quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Mas por que Piquet denunciou Briatore?

Pois é, foi o Nelsinho quem enviou o documento à FIA numa delação premida: contou tudo e em troca se livrou de qualquer pena.
Boa análise de Ivan Capelli, concluindo que não foi apenas uma reação à demissão. Vale lembrar que o Nelsão frequentava o paddock avisando que uma bomba estava por vir. Algum outro fator deve ter motivado a denúncia. Até porque, se todo piloto revelasse os podres de sua equipe após uma relação desgastada, a F-1 seria um verdadeiro caos.
Muitos dizem por aí que Nelsinho pode ter se queimado para o resto da vida, e seu ressurgimento na categoria é quase impossível.
Bem, muitos disseram que o Mosley não teria cara de reaparecer no paddock ou numa sala de reunião da FIA após o escândalo sado-masoquista. O tempo cuidou para que tudo voltasse ao normal.
Por isso, não cravo portas fechadas para Piquet na Fórmula 1. É uma questão de esperar a poeira baixar. E a visão do público é diferente da visão de um dono de equipe. Nós sequer imaginamos o que se passa nos bastidores, talvez ele esteja com vaga garantida para 2009 e pouca gente desconfia. Embora burburinhos já tenham dado conta de conversas com a Campos...
Quanto às críticas pesadas ao Piquet, vê-se uma quantidade absurda de pessoas condenando sua submissão à ordem de Flavio. Porém, muita gente no lugar do Nelsinho faria o mesmo. Salvar o emprego costuma ser prioridade, mesmo que um ato anti-ético calculado seja (ou pareça ser) a solução. Aliás, se quisermos exaltar a ética, é melhor trocarmos de esporte.
Não estou inocentando ninguém, apenas comentando que ele teve seus motivos. Assim como Schumacher, Senna e Prost também tiveram os seus, e não foi no muro que eles miraram.
O intrigante mesmo é entender que razão teve para jogar tudo no ventilador. Raiva e rancor pelo tratamento recebido dentro do time são pouco. Nesta estou com o Capelli: algo mais deve haver por trás dessa história. Prefiro não levantar hipótese aqui porque a chance de erro é enorme. Mas aí tem coisa.

16 comentários:

Anônimo disse...

Ética e caráter, Felipe, ou você nasce com ou nasce sem. Salvar o emprego costuma ser prioridade, mas eu - e aposto que a maioria das pessoas que lê este blog - jamais arriscaria minha vida, ciente de que poderia estar arriscando a vida de outras pessoas, para salvar o emprego. Até porque, se você leu a tradução integral do depoimento de Nelsinho, ele próprio admitiu que não houve nenhuma promessa do tipo "se você não bater, não renovamos seu contrato".

Por mais que isso estivesse nas entrelinhas, eu não me sujeitaria a algo assim.

E olha, já tive vários empregos e nunca aceitei nenhuma situação semelhante, em nenhum aspecto. Talvez por isso eu não consiga me firmar em nenhum emprego, mas pelo menos durmo com a consciência tranquila e ciente de que meu caráter e minha ética, ninguém compra. Se Nelsinho se sujeitou a isso, merece, sim, ser expurgado da F-1.

E mais: você citou Schumacher, Senna e Prost. De todos eles, Senna é o único que agiu por vingança, o que não o isenta de culpa, mas dá ao menos uma justificativa plausível. Como eu disse, não o isenta de culpa. Já Schumacher em 94/97 e Prost em 89 bateram por desespero e necessidade de conquistar a vitória a qualquer custo.

Senna foi vítima de uma injustiça em 89, não teve o respaldo da FIA, cujo presidente anos depois admitiu ter favorecido Prost, e "fez justiça com as próprias mãos". Repito, não exime sua culpa, mas dá uma justificativa.

Piquet foi fraco e sem caráter - uma surpresa, sendo filho de um dos caras de personalidade mais forte da F-1 recente. Além disso, sua gracinha para salvar o emprego pode ter custado o título mundial de Massa.

Não é pouco.

Anônimo disse...

Ah, só pra completar: os três gênios que você citou aceleravam pacas... o Nelsinho, nem isso! Hahahaha... ou seja, há motivos de sobra pra que ele não continue na F-1.

Mas concordo quando vc compara Nelsinho a Mosley. É um ponto de vista diferente e que faz sentido. Pode ser que eu esteja errado... mas o f*da é que ninguém quer "dedo duro" por perto, né?

Felipe Maciel disse...

Hugo, se me permitir discordar de sua frase "ética e caráter, ou você nasce com ou nasce sem", creio que o ambiente interfere muito no comportamento das pessoas.

A vida toda do Nelsinho foi brigar para chegar à F-1.
O episódio de Cingapura, na cabeça dele, era uma chance de se aproximar da renovação de contrato. Ele preferiu fazer.

Veja o Rubinho. Vive dizendo que vem de uma família que pensa assim e assado e tem todos aqueles valores... Mas na hora de colocar a vaga da Ferrari em risco, cedeu. Na última curva, mas cedeu.

Na Fórmula 1, a pressão é coisa de outro mundo. Acho difícil comparar um emprego comum com o mundo da F-1. Nós temos o costume de criticar muito certos pilotos (falo de maneira geral), mas será que nosso comportamento seria melhor se estivéssemos lá? Podemos estimar, porém não dá para imaginar plenamente como agiríamos. O ambiente é muito diferente daquilo que nos acostumamos aqui fora.

Num caso extremo, como essa polêmica, é que passamos a pensar mais a fundo sobre essas coisas. Por isso não condeno o Nelsinho. Prefiro condenar mesmo o Briatore, que foi a mente brilhante da história.

Abração

Nick Mason disse...

Concordo totalmente que no caso da F1 é uma situação completamente de um emprego "normal". Na F1 o patrão ta ali na orelha do cara as 70 voltas de uma corrida, tirando as questões de reuniões pré, pós-corridas... é algo que o cara vive 100% daquilo. Isso de crucificarem o Nelsinho porque ele resolveu expor o caso é hipocresia, ainda mais do Barrichello com aquela frase "Se o Nelsinho fez isso, ele não deveria estar na F1", porque uma ordem do chefe é a mesma para todos, assim como ele recebeu uma ordem para deixar o Schumacher passar, o Nelsinho recebeu uma pra interromper a corrida pra entrar o safety car. A razão pela qual o Nelsinho acatar a ordem é totalmente compreensível. Se foi ético ou não, ai é outro assunto, mas na minha opinião, uma ordem de um superior é muito, mas muito difícil de ser negada, porque vc sabe que vai se prejudir.

Anônimo disse...

Concordo com você, Felipe, quando diz que a pressão na F-1 é realmente coisa de outro mundo. Realmente não há como comparar com nenhum outro emprego, mas acredito que varie muito de situação, também. A busca na F-1 é em troco de muita riqueza e muito sucesso, pessoal, financeiro, esportivo ou profissional - ou todos juntos. De todas as partes. Ninguém entra pra perder.

Mas o cara que, como eu, trampa pra sustentar um filhinho, muitas vezes se sente bem mais pressionado ao ser vítima de injustiças no emprego do que um cara que está em busca de sucesso pessoal, financeiro e profissional na F-1. Por isso que eu disse que varia muito de situação para situação, e também da forma como cada um encara seus problemas e suas situações. Mas olhando de forma geral, você tem toda razão: a pressão no mundo da F-1 é gigantesca.

Agora quero apenas fazer um adendo: parece quase impossível separar Barrichello de Nelsinho neste caso, já que ambos foram protagonistas de ordens de equipe igualmente vexatórias (você disse que "até que provem o contrário, Nelsinho é vítima", mas ele próprio se delatou... o que já o torna cúmplice... e, se na melhor das hipóteses, tudo isso realmente não tiver acontecido, nem assim ele será vítima: passará por um grande mentiroso e sua imagem ficará ainda pior).

O vínculo entre os dois brasileiros ficou ainda maior quando ontem, Rubinho disse que "se o Nelsinho realmente fez isso, não merece estar na F-1".

Lembremos de Massa, que em sua primeira temporada na F-1, em 2002, na Sauber, recebeu ordens de equipe para ceder a quinta posição a Nick Heidfeld, que vinha em sexto, no GP da Europa, salvo engano. Massa se recusou a fazê-lo. Foi demitido e substituído por Frentzen já na corrida seguinte.

Ficou um ano como piloto de testes da Ferrari. Voltou à mesma Sauber em 2004, quase por imposição. Em 2006, estreou na Ferrari. Em 2008, perdeu o título mundial por um ponto. Sua imagem está sempre em alta e ele é hoje um dos pilotos top da F-1.

Você pode argumentar que ele tinha "costas quentes", já que seu empresário é Nicolas Todt, por isso bateu de frente com uma ordem de equipe.

Mas nesse caso, creio que nenhum piloto gostaria de ficar uma temporada inteira parado. Nem de ser demitido, ou afastado, que seja. E, "costas quentes por costas quentes", Nelsinho é filho de um tricampeão mundial influente nos bastidores da F-1 - tanto que foi o primeiro a botar a boca no trombone no episódio de Cingapura.

Quando Massa perde, raramente culpa equipe, tempo, o chefe, o vento, a embreagem. Eu, pelo menos, nunca o vi fazê-lo. Barrichello e Nelsinho são os extremos opostos.

Não seria mesmo uma questão de ética e caráter, analisando deste prisma? Massa também foi bastante pressionado e soube dar a volta por cima. Soube dar a vitória para Raikkonen no GP do Brasil de 2007, para no ano seguinte ver o finlandês dar a ele a segunda posição no GP da China.

Eu mantenho minha opinião sobre ética e caráter. Mas esse debate é interessante demais, porque, como você disse, atiça o lado emocional e a personalidade de cada um de nós, nos leva a reflexões. Confesso que tenho refletido muito sobre tudo isso, e suas colocações me fizeram refletir ainda mais.

É muito legal poder ter debates assim em alto nível.

Abração, véio!

Willian disse...

Como disse o Capelli, essa história ainda agora soa muito estranha.
É difícil de acreditar que somente a demissão tenha sido o motivo para Piquet abrir o bico.
Eu acredito que ainda vá surgir muita informação nova pela frente nessa história...

Felipão disse...

Concordo que tem algo por trás, sim..

Algoque ainda não sabemos...

Afinal, será que o Briatore não imaginava que o Piquet poderia falar tudo???

Felipe Maciel disse...

Legal mesmo esse debate, Hugo...
Mas só uma coisa: eu não disse que Nelsinho é vítima de nada, não! Pelo contrário, disse que ele teve motivos para fazer e foi lá e fez.
Concordo com você que ele foi cúmplice da brincadeira toda...

Abraço a todos

Felipe Maciel disse...

Felipão, você tocou num ponto que eu já tinha pensado também.

Até o Galvão comentou que Nelsão estava no paddock arquitetando a bomba.

Outra coisa: o que o tricamepão disse ao Briatore para Nelsinho conseguir manter a vaga até a Hungria, já que foi demitido/readmitido antes dessa corrida?

Tenho pra mim que o Briatore foi encostado contra a parede, mas depois da Hungria resolveu pagar pra ver. E a denúncia logo aconteceu.

Só uma teoria aqui...

Anônimo disse...

Bruno Flávio disse:

Não é à toa que este é o melhor blog sobre F1 - somente discussões em alto nível. Parabéns ao Felipe Maciel e a todos os seguidores do blog.

Meu pitaco é apenas sobre as certezas que tenho:

Certeza 1: tem muito, mas muito mais coisas nessa história que nós, pobres mortais, podemos imaginamos.

Certeza 2: o Nelsinho é só a bola da vez. Nestes 60 anos de F1, muita gente já fez coisa igual ou pior em termos de "ética". E muitos outros farão. Dinheiro e fama balança os valores éticos de qualquer um. O que muda de uma pessoa para outra é só o montante que irá corrompê-la. Uns se corrompem por mais, outros por menos.

Certeza 3: o Nelsinho tem culpa. Mas não sou eu que vou culpá-lo. Eu faria o mesmo, se acreditasse que isso iria me manter na F1. Se fosse para ser campeão, bateria no adversário, pediria meu 2o piloto para bater, colocaria tachinhas no banco dele, enfim...

Mas, cada um cada um...

Leandro Almeida - Blitz F1 disse...

É bom ver as opniões, e engraçado como a verdade de cada um se mistura com o sentimento que essa bomba causa no grande publico. Revolta? Desanimo? Satisfação?... São muitos... e isso acredito que nos dá o direito de afirma em qualquer circunstancia ou momento, o que acreditamos que é tudo isso. Então dizendo para vocês o que para mim é verdade, Nelson Piquet Jr. estava em um momento fraco da vida, se tornando facilmente manipulado por pessoas proximas a ele, principalmente aqueles que deveriam mostrar para ele o melhor caminho, e com isso, a importancia de uma batida programa foi reduzida a nada perante as promessas lhe feita. Um empresário, é alguem que busca para você os melhores caminhos, pensando no presente e no futuro, e você confia que ele está pensando em você, vendo os melhores caminhos. Não estou dizendo que se me mandarem pular da ponte, eu vou pular, mais dependendo do meu estado de espirito e se a pessoa tiver uma boa capacidade de convencimento me dizer que pular da ponte faz bem e la embaixo tem um rio fundo e calmo, provavelmente eu pularia.
Então viajei o bastante, intendo que todos esses fatos não são impossiveis de acontecer e que se Nelsinho conto agora isso tudo foi porque seu estado de espirito é outro, as pessoas que conhece a história estão lá dando uma força para ele, e tudo isso ja foi planejado para que o resultado seja o melhor possivel.

Abraçooo

Carlos disse...

Quero que o circo pegue fogo mesmo e tomara que tenha bastante podre para aparecer.A turminha que faz qualquer negocio(Barrichello e Nelsinho)desaperecem ano que vem.

Marcos Antonio disse...

Pra mim o nome Piquet se manchou e acredito que em condições normais Nelsinho não seria contratado por equipe alguma, a não ser se comprar a vaga.
E acredito que por mais pressão que você tenha, a seu caráter sempre pesa no final. Se Nelsinho aceitou apenas pra ter seu contrato renovado, acho uma grande calhordice,assim como achei a do Barrichello na época. A F1 não tme santos, mas isso a ideia e quem se submeteu a ela, mostra que a categoria chega a seu momento mais sujo,pois é escandalo atrás de escândalo de 2007 pra cá

Unknown disse...

Imagino que o por trás seja uma ultima vingaça do Max Mosley, que com a denuncia do Piquet nas mãos não titubeou em dar inocência ao rapaz e jogar o Briatore contra o muro da curva 14 da FIA.

A coisa esta tão escrota que o italiano diz ser pivô de uma separação de um caso homossexual do brasileiro.

Loucos por F-1 disse...

Concordo com a maioria, algo mais tem por trás disso tudo. Mas também estou com o Hugo em vários pontos citados.

Toda a trajetória de Nelsinho na Fórmula 1 mostrou que ele nunca esteve preparado para estar lá. Chegou ao ponto de fazer qualquer coisa pela vaga na equipe. Ele sempre teve tudo na mão, acho que faltou um pouco mais de ralação. Nunca gostei dele e agora não gosto mais ainda. É um epsódio que envergonha o automobilismo nacional.

Abraço!

Leandro Montianele

Anônimo disse...

O que o Nelsinho fez é feio? É. Ele foi fraco? Foi.

Mas eu não vou critica-lo, por que eu não sei se no lugar dele, eu faria diferente ou exatamente igual. É muito fácil falar em caráter, honra, agora, depois que a M#$da aconteceu, e no conforto do lar. Só estando lá, na Fórmula 1, e sendo pressionado pelo chefe filho da p... para saber o que é o certo ou errado. Por isso que o senhor Rubens Pé de chinelo, não tem o direito de falar absolutamente nada sobre o episódio de Cingapura. Seu passado é sujo!


Continuo torcendo pelo Nelsinho, que ele tenha um cockpit em 2010, e que possa mostrar seu talento.