quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Memória Blog F-1: Pequenas Notáveis



FÁBIO ANDRADE



Pré-temporada combinada com a completa falta de testes ou novos lançamentos de carros para 2010 tornam o noticiário da Fórmula-1 enjoado e repetitivo. Multiplicam-se como coelhos as manchetes sobre a embaraçosa situação da USF1 e da Campos e sobre o duro (e, na minha modesta opinião, desnecessário) comunicado emitido pela Ferrari, comunicado que também tem ligações com a situação das equipes pequenas que ainda não demonstraram capacidade de alinhar no grid no dia 14 de março no Barein.

Equipes pequenas na corda bamba por causa de falta de dinheiro não são propriamente uma novidade na F-1. A saga das pequenas existe desde que a introdução sistemática de inovações tecnológicas de ponta se tornou regra e jogou para as alturas o investimento necessário para alcançar níveis satisfatórios de competitividade. Equipes artesanais e com poucos patrocínios simplesmente não conseguiam chegar perto de gigantes como Williams, McLaren e Ferrari e é seguro dizer que essa verdade existe na F-1 há, pelo menos, 25 anos.

Da mesma forma também é seguro afirmar que as equipes que fecham o grid são motivos de chacota e de toda sorte de caçoada, ao mesmo tempo em que dão certo charme e justificam a existência das grandes. Afinal, se existe uma melhor, deve existir alguma pior.

Para relembrar uma parte das pequenas notáveis que desfilaram pelas pistas do mundo, o Blog F-1 preparou um memorial das equipes pequenas que alinharam na F-1 na última década.


Arrows


Estreou no GP do Brasil em 1978 e existiu (leia-se “resistiu” sem prejuízo de sentido) até 2002. Sua melhor temporada deu-se em 1988, quando terminou o mundial de construtores na 5ª posição.

A Arrows passou pela F-1 e recebeu a indesejada fama de ser uma das equipes mais fracassadas de todos os tempos. Em 382 participações, a equipe não venceu sequer um grande prêmio.

Passaram pela equipe nomes como Andrea de Cesaris e até um campeão mundial, o britânico Damon Hill. Despedido da Williams mesmo depois de ser campeão em 1996, o azarado piloto carregou seu número #1 para a Arrows em 1997. E quase deu a equipe uma vitória.

Classificado em 3º no sábado, Hill tomou o 2º lugar de Jacques Villeneuve logo na largada do GP da Hungria de 97. Dez voltas depois ultrapassou a Ferrari de Michael Schumacher e liderou com folga até o fim, quando seu carro passou a apresentar um desempenho estranhamente ruim. Em duas voltas, devido a um problema mecânico, Hill perdeu os mais de 30 segundos de vantagem para Villeneuve, que venceu, deixando Hill e a Arrows num ingrato 2º lugar.



Anos depois veio o episódio da falência da equipe, um dos mais dramáticos da F-1. Em 2002, a Arrows não participou dos treinos livres de sexta-feira em Silverstone por não ter dinheiro para quitar suas dívidas com a fornecedora de motores Cosworth. Sua participação naquele GP da Grã-Bretanha esteve ameaçada até que patrocinadores socorreram a equipe e garantiram o time laranja na classificação e na corrida.



Soterrada pelas dívidas, a Arrows desapareceria de forma melancólica. Na corrida seguinte, em Magny-Cours, a equipe novamente não treinou na sexta. No sábado, cumprindo ordens da equipe, os pilotos Heinz Harald Frentzen e Enrique Bernoldi foram para o treino classificatório apenas e propositadamente para dar voltas lentas e não conseguirem se qualificar para participar do GP da França no domingo. A última participação da equipe numa corrida de Fórmula-1 foi no GP da Alemanha de 2002, em que nenhum dos carros laranja completou a prova.

Super Aguri


Possui um dos históricos mais sintéticos da F-1, não chegando nem a completar 3 temporadas.

Fundada pelo ex-piloto japonês Aguri Suzuki, a Super Aguri foi uma das divertidas surpresas da década. Funcionando como uma equipe “B” da Honda, a Super Aguri conseguiu a façanha de obter melhores resultados do que os de sua “matriz” durante a temporada de 2007.



Na lista de pilotos que integraram o elenco da equipe, não poderiam faltar os japoneses. Os atrapalhados Takuma Sato, Yuji Ide e Sakon Yamamoto representaram os orientais.

A Super Aguri participou de 39 corridas na Fórmula-1 e amealhou 4 pontos. O time japonês começou o mundial de 2008 em apuros depois que seu principal patrocinador não compareceu com o numerário acordado no contrato de patrocínio. Aguri Suzuki apelou para o socorro da Honda, o que possibilitou uma sobrevida à equipe do ex-piloto. Porém, após a 4ª corrida daquele ano, o GP da Espanha, a Honda cessou sua ajuda ao time “B” e a Super Aguri abandonou definitivamente o mundial.

Jordan/Midland/Spyker/Force India


Egresso de categorias como a F-3 e a F-3000 Européia, o irlandês Eddie Jordan apostou alto e montou na F-1 uma equipe batizada com seu nome. A Jordan estreou na categoria máxima no ano de 1991 para escrever uma das histórias mais interessantes do esporte a motor. Foi uma das poucas equipes pequenas a flertar com o sucesso na F-1.

No ano de estreia a equipe contava com os serviços do italiano Andrea de Cesaris e do belga Bertrand Gachot nos volantes. Os carros verdes patrocinados pela marca de refrigerantes 7Up causaram sensação pela beleza de sua pintura.



O destaque da equipe em seu primeiro ano na F-1, além do excelente 5º lugar no campeonato de construtores, foi a rápida passagem de um piloto alemão de nome Michael Schumacher, que participou de seu primeiro (e único pela Jordan) grande prêmio em Spa-Francorchamps.

A tradição em revelar talentos para a F-1 seguiu nos anos seguintes. Foi na Jordan que a então jovem promessa do automobilismo brasileiro estreou. Rubens Barrichello disputou suas primeiras temporadas na F-1 na equipe irlandesa. O piloto brasileiro apresentou resultados acima da média no GP do Pacífico (3º lugar na corrida) e chegou a cravar a primeira pole de sua carreira e da Jordan no GP da Bélgica de 1994.

Em 1996 a equipe mudou radicalmente seu esquema de cores ao ser patrocinada pela tabagista Benson & Hedges. A Jordan passou a ser reconhecida pelo amarelo que se tornaria marca registrada da equipe até o final de sua jornada.



Somente em 1998 veio a primeira vitória do time. Sob circunstâncias dramáticas, Damon Hill levou um carro da Jordan pela primeira vez ao lugar mais alto do pódio no GP da Bélgica, seguido por Ralf Schumacher, numa inesquecível dobradinha, conquistada sob forte chuva. A corrida ficou marcada ainda pelo maior engavetamento da história da F-1, logo na largada.

Em 1999 a Jordan chegou a incomodar as equipes grandes, vencendo duas corridas: o também chuvoso GP da França e o GP da Itália, ambos com o alemão Frentzen ao comando. Foi a melhor temporada da história da Jordan, que terminou o mundial de construtores no 3º lugar.

De 2000 em diante, entretanto, a Jordan não conseguiu repetir com consistência os êxitos e começou a apresentar sinais de decadência. De equipe média desafiante, a Jordan passou a ser definitivamente considerada uma equipe pequena. Em 2003 o time ainda beliscou uma vitória no confuso GP do Brasil, com Giancarlo Fisichella. Como curiosidade, foi a única vez na história da F-1 que o vencedor só foi reconhecido dias depois e o troféu entregue na corrida seguinte, em Ímola.

Daí em frente a Jordan mergulhou em parafuso rumo ao desaparecimento. O proprietário Eddie passou a leiloar os assentos em seus cockpits a pilotos pagantes para conseguir arcar com as despesas de uma equipe de F-1, já que os patrocínios escassearam. O time se arrastou até a temporada de 2005, quando foi finalmente vendido. Começou aí um período de grande rotatividade da estrutura que um dia fora da Jordan

Em 2006, a Jordan, nas mãos de outro proprietário, tornou-se Midland (MF1) e disputou apenas uma temporada sob essa designação, sem conquistar pontos.

Em 2007, novamente, vendida, a equipe tornou-se Spyker. Apresentou um desempenho fraco e terminou o mundial no último lugar. O momento mais marcante da rápida trajetória da Spyker foi a inacreditável cena protagonizada pelo piloto holandês Christijan Albers, que se equivocou em sua parada de reabastecimento durante o GP da França e saiu arrastando a mangueira de combustível.



Em 2008 a equipe mudou novamente de mãos, sendo comprada pelo indiano Vijay Mallya e tornando-se Force India, situação em que se encontra até hoje.

A hoje equipe indiana já conseguiu rendimentos heróicos, como o quase 4º lugar de Adrian Sutil no GP de Mônaco de 2008 e os excelentes resultados do último GP da Bélgica, em que Fisichella foi pole no sábado e chegou em 2º no domingo.



Amanhá o Blog F-1 segue lembrando de mais duas equipes pequenas que marcaram a F-1 nos últimos anos: Sauber e Minardi.

8 comentários:

marcos disse...

Fabão é você, cara! putz que legal vc postando novamente! bem vindo de volta, sempre com uma ótima qualidade!

abs!

marcelonso disse...

As equipes pequenas sempre sofreram muito para continuar ano após ano,mas equipes como USF1 e Campos chegam ao cúmulo do ridiculo.Agora tem essa da fusão dos times,só se for para um pegar os titulos vencidos do outro.

Bons tempos eram aquelas da Jordan,belos carros,belas pinturas!

abraço

Aderson Pereira disse...

Interessante a ultima foto deste post do Felipe Maciel:

Um carro vermelho com patrocinio da empresa aérea ETIHAD na asa traseira e uma mangueira de reabastecimento presa no lado esquerdo do carro.

Se não fosse a luz natural, dava pra enganar, né???


Mas falando sobre as pequenas, acho que o Eddie Jordan tentou seguir a mesma ideia do Frank Williams. Não se vender as grandes corporações.
Provavelmente algum grande fabricante tentou adquirir a Jordan quando ela tava "por cima da cocada preta", pra se estabelecer na F1.
Eddie não quiz e pagou o preço. Acabou vendendo a equipe de qualquer jeito.

Felipe Maciel disse...

O post não é desse tal de Felipe Maciel não senhor...

Ron Groo disse...

É Andrade, algumas delas eram realmente bem simpáticas e outras muito ascéptcas.
Eu particularmente ainda gosto muito do carro e da história da Super Aguri e não consigo me conformar com a forma com que acabou. Procurando um comprador desesperadamente.
Enquanto isto porcarias como a Campus conseguem se salvar.

Gabriel Pogetti Junqueira disse...

interessantissimo o post Fábio...
Muito legal relembrar as equipes pequenas e destaque para a simpática Jordan! (me lembro da passagem de Schumacher pela Jordan, com sua incrivel classificação)

Speeder_76 disse...

Bela história, bem contada. Contudo, quero fazer uma pequena ressalva: o Pedro Lamy nunca correu na Arrows. Na realidade, esteve duas meias épocas na Lotus e época e meia na Minardi, entre 1993 e 96. De resto, é uma excelente matéria. Parabéns!

Fábio Andrade disse...

Grato pela correção, Speeder.