Alonso injustiçado?

Muita gente anda acusando o bicampeão Fernando Alonso de ter traído a McLaren ao revelar os e-mails trocados com o piloto de testes da escuderia inglesa, Pedro de la Rosa. As informações constadas nessas mensagens auxiliavam no acerto do carro compatível com os pneus Bridgestone. Elas foram obtidas por Mike Coughlan, ao receber os documentos ferraristas supostamente enviados por Nigel Stepney.

A FIA cancelou a audiência na Corte de Apelações, convocou a equipe de Ron Dennis para o importante evento no Conselho Mundial, onde o caso será apurado. Max Mosley resolveu apelar para chegar à verdade, ameaçando aplicar duras punições aos pilotos da McLaren caso não queiram colaborar com a investigação: "Nada será usado contra vocês, mas se a FIA descobrir que alguém está omitindo informações, vocês poderão sofrer sérias conseqüências".

Agora que revelou a história dos e-mails, Alonso é chamado de Judas por alguns, o que logicamente deixa o espanhol nitidamente irritando.

"O que estão fazendo comigo é uma injustiça! Não acusei a equipe. Apenas respondi à FIA com honestidade e profissionalismo. É estúpido pensar que fui atrás da FIA para prejudicar a McLaren, pois estaria prejudicando a mim mesmo. Ela mandou esta carta a todos os pilotos, perguntando se tínhamos algo. Foi nossa obrigação dizer que sim, não havia outra opção".

Ao ser novamente indagado, acrescentou: "Se isso terá efeitos no campeonato? Estamos vivendo esta situação há dois meses e vimos que não teve repercussões dentro da pista".

Enquanto isso, Pedro de la Rosa se cala, Lewis Hamilton mais ainda. O inglês copiava o acerto do carro do Alonso, que, por sua vez, - sabendo ou não da ligação de Coughlan com as dicas de acerto fornecidas por de la Rosa - usava informações da Ferrari.

Em torno de tudo isso, é evidente que surgem boatos.

Há quem diga que ele está a fim de deixar a equipe no fim do ano e por isso resolveu contar, pois assim que o time fosse duramente penalizado, faria proveito de uma cláusula no contrato que permite a rescisão, e em 2008 pode correr, ou pela Renault, ou pela Toyota. Outros, mais radicais, apostam que o espanhol levará um pé na bunda da equipe logo depois do GP da Itália e ficaria sem ter onde correr na Bélgica. Mas é claro que tudo isso é boato, o problema é que ninguém quer esperar o 13 de setembro para fazer especulações.

Ao que parece, algumas verdades devem ser reveladas no julgamento de quinta-feira e a McLaren aparenta estar mais enrascada do que nunca. Se os pilotos colaborarem, é provável que somente a pontuação no campeonato de construtores sofra alteração. Todos sabem que a exclusão da equipe não é uma idéia comercialmente agradável, seria um veredicto nada apreciável.

Em português claro, a FIA está apelando para a chantagem, e talvez o Alonso não esteja fazendo muito esforço para resistir a ela. Falar a verdade é a única opção de se manter na briga pelo título, e esta é a sua prioridade. Como o time vai sair dessa furada é uma preocupação secundária para o piloto que já afirmou ter como objetivo de carreira se tornar tricampeão de F1. Ele quer mais é conquistar o campeonato; o que vier depois, veio, ora... O que importa é que seu próximo passo é usar a virtude da honestidade para ajudar a desvendar o que todos queremos saber, unindo o que para nós é útil, ao que para ele é agradável. Judas? Não, Judas não. Ele está sendo chantageado, quer ele queira, quer não. Mas é bem capaz de ele estar querendo sim, só que não temos como saber...