E-mail falso

Foi-se o dia em que a atividade jornalística era comprometida com a seriedade e com a ética. Hoje você acaba lendo acontecimentos que não aconteceram, pelo menos não daquela forma, e raramente o responsável pela irresponsabilidade admite o absurdo que criou. Mas ainda assim há quem admita, o que não significa que ele deva ser perdoado, afinal o dinheiro que tinha que ser ganho com a sua "criatividade" já foi, no dia da publicação.

O jornal La Gazzetta dello Sport havia editado uma fajuta troca de e-mails entre os espanhóis Fernando Alonso e Pedro de la Rosa, na última sexta-feira. Nesta segunda, porém, o jornalista Pino Allievi reconheceu ter inventado a conversa, segundo ele, para dar mais credibilidade à sua materia.

"Fiz uma interpretação livre sobre o que eles poderiam ter dito em um e-mail", confessou à agência de notícias AP.

Na sequência, eis o conteúdo criado pelo italiano.

de La Rosa: "Do you know that I've found out how Ferrari is able to get its tires to work to perfection?" , ou "você sabia que eu descobri como a Ferrari consegue fazer seus pneus funcionarem com perfeição?"

Alonso: "I don't believe it", ou "não acredito".

de la Rosa: "Stepney told Mike Coughlan", ou "Nigel Stepney contou para Mike Coughlan".

Allievi é um dos jornalistas mais conceituados da imprensa especializada italiana, inclusive já chegou a escreveu alguns livros sobre a Ferrari e a história da Fórmula 1. É curioso saber que confessou o erro cometido, mas é difícil aceitar que tantos profissionais como ele são capazes de confundir credibilidade com mentira, ainda mais em relação a uma notícia referente ao escândalo da espionagem, como se a sujeirada não fosse grande o suficiente e precisasse ser aumentada para atrair o interesse do público leitor.

Edit: Só para esclarecer caso não tenha ficado claro para todos: Alonso e de la Rosa de fato trocaram e-mails, mas as palavras usadas por cada um deles não foram as mesmas publicadas pelo La Gazzetta dello Sport. Ainda não foi divulgado o verdadeiro conteúdo das mensagens, mas com certeza não foi igual à conversa reproduzida acima, pois o próprio jornalista reconheceu ter inventado letra por letra do diálogo, somente para dar mais crédito à sua matéria.