quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Memória Blog F-1: Pequenas Notáveis II



FÁBIO ANDRADE



A continuação da trajetória das mais marcantes equipes pequenas da década termina hoje com a 2ª parte do memorial, com a Sauber/BMW Sauber e a Minardi/Toro Rosso:

Sauber/BMW Sauber


A trajetória do empresário suíço Peter Sauber no automobilismo começa bem antes da fundação da equipe Sauber de Fórmula-1.

Desde a década de 70, a Sauber já existia como fabricante de carros de corrida.

O crescimento dos negócios do suíço Peter culminou então numa proposta de parceria entre a Sauber e a gigante Mercedes Benz no Mundial de Esportes Protótipos. Em 1985, Sauber apresentava à multinacional alemã o projeto de um motor V8 supostamente revolucionário e que, segundo suas expectativas, faria a Mercedes brigar entre os grandes.



Até então, a Mercedes era nada mais do que uma grande fabricante de automóveis com repercussão mundial mas que estava fora das competições internacionais desde o acidente com o piloto francês Pierre Levegh, nas 24 Horas de Le Mans em 1955.

Iniciada a integração, a equipe chamava-se Sauber-Mercedes. A partir de 1989 a simbiose entre os fabricantes atingia tamanho nível que a Mercedes assumiu o domínio do patrocínio da equipe, pintando os carros da Sauber-Mercedes com o esquema de cores das flechas de prata tradicionais entre os anos 30 a 50.

Ainda em 1989 as flechas de prata venceram 7 das 8 etapas do mundial de Esportes Protótipos e sagraram-se campeãs.

Em 1990, novamente faturaram o título, novamente com um rendimento muito acima do da concorrência. O que não necessariamente era uma boa notícia.



O domínio desconcertante da Sauber-Mercedes tornava ainda mais difícil a já complicada situação do campeonato de Esportes Protótipos. Com pouca repercussão na mídia e cobertura televisiva nula, apesar de marcas famosas como Nissan, Mazda e Porsche, o campeonato estava na beira do precipício. A monotonia que se instalara na categoria desde que a Sauber-Mercedes resolvera ser mais de 2 segundos mais veloz do que os concorrentes não era exatamente o que a Esportes Protótipos precisava.

No ano seguinte, 1991, a organização preparou mudanças no regulamento para tentar acabar com a hegemonia indiscutível das flechas prateadas. As alterações, somadas a queda de confiabilidade do modelo C11, tiveram o efeito desejado, e a Sauber-Mercedes fechou a temporada (a penúltima da história da Esportes Protótipos. A atual correspondente da antiga Esportes Protótipos é a Le Mans Series) apenas no 3º lugar.

Passaram pela equipe suíço-alemã, nessa época, nomes como o do alemão Jochen Mass (com passagens pela F-1 nos anos 70, disputando mais de 100 gp’s; 2º maior vencedor da Esportes Protótipos, com 32 vitórias, superado apenas pelo lendário Jacky Ickx), o do francês Jean-Louis Schlesser (com passagens apagadas pela F-1 até 1988, quando se tornou célebre por tirar Ayrton Senna do GP da Itália na penúltima volta, deixando livre o caminho para uma dobradinha da Ferrari) e o do italiano Mauro Baldi (defendeu equipes como a Arrows e a Alfa Romeo na F-1 no começo da década de 80). Entre as jovens promessas, estiveram na equipe o austríaco Karl Wendlinger e os alemães Heinz Harald Frentzen e Michael Schumacher.


Em 1993, finalmente, Peter Sauber decidiu se aventurar na principal categoria do automobilismo mundial. No primeiro ano de F-1 a equipe Sauber produziu seus próprios motores sob supervisão da Mercedes. A temporada inicial da equipe esteve longe de ser ruim, ainda mais para uma iniciante: chegadas relativamente frequentes à zona de pontuação, 12 pontos conquistados, 6º lugar no mundial de equipes, empatada com a outrora favorita Lotus.

Na temporada de 1994 a Mercedes voltou a ter ligação direta com a F-1 depois de quase 4 décadas, fornecendo motores ao time de Peter Sauber. Os resultados da Sauber nessa temporada, entretanto, foram menos positivos. Apesar de obter os mesmos 12 pontos de 1993, a equipe terminou 1994 no 8º lugar.



Abandonada pela Mercedes (que decidira se unir numa parceria com a McLaren, equipe com maior potencial para brigar pelo título) em 1995 e 1996, restou a Peter Sauber optar pelos desacreditados motores Ford-Cosworth.

Em 1997 a Sauber anunciou mudanças em sua estrutura. Na área financeira, começava a parceria com a petrolífera malaia Petronas e na estrutura de competição a equipe ganhava o direito de correr com motores fornecidos pela Ferrari.

Campanhas discretas se seguiram entre os anos 1998 a 2000. Mesmo com uma série de passagens de pilotos experientes pela equipe, os resultados eram apenas medianos.



E por falar em pilotos, o elenco que passou pela Sauber merece destaque. Do começo da trajetória da equipe em 1993, até a recente compra do time pela BMW, a Sauber acumula um grande e diversificado histórico de volantes. De lar para nomes pouco empolgantes como Andrea de Cesaris, Karl Wendlinger, Heinz Harald Frentzen, Pedro Paulo Diniz e J.J. Letho, passando por nomes queridos no circo da F-1 como Jean Alesi e Johnny Herbert, a equipe se converteu numa usina de talentos no início da nova década, abrindo espaço para jovens como Nick Heidfeld, Felipe Massa, Kimi Raikkonen e Robert Kubica. Um plantel respeitável.

A Sauber resistiu na década de 2000 como equipe média e apresentou notável evolução, sobretudo em 2004. Felipe Massa chegou a curtir uma onda de líder ao passar duas voltas como 1º colocado do GP do Brasil. Essa temporada foi a melhor da história da equipe, ocasião em Massa e Giancarlo Fisichella conquistaram 34 pontos.



Em 2005, saiu Físico, entrou Villeneuve, e os resultados foram bem menos exuberantes no ano de despedida (temporária) da Sauber como equipe independente.

Em 2006, Peter Sauber parecia ter feito o negócio da China ao vender sua equipe para a montadora alemã BMW. Apesar de não ser mais o chefe, Peter manteve suas funções administrativas e seu nome na equipe, que passava a se chamar BMW Sauber. Em sintonia com Mario Theissein, foi desenvolvido um trabalho que resultou no crescimento gradativo do time. Em 2008, o melhor ano da parceria, a BMW Sauber esteve entre as três melhores equipes do ano, e a desejada vitória aconteceu no GP do Canadá, com uma dobradinha liderada pelo polonês Robert Kubica.



Na temporada de 2009 a mudança do regulamento não foi bem assimilada pela equipe, e a BMW Sauber se arrastou durante todo o campeonato. No fim do ano, a crise financeira abateu a montadora alemã, que se retirou da F-1. A equipe voltou ao comando de Peter Sauber e, segundo os resultados dos testes de pré-temporada, promete brigar pelo menos por pontos em 2010.

Minardi/Toro Rosso


Quando se fala em Minardi, não se está falando simplesmente de uma equipe pequena. Falar da Minardi é falar do símbolo máximo da metáfora do Davi enfrentando os Golias da categoria máxima.



Fundada em 1985 pelo italiano Giancarlo Minardi, com sede na cidade italiana de Faenza, a Minardi começou sua história no GP do Brasil daquele ano, o primeiro da temporada. De sua primeira corrida até a última, o GP da China de 2005, a Minardi disputou mais de 300 gp’s. Liderou o pelotão apenas uma única vez, no GP de Portugal de 1989, com o piloto italiano Pierluigi Martini a se aproveitar do pit stop desastrado do leão inglês Nigel Mansell.

Em 20 anos de F-1, a equipe de Faenza conseguiu modestos 38 pontos, nenhuma pole, nenhuma vitória e a simpatia de todos os personagens do circo. Torcida, jornalistas, pilotos e outros integrantes da trupe que seguia a F-1 pelo mundo eram simpáticos ao mais frágil do times da categoria. Uma vitória da Minardi poderia ter transformado o paddock numa gigantesca confraternização, já que a equipe era querida por todos.

Para se ter uma ideia da proporção da Minardi numa categoria dispendiosa como a F-1, em 2002, enquanto a Ferrari vivia seu auge, contando com orçamento na casa das centenas de milhões de dólares, a prima pobre de Faenza sobrevivia com uma verba quase 10 vezes menor. A dificuldade era tamanha, que a equipe chegou a fazer a pré-temporada com pneus de categorias-escola.

A Minardi foi uma equipe dos tempos em que as pequenas honravam seu nome e se contentavam em chegar 5 voltas atrás do vencedor.

Passaram pela Minardi muitos pilotos italianos, como o já citado Martini, Michele Alboreto, Andrea de Cesaris, Jarno Trulli e Giancarlo Fisichella. Entre os brasileiros, a passagem de Christian Fittipaldi será sempre lembrada pelo grande susto pelo qual passou o sobrinho do bicampeão Emerson no GP da Itália de 1993:

 

O piloto que conseguiu maior destaque depois de passar pela equipe italiana foi Fernando Alonso, que guiou pela Minardi em 2001.



Em 2005 a estrutura da equipe foi comprada pela Red Bull. O fim da Minardi mereceu lamentos de antigos pilotos do time, como os de um certo espanhol:
"Me sinto orgulhoso de ter feito parte da equipe Minardi em 2001. Acho que a Minardi foi um exemplo para muita gente. Agora, tudo se resume a uma questão de negócios, mas para a Minardi tudo era só uma questão de corridas de automóveis."

Fernando Alonso



De 2005 em diante a equipe passou a se chamar Toro Rosso e a orbitar em torno da equipe oficial da Red Bull. Apesentou resultados modestos até 2007, quando esteve perto de chegar ao pódio do GP da China. No ano seguinte surpreendeu ao obter rendimentos superiores aos da equipe “matriz”. No histórico GP da Itália daquele ano a sonhada vitória, que jamais veio nos tempos de Minardi, se materializou com a pole e a condução sólida de Sebastian Vettel, sob chuva, numa das pistas mais tradicionais do mundo.

4 comentários:

Speeder_76 disse...

Que bela história, Fábio. Parabéns! de facto, as histórias destas "pequenas geniais" como tu mesmo disseste, merecem ser recordadas.

Mas acho que ainda verei um Sauber a chegar ao pódio este ano. Não sei porquê, tenho essa sensação...

Felipe F. disse...

- A Minardi faz falta.

Jab's disse...

Muito bom essa série, faltando mencionar que a Spyker já foi pole. E eu queria muito ter visto uma Minardi ao menos num 3º lugar. Tomara que a Sauber com o japonês voador consiga um pódio (seria o primeiro pódio de um japonês?)

Fábio Andrade disse...

Jab's,

Na verdade a Spyker liderou sim uma corrida, o GP da Europa em 2007, mas o time não fez a pole naquela ocasião. A corrida foi muito tumultuada, com uma forte chuva acontecendo ainda nas primeira volta. Na confusão que se seguiu, com vários carros entrando nos boxes para trocar os pneus e com outros tantos aquaplanando no rio que se formou na Curva 1, Markus Winkelhock, da Spyker, apareceu em 1º. A corrida foi paralisada com o piloto da Skyper liderando, mas logo na relargada ele foi ultrapassado por Felipe Massa e Fernando Alonso.

Nesse link estão os 10 minutos iniciais da prova em Nurburgring: http://www.youtube.com/watch?v=67SQBKhjQNM