leva a Fórmula 1 na base do "ruim com ela, pior sem ela".
Já nós podemos usar o mesmo raciocínio dirigindo-o à própria emissora: ruim com a Globo, mas com a Record tinha tudo para ser ainda pior.
Realmente, ser minoria não é mole.
Realmente, a cobertura da tv inglesa é simplesmente completa. Pré-corrida de quase 45 minutos, pós-corrida com 30 minutos com direitos a highlights da prova, entrevistas com pilotos ou chefes de equipes no estúdio da BBC...enfim, dá de 1000 a zero na Globo.
Até o GP da Turquia desse ano, me contentava em gravar a corrida da Globo em dvd. Agora faço questão de baixar o pré e pós corrida da BBC para depois juntar com o review oficial da FOM e a corrida da Globo, que talvez tenha como trunfo não passar comerciais durante a prova (lembro que em 2006 a ITV passava comerciais sim durante a corrida; como não sei como ficou o esquema após a volta da F-1 à BBC, não sei se as provas ainda são interrompidas para a entrada de rápidos comerciais).
E o Brundle realmente foi nada gentleman ali. Parece que até o Vettel ficou surpreso com a atitude dele. Mas ainda assim a cobertura que ele faz no grid é fantástica - pena que tem que apelar para isso...
O Brundle não foi nada cavalheiro, mas vcs já devem ter visto a entrevista do dele com o Raikkonen no GP do Brasil em 2006, hilário! Procurem no youtube, tem até legendado! O cara podia ir dormir sem essa!
tem uma porção de jornalista que, mundo afora, reclama do Brundle. Até cotovelada ele já deu pra conseguir uma entrevista...
uma vez, ele fez o tal do gridwalk pelas entranhas da emissora...
o resultado ficou muito legal...
http://www.youtube.com/watch?v=LiwXaP9-BZs
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